Vale arriscar o Parque do Iguaçu com a Estrada do Colono?

Enio Verri*

Estamos diante de mais uma discussão contra o meio ambiente, no mínimo sem prioridade, no meio de uma pandemia. A pauta da turma tenta “passar a boiada” para autorizar a reabertura da Estrada do Colono cortando o Parque Nacional do Iguaçu. Vale arriscar a segunda unidade de conservação mais visitada do país e o título de Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, para permitir danos ambientais com a criação da via?

O projeto de lei (PL984/2019) que cria a Estrada-Parque Caminho do Colono, de 18 quilômetros de extensão, corta os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema, no Paraná. O texto ainda inclui nova categoria de unidade de conservação, a Estrada-Parque. Ou seja, além de ameaçar a região, o projeto abre a possibilidade para que a mesma ação seja realizada em outras unidades brasileiras de preservação.

Não custa lembrar que a Estrada do Colono foi fechada em 1986, a pedido do Ministério Público Federal. Os prejuízos ao meio ambiente com sua reabertura são incalculáveis. Caso o texto seja aprovado, estaremos liberando uma estrada na última grande reserva de Mata Atlântica do país, do pouco dos 12,4% dela que sobreviveram no país.

Com a reativação da via, há também os riscos de aumento de caça, extração ilegal de palmito, crescimento do desmatamento na região, atropelamento da fauna e inclusive pode servir de passagem para o tráfico e contrabando. O que preocupa tanto as entidades ambientalistas, como moradores da região, gerando mobilizações contra a proposta em todo o Brasil.

Segundo o projeto Onças do Iguaçu, essa área de Mata, que foi mantida, contribuiu para o aumento de 27% da população de onças-pintadas, animal ameaçado de extinção.

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Para se ter ideia das perdas, o desmatamento pela extensão da estrada seria do mesmo tamanho que cerca de 50 campos de futebol. Seria um crime a derrubada de Mata Atlântica recuperada. Não é a toa que está sendo chamada de “Estrada da morte”.

O Parque Nacional do Iguaçu é símbolo para o Brasil, mas principalmente para o nosso Estado. Criado oficialmente em 1939, o Parque abriga as cataratas, fundamental para o turismo e economia do Estado. E registrou passagem de aproximadamente 2 milhões de visitantes no ano de 2019.

O turismo ecológico beneficia e gera emprego e renda para os municípios localizados ao redor do Parque. Serranópolis do Iguaçu, por exemplo, recebe ICMS Ecológico, que, corresponde a mais de 20% da receita do município.

O perigo está também na aceleração da tramitação do projeto na Câmara dos Deputados. No último dia 9, foi aprovado um requerimento de urgência para o PL, com 315 votos a favor e 138 contra. Ligando o sinal de alerta para todos de como deve ser a votação do projeto no Plenário da Casa.

É mais uma luta para a sustentabilidade ambiental contra as políticas desse governo. Não é absurdo o temor pelo Parque Nacional do Iguaçu, quando se tem uma gestão no país que aceita e até desmente os recordes de devastação e infrações socioambientais no Brasil. E ainda um ministro do Meio Ambiente investigado por crimes ambientais.

Portanto, será mesmo que vale a pena colocar o Parque Nacional do Iguaçu na rota do desmatamento com a reativação da Estrada do Colono?

*Enio Verri é deputado federal (PT-PR) e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).