A república não é de Curitiba, é do Paraná

O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB) recorre ao romance “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson, para explicar o protagonismo de figuras paranaenses na lava jato.

A república não é de Curitiba, é do Paraná

Luiz Claudio Romanelli*

“Haja hoje para tanto ontem” Paulo Leminski

Muita tinta e muito papel já foram gastos para tentar explicar a falta de protagonismo paranaense, a eterna Síndrome da Quinta Comarca de São Paulo. Ainda em 1930, Brasil Pinheiro Machado dizia que o Paraná- a última província criada pelo Império em 1853- não produzira “nenhum homem de Estado, nenhum sertanista, nenhum intelectual, nem ao menos um homem de letras.”

O então estudante de Direito, que mais tarde seria prefeito de Ponta Grossa, interventor do Paraná e historiador e professor de Historia, apontava a ausência de lideranças e a escassa participação paranaense em movimentos nacionais.

Demorou mais de 80 anos, mas finalmente o Paraná parece ter superado a velha síndrome.

Economia

Para o bem ou para o mal, é inegável que o Paraná não só está no mapa, mas está no centro dos acontecimentos.

Lula cunhou o apelido que iria popularizar a capital paranaense. Em março do ano passado, em conversa com a então presidente Dilma Rousseff, disse que estava assustado com a “República de Curitiba”. O grampo “vazou” e o apelido viralizou.

Passamos a ser a República de Curitiba, um território diferenciado onde se cumpre a lei, onde os bandidos não tem vez, para ufanismo e gloria dos curitibanos, em particular, e paranaenses, em geral. Ufa, finalmente deixamos de ser o patinho feio da Federação e passamos a ser o belo cisne negro encarnado por Sergio Moro.

Se pensarmos bem, vivemos na Republica do Paraná, estado que gerou tanto os “bandidos” como os “mocinhos” da Lava Jato- e que para espanto geral durante muito tempo conviveram em aparente harmonia, cada um na sua.

O ex-deputado federal e ex-líder do PP na Câmara, José Janene, morto em 2010, é apontado como um dos líderes do mensalão e um dos idealizadores do petrolão, era paranaense. Nasceu em Santo Inácio e se fez na vida pública em Londrina.

Era amigo e sócio de Alberto Youssef, também londrinense e que já nos anos 2000 foi preso pelo juiz Sérgio Moro por envolvimento no escândalo do Banestado. Fez acordo de colaboração, comprometeu-se a não reincidir em atividades ilícitas, acabou solto e deu no que deu.

Também paranaense (de Telêmaco Borba) é o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, indicado por Janene e amigo de Youssef. Protagonista inicial da novela lavajato, foi condenado a 12 anos de prisão, mas vai cumpri-los em prisão domiciliar nos termos da delação premiada.

Também é gente nossa- como diria Silvio Santos nos seus programas de auditório- o ex-deputado federal e ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados André Vargas, nascido em Assaí, que simbolizou a resistência petista ao Ministro Joaquim Barbosa, com o famoso gesto do punho cerrado, segue preso em Pinhais.

Henrique Pizolatto- também preso depois de ter fugido para a Itália, preso e extraditado- embora nascido em Concórdia, Santa Catarina, chegou a ser candidato a governador do Paraná em 1990.

José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil e ex-deputado federal, também tem ligações com o Paraná. Viveu clandestinamente durante a ditadura por muitos anos em Cruzeiro do Oeste, com a identidade falsa de Carlos Henrique Gouveia de Mello. Casou-se e teve um filho, o hoje deputado federal pelo Paraná.

Também paranaense (de Curitiba) é o suplente de deputado federal Rodrigo Rocha Loures, flagrado com a mala recheada com R$ 500 mil e que recém ganhou a liberdade por decisão do paranaense Edson Facchin.

Do outro lado da trincheira deste faroeste caboclo, estão vários paranaenses. O mais notório é Sérgio Moro. O juiz da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, que nasceu em Maringá, onde se formou em Direito pela UEM. Mais tarde, fez seu mestrado e doutorado na UFPR, onde atuou até há pouco como professor.

O procurador Deltan Dallagnol é de Pato Branco. O procurador Diogo Castor de Mattos é curitibano, ingressou na força-tarefa da Lava Jato em 2014, na época com 27 anos, sendo o mais jovem procurador do grupo.

João Pedro Gebran Neto, desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que julga recursos dos réus condenados na Operação Lava Jato, é curitibano.

E, finalmente, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF. Embora tenha nascido no Rio Grande do Sul, foi no Paraná que desenvolveu toda a sua carreira jurídica como advogado e professor titular de direito civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.

Assim como muita tinta foi usada para falar da Síndrome de Quinta Comarca de São Paulo, muita tinta se gastará no futuro para explicar como o Paraná foi capaz de produzir os mentores e operadores dos maiores escândalos que assolaram o país, e os protagonistas da investigação que apura e pune esses mesmos crimes, de outro lado. Tudo ao mesmo tempo, tal qual no romance de Robert Louis Stevenson, Dr. Jekill e Mr. Hyde (O Médico e o Monstro).

Boa Semana! Paz e Bem!

*Luiz Claudio Romanelli é líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná.

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