O mecanismo é o mesmo. Alguém mudou?

O jornalista Ricardo Cappelli afirma que Marcelo Freixo (PSOL) jamais seria o que se tornou sem sua parceria de sucesso com a dupla José Padilha e Wagner Moura. “Na sua campanha à prefeitura do Rio negou os partidos. Negou a política. Rejeitou tudo e todos. Mesmo contando com a simpatia de sempre e o apoio da Globo, acabou derrotado por Crivella”, escreve.

O mecanismo é o mesmo. Alguém mudou?

Por Ricardo Cappelli*

Professor de história e militante dos direitos humanos eleito deputado estadual pela primeira vez em 2006 com 13.547 votos, Marcelo Freixo jamais seria o que se tornou sem sua parceria de sucesso com a dupla José Padilha e Wagner Moura.

Não se trata de subestimar o belíssimo trabalho feito por ele na Comissão de Direitos Humanos da Alerj. Por seus méritos teria se firmado na cena política, ampliado sua votação, não há dúvida quanto a isso.

Para Picciani, presidente da Alerj, um membro do PSOL, partido que contava com apenas um deputado na casa, na Comissão de Diretos Humanos, era uma bela foto. O Italiano sempre foi profissional. Freixo foi lá e fez o seu trabalho, ponto pra ele.

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Daí a virar a personalidade na qual se transformou vai uma grande diferença.

Tropa de Elite 2 é o filme brasileiro mais visto na história. O próprio psolista participa como figurante em uma das cenas. O personagem inspirado nele, o professor Diogo Fraga, é o mocinho do filme.

Lembram como o filme acaba? Com um sobrevoo sobre a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional enquanto Wagner Moura afirma estar ali, na política e nos políticos, a causa de todos os males da nação.

A série “O Mecanismo”, um panfleto nojento, é apenas a continuação daquele sobrevoo.

José Padilha perdeu completamente a vergonha faz tempo. Foi filmar Robocoop em Hollywood e não se preocupa mais em esconder que virou garoto propaganda, o cineasta para América Latina do Departamento de Estado Norte Americano.

Freixo, por outro lado, andou participando de atos de apoio ao juiz Marcelo Bretas, aquele que diz ter a bíblia como o principal guia de suas ações, a versão carioca do juiz celebridade de Curitiba que de vez em quando vai buscar orientações “na América”.

Na sua campanha à prefeitura do Rio negou os partidos. Negou a política. Rejeitou tudo e todos. Mesmo contando com a simpatia de sempre e o apoio da Globo, acabou derrotado por Crivella.

Até aí continua demonstrando total sintonia com a narrativa do amigo que o fez superstar. Negar e atacar a política, reverenciar juízes justiceiros, colocar na corrupção e não nos interesses de classe a matriz de todos os problemas nacionais. É o discurso de Padilha, integral, vírgula por vírgula.

Não vi nenhum comentário do deputado sobre o novo serviço prestado por seu amigo cineasta ao Tio Sam. Seria importante.

Padilha é o mesmo de sempre, com a mesma narrativa, trabalhando para os mesmos de sempre. Se alguém mudou, e seria uma ótima notícia, não foi ele.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.