Morre Arthur Poerner, autor de “O Poder Jovem”, bíblia do movimento estudantil brasileiro

O jornalismo e a literatura perderam o brasileiro Arthur Poerner, aos 83 anos, no Rio de Janeiro.

Escritor, jornalista, professor e compositor carioca, Poerner ainda era bacharel em Direito e tinha pós-graduação em Comunicação.

Ele publicou em 1968 o livro “O Poder Jovem”, considerado a bíblia do movimento estudantil brasileiro – um das primeiras obras a ser proibida pelo regime militar.

Participante ativo da resistência à ditadura militar, entre 1964 e 1985, sobretudo no Correio da Manhã e no Pasquim, foi o mais jovem brasileiro a ter os direitos políticos suspensos por 10 anos, em 1966.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgou nesta sexta-feira (1ª de julho) uma nota de pesar pelo falecimento.

– É com muito pesar que nos despedimos hoje de Arthur Poerner, jornalista, escritor e grande aliado nas lutas estudantis. Poerner participou da resistência à ditadura militar, foi perseguido, exilado e jamais fugiu da batalha pela democracia e por um Brasil mais justo. Na história da UBNE, Arthur sempre esteve presente e deixará saudades – diz a manifestação da UNE.

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A UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) também deu adeus a Poerner.

– Arthur José Poerner, carioca nascido em 1 de outubro de 1939, foi importante escritor e jornalista brasileiro. Estudioso e entusiasta do movimento estudantil, escreveu o livro “O poder jovem: história da participação política dos estudantes brasileiros”, obra que sintetiza a história da luta dos estudantes brasileiros.

Poerner foi exilado durante a ditadura militar mas continuou seu trabalho como jornalista e escritor. Ao voltar para o Brasil trabalhou em diversos meios importantes e presidiu o Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro e o Museu da Imagem e do Som.

Arthur se manteve atualizado sobre as transformações do movimento estudantil desde o lançamento de sua obra. Mas, segundo ele, “o poder jovem continua atual. A luta continua”.
Arthur Poerner, presente!

Homenagem no perfil de Arthur Poerner no Facebook

Joel Benin, Arthur Poerner e Aldo Arantes - O Poder Jovem
Arthur Poerner, entre  o ex-líder estudantil Joel Benin e o ex-deputado Aldo Arantes, no lançamento do gibi do “Grêmio Livre” lançado pela UBES em 1990

Entusiasta, otimista e cheio de histórias, Poerner será lembrado pelo afeto e a entrega que dedicou a cada momento e a cada pessoa com quem trocou.

Ao longo de sua trajetória, a tônica de resistência, análise e crítica social tornaram-se marca registrada de suas publicações, o que fez com que se tornasse o mais jovem brasileiro cassado pelo Golpe Militar de 1964, perdendo seus direitos políticos por uma década.

Do inferno ao purgatório, saiu da prisão, no DOI-Codi no Rio, para o exílio na Alemanha, onde viveu por quase 14 anos. E lá, incansável, engajou-se na Campanha pela Anistia no Brasil.
São tantas memórias, tantas passagens, que seria uma ousadia tentar descrever, aqui.

Quem teve o prazer de ler as suas reportagens no Correio da Manhã, Pasquim e JB, entre outros jornais, ou se debruçou sobre seus livros, guarda o brilho nos olhos, as canções, gostos e cheiros que descrevia com maestria, nos tornando parte viva de suas histórias. Ah, que maravilha era viajar com ele!

Um apaixonado pelo protagonismo da juventude, publicou a “Bíblia do Movimento Estudantil”, O Poder Jovem. E, em seus dois últimos livros, retratou parte de sua vida.

Portelense, flamenguista e amante da boemia do Rio de Janeiro, Poerner escreveu, em parceria com Paulinho da Viola e Sérgio Cabral, livro em homenagem ao amigo Candeia. Com João do Vale, Baden Powell e Biafra compôs canções gravadas por Cristina Buarque, Eliana Pitman e Vanja Orico.

Fundou o PDT e se filou ao PT de Lula, em meio às acusações da mídia golpista. Foi companheiro do Apolonio de Carvalho e Augusto Boal, e era um admirador do PCdoB e da UNE, participando de todas as bienais realizadas pela entidade.

Com responsabilidade e afeto, ele acreditava na necessidade de reconduzir o Brasil para o caminho democrático, onde todas e todos tenham o direito a uma vida digna e plena! E, mesmo em tempos duros, como os atuais, nunca deixou de lutar: a Esperança há de vencer o medo!

Bacharel em Direito e pós-graduado em Comunicação, Poerner foi presidente do Museu da Imagem e do Som (MIS) e do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, além de professor de Jornalismo da UERJ, mas nunca se afastou das ruas, circulando do Leme, bairro do seu coração, à Olaria.

Quem nunca tomou um chope com o Arthur no Lamas – bar onde tinha mesa cativa -, no Taberna do Leme ou no Fiorentina – restaurante que o homenageou, dando o seu nome a um prato? Nosso amigo era também membro da Academia Brasielira de Cachaça! E, nessas andanças, sempre estava acompanhado da sua esposa Volga e filha Joyce, que embarcavam nas prosas etílicas!

Se tivéssemos o seu talento, escreveriamos livros e mais livros contando histórias incríveis de cada feliz encontro com ele. A mim, sua enteada, coube o prazer da inspiração que me levou ao jornalismo.

Poerner amou e se doou para todos nós e seguirá o fazendo!

Amava o seu irmão Carlito, como o chamava, e toda a sua família, de sangue ou não!

Conte pra gente uma história das boas! Faça um comentário nesta postagem! Mande uma foto com ele! Arthur Poerner merece todas as homenagens e assim o faremos!

Quem foi Arthur Poerner

Athur Poerner - vida e obra
Athur Poerner, presente! [Reprodução redes sociais]
Arthur José Poerner nasceu em 1º de outubro de 1939, no Rio de Janeiro. Filho de Arthur Poerner e Catarina Dickmann Poerner, cursou o primeiro grau em uma escola estadual em Santa Tereza. Começou a fazer o segundo grau no Colégio Amaro Cavalcanti, no bairro do Catete, mas foi para Angra dos Reis estudar no Colégio Naval em 1957. Em 1959, ingressou na Escola Naval, mas desistiu logo no ano seguinte. Em 1964, entrou para Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Poerner começou sua carreira em 1962, como repórter do Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro. Ainda no mesmo ano, foi redator da Standard Propaganda e, em 1963, do Correio da Manhã. Trabalhou também como articulista da revista Civilização Brasileira e como diretor da Folha da Semana – semanário do Partido Comunista Brasileiro –, motivo pelo qual acabou por responder a dois processos que o acompanharam durante vários anos.

Em 1965, Poerner foi co-autor da obra Assim marcha a família, com José Louzeiro e outros. Em 1966, lançou o livro Argélia: o caminho da independência. Ainda naquele ano, teve todos os seus direitos políticos suspensos pelo então presidente Castelo Branco. Dois anos depois, publicou O poder jovem: história da participação política dos estudantes brasileiros. O livro, até hoje, é o mais importante trabalho de síntese sobre a história do movimento estudantil no Brasil.

Em dezembro 1968, Arthur José Poerner trabalhava como repórter especial do Correio da Manhã com o pseudônimo de Marco Antônio, escrevendo uma coluna diária sobre diplomacia e política externa. No dia 13 desse mês, estava na redação do jornal quando o locutor Alberto Curi leu em cadeia nacional a notícia do AI-5. Neste período, começou a invasão na redação do jornal por militares.

Em 1970, em parceria com Jorge Coutinho, Haroldo de Oliveira e Leléu da Mangueira, Poerner participou da criação do espetáculo Cartola convida – que ficou em cartaz no Rio por dois meses. Foi também em 1970 que se tornou parceiro de Candeia, compondo Saudade, gravada pelo parceiro no LP Seguinte… Raiz Candeia.:

Poerner foi preso na redação do Correio da Manhã, em abril de 1970, e exilado na Alemanha, aonde chegou a se tornar redator e locutor da rádio Voz da Alemanha. Em Berlim, em 1972, compôs as canções Meu lamento e Vou-me embora, ambas gravadas somente em 1976, pela intérprete Eliana Pittman no LP Pra sempre.

Mesmo no exílio, o jornalista trabalhou como correspondente do diário carioca Tribuna da Imprensa, do semanário Pasquim e da revista Isto É. Em 1976, lançou o livro Memórias do exílio, em Lisboa, e, no ano de 1978, em Barcelona, escreveu o romance Nas profundas do inferno, baseado nas experiências de prisão política. O livro foi lançado na Espanha e recebeu o prêmio Verrina-Lorenzon de literatura na Itália, antes mesmo da publicação das duas edições esgotadas no Brasil.

Com a anistia, Poerner voltou ao Brasil em 1984 e trabalhou como editor de Cultura da TV Globo por um ano. Nesse período, escreveu para a revista Cadernos do Terceiro Mundo e para os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Foi presidente do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, entre 1987 e 1990, e também presidente do Museu da Imagem e do Som, entre 1991 e 1994. No ano de 1995 conclui sua pós-graduação em Comunicação Social com a tese Identidade Cultural na era da Globalização, publicada como livro dois depois.

Participou do Conselho de Carnaval do Rio de Janeiro e do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e lecionou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 1998, junto com nomes como Paulinho da Viola e Sérgio Cabral, lanço o livro-CD Candeia: eterna chama. Em 2000, fez parte de uma coletânea sobre a resistência à ditadura militar chamada Nossa paixão era inventar um novo tempo e recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, entregue àqueles que mais se destacam na comunidade brasileira.

Foi somente no ano de 2002 que a gravação original do samba Vou-me embora, escrito por Porner e Baden Powell, foi lançada no CD O tom do Leblon. Ainda em 2004, participou da criação do semanário O Pasquim21, do qual foi articulista até o seu fim, e começou a escrever para o Jornal de Copacabana.

No dia oito de agosto de 2004, em São Paulo, Poerner esteve no lançamento da quinta edição do livro O Poder Jovem. Em discurso, o autor disse estar acompanhando as transformações ocorridas nos 26 anos que separam as cinco edições de sua obra. Mas, segundo ele, “o poder jovem continua atual. A luta continua”.

[Fontes: “O Poder Jovem, História da participação política dos estudantes desde o Brasil-Colônia até o governo Lula” Autor: POERNER, Arthur. 5ª ed.; Site: http://www.booklink.com.br/homebook.htx?cod_autor=9291; Site: Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira (http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Poerner&tabela=T_FORM_B); “A invasão do AI-5” IN: Site da Fundação Perseu Abramo]

Feito por Itamar de Assis Jr. em 30 de outubro de 2004, via site da UNE.