Dominguetti foi à CPI para confundir, não para explicar a propina nas vacinas

Abelardo Barbosa, o Chacrinha, tinha como bordão “Eu Vim para Confundir e Não para Explicar”. Eis que o PM Luiz Paulo Dominguetti fez exatamente isso no depoimento desta quinta-feira (1º/7), na CPI da Covid, ao apresentar histórias e personagens confusos aos senadores.

Irritados, alguns senadores chegaram a dizer que Dominguetti fora plantado na comissão de investigação para desacreditar o trabalho de apuração de corrupção no governo Bolsonaro. Os parlamentares chegaram até pedir a prisão do depoente, mas o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), indeferiu o pedido do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou como “muito estranho” o depoimento e disse que ele fez ataques ao deputado Luis Miranda (DEM-DF).

“Ele pode ter outro objetivo inconfessável. Pode ser alguém que foi plantado para tentar tumultuar a CPI ou desmoralizar o depoente da semana passada. Vamos ter acesso às ligações dele e vai ficar mais fácil para identificar o que isso realmente representa”, disse Humberto.

Sobre o depoente, Jorginho Mello (PL-SC) afirmou que ouviu “um monte de informações truncadas, um depoimento muito confuso”.

“A CPI tem que ter foco”, disse Jorginho.

Economia

Para Eduardo Braga (MDB-AM), o depoimento de Dominguetti “demonstrou que houve corrupção, que precisa ser apurada”. Ele também defende investigação sobre acusações que o depoente fez ao deputado Luis Miranda, que teria negociado vacinas.

Na opinião de Marcos Rogério (DEM-RO), Dominguetti parece ter sido “protagonista de tentativas de golpe em várias cidades”.

Por sua vez, Eduardo Girão (PODE-CE) acrescentou que há denúncias de golpes praticados pela empresa Davati também no Canadá. Ele disse que pedirá essas informações para a polícia canadense.

Inicialmente, Dominguetti foi convocado pela CPI em virtude de reportagem publicada pela Folha de S. Paulo na terça, dia 29 de junho, segunda qual integrantes do governo pediram US$ 1 por dose de vacina comprada pelo Ministério da Saúde.

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Para o senador Humberto Costa, a CPI precisa ouvir com urgência o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) e do servidor Roberto Dias.

Barros foi apontado pelo deputado Luis Miranda como responsável pelo favorecimento à Covaxin no Ministério da Saúde; a propina teria sido pedida pelo ex-diretor de Logística do ministério, Roberto Dias, que já foi exonerado.

O senador Jorginho Mello acredita que a CPI deve ouvir o deputado Luis Miranda novamente e o empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos.

A Precisa é responsável por um contrato com o Ministério da Saúde para aquisição da vacina indiana Covaxin — que não tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na semana passada, o servidor do ministério Luis Ricardo Miranda disse à CPI que vinha sendo pressionado para fazer o pagamento de uma fatura referente à negociação que continha várias irregularidades.

Na opinião do senador Eduardo Braga, a CPI da Pandemia tem que ouvir também o chefe da empresa Davati Medical Supply. Dominguetti denunciou que integrantes do governo exigiram dessa empresa o pagamento de propina para adquirir vacinas contra a covid-19.

O senador Eduardo Girão também disse querer ouvir o chefe da Davati, além de Cristiana Prestes, CEO da Hempcare, e Bruno Dauster, ex-secretário da Casa Civil do governo da Bahia. Ambos teriam participado de esquema na compra de respiradores, segundo o senador.

Por sua vez, o senador Marcos Rogério opinou ser necessário depoimento do dono da Precisa Medicamentos e nova oitiva com o deputado Luis Miranda. Ele também quer convocar todos os citados por Dominguetti no depoimento de hoje.

“Tem que investigar tudo e todos. Se o deputado está negociando vacinas ou não, cabe agora aprofundar a investigação, mas em relação a todos, quem está investigando não deve ter preferência, temos que ouvir a todos. A próxima semana teremos a confrontação dessas informações”, disse Marcos Rogério.