É a economia, estúpido!

“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo ainda não tenho certeza absoluta” – Albert Einstein

Luiz Claudio Romanelli*

É a economia, estúpido! A frase é conhecida e foi cunhada por James Carville, um estrategista da campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos no início dos anos de 1990. O jovem candidato do Arkansas imaginava sensibilizar os eleitores com um discurso em torno das perdas causadas às famílias americanas pela Guerra do Golfo. O marqueteiro sugeriu um viés econômico, visto que o País passava por forte recessão. O resultado todos conhecemos.

Desde então, a expressão tem sido usada para demonstrar que o grande fator de mobilização das pessoas e possíveis transformações é aquilo que se reflete em esperança de estabilidade econômica, no bem estar individual e coletivo, na segurança do emprego e da renda, e na perspectiva de melhoria da qualidade de vida no presente e no futuro.

No Brasil, a frase cabe como uma luva para avaliar a gestão de Jair Bolsonaro. Ao negar ao País a possibilidade da vacina, o presidente contribuiu para a perda de milhares de vidas humanas, mas também acelerou a morte de empresas e empregos. Tratou a doença pelo prisma ideológico, negou a ciência, e nos conduziu ao desastre que vivemos hoje.

Sem noção dos reflexos da pandemia, induziu o brasileiro ao erro com discurso populista de que o País não podia parar por conta da Covid-19. Ativou o nacionalismo retórico sem demonstrar compaixão com os brasileiros. Com isso, alongou o estrago provocado pela infecção.

Entramos com o pé cravado no acelerador no ano dois da pandemia. É praticamente certo que haverá o ano três, e a retração econômica vai se agravar porque não se enxerga nenhuma solução de médio prazo para corrigir erros cometidos até aqui. E não há capacidade instalada no governo para reverter o quadro.

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Convivemos com uma situação surreal. O tratamento dado pelo presidente à pandemia nos transformou em um pária global. Uma ameaça que causa medo em todos os cantos do planeta, que impede os brasileiros de circular livremente por fronteiras internacionais.

Na Cúpula do Clima promovida nesta semana Bolsonaro fez uma manifestação considerada enganosa por especialistas em meio ambiente. Prometeu que o Brasil vai alcançar metas de conservação e reduzir o desmatamento ilegal. A imprensa internacional deu de ombros ao discurso e o anfitrião do encontro, o presidente americano Joe Biden, nem se deu ao luxo de ouvir o presidente brasileiro.

Na grave situação da Covid, o Brasil foi capaz tão somente de produzir novas variantes do coronavírus, que as demais nações se preocupam em não importar. Os desmandos na área ambiental estão levando o País para mais perto do fim fila dos interesses internacionais. No encontro sobre o clima, a manifestação brasileira ocorreu após a participação de nações como as Ilhas Marshall e Bangladesh, por exemplo.

Internamente, o quadro é de desesperança. A fome bate na porta de milhares de famílias. O discurso nacionalista, de proteção do que é nosso, se esvai a cada pesquisa sobre a perda de postos no mercado de trabalho, a insuficiência de renda e a baixa produção de riquezas. O risco de terra arrasada aumenta na mesma proporção em que a economia do País definha.

A mesquinhes da equipe econômica – com os pobres e desempregados – respaldada pelo presidente Bolsonaro, gerando, pela ausência da renda básica trazida pelo auxílio emergencial, que todos os países do mundo civilizado criaram, um legião de brasileiros novamente para a linha da pobreza extrema e a fome ronda as nossas cidades, é só a caridade, não soluciona esse problema.

Se a frase que mudou o rumo da candidatura de Bill Clinton fosse gritada para Bolsonaro de nada adiantaria. Em primeiro lugar, porque ele não ouve. Se ouve, não compreende. Se compreende, não faz. Bolsonaro se imagina rei, não governante. Sobra estupidez.

*Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná