Coluna do Reinaldo de Almeida César: Sobre a (in)Segurança Pública do Paraná

Reinaldo de Almeida César, excepcionalmente, escreve nesta sexta-feira (8) sobre a “insegurança” pública no Paraná do governador Beto Richa (PSDB); na condição de ex-secretário da pasta, articulista compara a atuação do atual titular Vagner Mesquita, também delegado da Polícia Federal, com “Mem de Sá” – segundo definição de Joãozinho: “Professora, ele fez o que pode”; Almeida César afirma ainda que burguesia se apavorou nos últimos meses com escalada da violência, por isso entrou nas manchetes de jornais, como assaltos a bares, restaurantes, casas de juízes e promotores; colunista voltará neste fim de semana, em artigo especial, sobre a morte de dois sem terras no acampamento Araupel, em Quedas do Iguaçu; abaixo, leia, opine e compartilhe o texto.
Reinaldo de Almeida César, excepcionalmente, escreve nesta sexta-feira (8) sobre a “insegurança” pública no Paraná do governador Beto Richa (PSDB); na condição de ex-secretário da pasta, articulista compara a atuação do atual titular Wagner Mesquita, também delegado da Polícia Federal, com “Mem de Sá” – segundo definição de Joãozinho: “Professora, ele fez o que pode”; Almeida César afirma ainda que burguesia se apavorou nos últimos meses com escalada da violência, por isso entrou nas manchetes de jornais, como assaltos a bares, restaurantes, casas de juízes e promotores; colunista voltará neste fim de semana, em artigo especial, sobre a morte de dois sem terras no acampamento Araupel, em Quedas do Iguaçu; abaixo, leia, opine e compartilhe o texto.

MEM DE SÁ E A VIOLÊNCIA NO PARANÁ

Reinaldo de Almeida Cesar*

Conta o anedotário popular que, certo dia, numa sala de aula qualquer, a professora de Joãozinho – ele, sempre ele – perguntou-lhe na prova oral de história sobre “o que o governador-geral Mem de Sá fez pelo Brasil, na época colonial”.

Depois de ficar em silêncio por alguns segundos, não sabendo a resposta, Joãozinho encheu o peito e respondeu: “Professora, ele fez o que pode”.

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Economia

O secretário Wagner Mesquita, que tantas vezes já elogiei aqui, candidata-se com muita velocidade a vestir os adereços de Mem de Sá, na visão do ladino Joãozinho, fazendo o que pode.

Numa escalada sem precedentes de crimes violentos patrimoniais por todo o Paraná, o secretário esforça-se, corre de um lado para outro, desdobra-se em busca de respostas à sociedade. Sem recursos, como Joãozinho, faz o que pode.

Policiais são assassinados em série, Londrina entra em pânico, e lá está o titular da SESP prometendo instituir força-tarefa e botar mais polícia na rua. Passados alguns dias, nada muda, e o governo até cassa a decisão judicial que mandava reforçar o efetivo policial na cidade.

Cascavel arde com os ônibus incendiados, e lá está o secretário montando o forte apache na cidade. Pergunte aos moradores do Oeste se sentiram alguma diferença, dias após a comitiva do secretário ter deixado a cidade.

Quem assistiu o primeiro e excelente “Tropa de Elite”, de José Padilha, sabe que enquanto a violência corre solta na periferia geográfica e social dos grandes centros, ela é desapercebida, passa a ser vista como corriqueira e quase normal, digamos até, tristemente compreensível. Agora, quando ela chega no andar de cima, a coisa muda de figura.

Foi o que aconteceu agora. Depois de uma série de assaltos em Curitiba, atingindo redes de supermercados e de farmácias, em salões de beleza onde até cabelo levaram, em conhecidas e tradicionais casas de comércio, depois que as residências de dez magistrados e oito promotores foram assaltadas, e depois de uma sequência de episódios violentos de arrastões com troca de tiros em restaurantes no Cabral, Juvevê e no Batel, a grande mídia já não teve mais como esconder: os crimes patrimoniais com violência explodiram em Curitiba.

A solução apontada pela SESP para conter a escalada da desenfreada violência em Curitiba foi anunciar que contratará mais 2000 policiais e colocará em circulação novas 120 viaturas. Quando ? Ninguém sabe, ninguém viu.

Vamos lá. A licitação para a locação das viaturas tende a se arrastar, como é praxe no governo. Contratação direta, sem licitação, vai dar o que falar. O atento Tribunal de Contas ou alguma ação popular haverá de questionar porque o governo anunciou em agosto de 2011 a aquisição de mais de 3000 viaturas, comprou apenas 1.200 e agora quer dispensar licitação para alugar 120 viaturas, as quais poderia ter adquirido?

Fora isso, tome-se ainda que agregar serviço de manutenção em contrato de fornecimento de viaturas pode ensejar questionamento. O secretário do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, virou réu em ação de improbidade administrativa no final do ano passado, exatamente por esse fato.

E o que dizer então da notícia veiculada dando conta que o Deputado Mauro Moraes, um especialista em questões de segurança, denunciou ao chefe da Casa Civil Valdir Rossoni que 40% das viaturas da PM estão paradas por falta de manutenção?

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Nem falo sobre os anunciados 2000 novos policiais. Este anúncio se repete, de tempos em tempos, mesmo o governo sabendo dos longos prazos para chamamento, formação e nomeação.

Tivesse o governo feito o que se propôs a fazer, quando em agosto de 2011 apresentou à sociedade o programa PARANÁ SEGURO, aumentando o efetivo de forma equilibrada e constante, com gatilhos de reposição à medida em que ocorressem vagas no quadro, com a adoção do soldado temporário na PM, com a contratação de 400 delegados e criação das delegacias cidadãs, fortalecendo e modernizando de verdade a polícia científica, com a aquisição gradativa de mais de 3.000 viaturas em lugar das apenas 1.200 adquiridas, além de outras tantas medidas, o quadro hoje seria outro, e o secretário Mesquita não estaria tendo o constrangimento de ser passar pelo Mem de Sá imaginado pela esperteza de Joãozinho, fazendo o que pode.

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Neste trabalho hercúleo e inglório, tentando tapar o sol com a peneira ou puxar o curto cobertor, o secretário Mesquita tem contado com o auxílio luxuoso de Karlos Eduardo Antunes Kolbach, como seu assessor de imprensa.

Karlos Eduardo Antunes Kolbach, que em passado recentíssimo foi assessor do Deputado Fernando Destito Francischini e também da liderança do Partido Solidariedade na Câmara dos Deputados, em Brasília, costuma ser competente na missão que lhe entregam ou nas coisas a que se propõe a fazer.

Quando colaborava com a Gazeta do Povo, Karlos Kolbach assinou várias matérias trazendo à tona o escândalo do Comitê Lealdade, tudo misturado com Rodrigo Oriente e o PRTB.

Em outro trabalho investigativo, escreveu matérias para o mesmo jornal sobre a polêmica nomeação da sogra de Ezequias Rodrigues, de quem, justiça seja feita, a lealdade à família Richa e a capacidade para o diálogo e para a articulação política jamais podem ser contestadas.

A considerar o estrago que estas matérias da lavra de Karlos Kolbach impuseram a vida política e pessoal de Beto Richa, e vendo-o agora integrar o núcleo duro da comunicação social no governo, colho a certeza de que o governador foi sincero em dizer que “é preciso perdoar o pecador, não o pecado”.

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Falando em governador, uma lembrança final.

É que, há alguns dias, eu disse aqui que “quem avisa, amigo é”.

Vendo agora o duríssimo e cáustico jornal lançado pela ADEPOL, que traz nas páginas centrais as fotos de Luis Abi e Pepe Richa, renovo esta frase.

Pessoas próximas ao governador precisam ajudar a resolver as questões, indicando e sugerindo ao mandatário o sensato caminho do diálogo e do entendimento a ser seguido.

Assessores e colaboradores leais, a começar pelos mais experientes, servem para isso, não para estimular o enfrentamento.

Nem para trazer e servir o vinho caro e de boa cepa degustado em momentos de distração, ócio ou descanso.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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