Documentos da CPI dos Atos Golpistas no Congresso revelaram que Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tentou vender um relógio da marca Rolex, que havia sido recebido pelo então presidente como presente oficial durante uma viagem oficial à Arábia Saudita, em 30 de outubro de 2019.
O conjunto de objetos valiosos presenteado ao ex-presidente Bolsonaro incluía um relógio Rolex modelo Oyster Perpetual Day-Date em ouro branco cravejado em diamantes e com mostrador em madrepérola branca também cravejado em diamantes, além de uma caneta, um par de abotoaduras, um anel e um masbaha – um rosário islâmico.
De acordo com registros do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Palácio do Planalto, o relógio Rolex foi protocolado como “acervo privado” da Presidência da República em 11 de novembro de 2019 e foi liberado em 6 de junho de 2022.
O relógio tinha como destino o gabinete de Bolsonaro, e a retirada foi autorizada pelo tenente Osmar Crivelatti, que fazia parte da ajudância de ordens da Presidência. Crivelatti foi escolhido pelo ex-presidente Bolsonaro como um dos auxiliares pessoais a que tem direito como ex-presidente.
Os registros mostram que, em 6 de junho de 2022, Mauro Cid trocou e-mails em inglês com uma pessoa não identificada para tratar de uma possível venda do Rolex por US$ 60 mil (cerca de R$ 291 mil na época).
Na época, Mauro Cid se correspondia com Maria Farani, que assessorava o Gabinete Adjunto de Informações do gabinete pessoal de Bolsonaro, mas que foi desligada da Presidência da República em janeiro de 2023.
Em um dos e-mails obtidos pela CPI, enviado por Maria Farani, a mensagem em inglês dizia: “Olá Mauro, obrigada pelo interesse em vender o seu Rolex. Tentei falar com você por telefone, mas não consegui. Pode por favor me falar se você tem o certificado de garantia original do relógio? Quanto você espera receber por essa peça? O mercado para Rolex usados está em baixa, especialmente para relógios cravejados de platina e diamante (já que o valor é tão alto). Só queria me certificar de que estamos na mesma linha antes de fazermos muita pesquisa. Espero ouvir notícias suas.”.
Em resposta, Mauro Cid afirmou que o relógio não possuía o certificado, pois era um presente recebido em viagem oficial de negócios, mas garantia que o relógio nunca havia sido usado. Ele pretendia receber cerca de US$ 60.000 pela peça – equivalente a R$ 300 mil na cotação da moeda americana hoje (5/8).
Cabe destacar que não é possível afirmar que o Rolex negociado por Mauro Cid é o mesmo relógio recebido por Bolsonaro na Arábia Saudita, mas as mensagens indicam que Mauro Cid considerava o relógio como um presente recebido em viagem oficial de negócios.
Mauro Cid está envolvido em outro caso relacionado às joias sauditas recebidas por Bolsonaro em 2021. Ele afirmou em depoimento à Polícia Federal que o então chefe do Executivo pediu que ele atuasse para liberar as joias, que foram apreendidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos (SP).
Mauro Cid está atualmente preso desde 3 de maio, após ser alvo de uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos em cartões de vacinação contra a covid-19.
Portanto, os documentos revelados pela CPI dos Atos Golpistas indicam que Mauro Cid tentou negociar a venda de um relógio Rolex recebido por Bolsonaro em viagem oficial, mas não é possível confirmar que se trata do mesmo relógio.
As mensagens de e-mail entre Mauro Cid e Maria Farani mostram o interesse na venda e detalhes da tentativa de negociação.
O caso faz parte das investigações em andamento pela CPI e lança luz sobre eventos relacionados a presentes recebidos por autoridades em viagens oficiais na gestão de Jair Bolsonaro.
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