Professores vão à Justiça contra o ensino à distância durante o Coronavírus

O Blog do Esmael entrevista o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, sobre a implementação do EaD, ensino à distância, no período de quarentena para evitar a proliferação do coronavírus.

O Paraná possuiu 1 milhão de alunos na educação básica e fundamental e cerca de 100 mil educadores, segundo a APP, um dos maiores sindicatos do magistério no País.

O governo Ratinho Junior (PSD), no Paraná, anunciou um “aplicativo” para aulas às distância para os estudantes da rede estadual formada por 2,1 mil escolas.

As questões que se levantam são:

  • O governador está aproveitando a crise da Covid-19 para reestruturar o ensino público, eliminando postos de trabalho (professor, pedagogo, servidor, etc.)
  • Os alunos de baixa renda tem acesso à internet de boa qualidade?
  • Todos têm celular e computador para receber os conteúdos?
  • Quanto custou o aplicativo?
  • Era preciso a licitação de R$ 900 mil para transmitir as aulas online, haja vista que o governo é dono da TV Educativa e da Copel?

APP-Sindicato é contra proposta de EaD durante a pandemia e divulgou os 10 motivos para não usar o sistema na quarentena:

Economia

  1. NÃO ATENDE A REALIDADE DO BRASIL
    A maioria da população brasileira não tem acesso à internet em suas casas e nas escolas não há estrutura adequada sequer para as aulas presenciais.
  2. NÃO SE MUDA A AULA DA SALA PARA A TELA
    Não se faz EaD simplesmente mudando as aulas presenciais para o ambiente virtual.
  3. NÃO GARANTE A APRENDIZAGEM
    EaD é uma forma para quem já faz ou fez algum curso desta forma. Por isso a falta de aulas presenciais vai prejudicar a qualidade da educação.
  4. NÃO ATENDE A MAIORIA DA POPULAÇÃO
    Apenas 42% das casas têm computador e quanto menor a renda, mais difícil o acesso. Ou seja, a maior parte dos(as) estudantes não terão acesso às aulas.
  5. AUMENTA AS DESIGUALDADES
    Se apenas parte dos(as) estudantes terão acesso, isso vai gerar ainda mais desigualdade no acesso à educação. Os(as) mais pobres, novamente, serão os(as) mais prejudicados(as).
  6. OS(AS) PROFESSORES NÃO RECEBERAM FORMAÇÃO PARA ATUAR NA EaD
    A maioria dos(as) nossos(as) professores(as) não foram preparados(as) para atuar na educação a distância. Portanto, não estão aptos(as), assim como os(as) estudantes, para essa proposta.
  7. A ESTRUTURA DAS ESCOLAS É PRECÁRIA
    Muitas escolas não possuem sequer acesso à Internet.
  8. NÃO É ADEQUADO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
    As crianças precisam desenvolver autonomia, capacidade de concentração e autodisciplina e isso só é possível na escola.
  9. NÃO RESPEITA A COMUNIDADE ESCOLAR
    A imensa maioria dos(as) estudantes não têm recursos necessários para realizar as atividades a distância. Implantar EaD é desrespeitar professores(as), funcionários(as), pais, mães, responsáveis e, principalmente, os(as) nossos(as) estudantes.
  10. É UM RISCO PARA A PRIVACIDADE DAS PESSOAS
    A gratuidade de aulas online, por exemplo, costuma esconder modelos de negócio em que o lucro das empresas vem da exploração dos dados de seus(suas) usuários(as) para, com isso, ofertar produtos e serviços.

Ministério Público recebe denúncia contra Ensino a Distância de Ratinho Jr.
O Sindicato destaca que a proposta impede que estudantes tenham acesso à educação pública e reafirma a luta em defesa da vida

Contrariando a opinião de profissionais e especialistas na educação, Ratinho Junior (PSD) instaurou o Ensino a Distância na rede pública estadual. A modalidade foi apresentada nesta segunda-feira (6), pelo secretário da Educação e Esporte Renato Feder como medida para manter as aulas durante a pandemia causada pelo COVID-19 (CoronaVírus). O método consiste em um chat online para que os alunos recebam informações e aulas em uma rede de canal, as quais serão transmitidas durante o dia.

A APP-Sindicato se posicionou contra a proposta e destaca que a realidade das escolas públicas e dos estudantes impede que o método funcione na rede estadual. “A rede não foi preparada e não houve o planejamento para uma Educação à distância, nada formalizado foi apresentado. Estas condições que estão sendo apresentadas precarizam o processo de ensino e de aprendizagem”, explica o presidente da APP-Sindicato, Professor Hermes Leão.

No entendimento do Sindicato, as consequências da aplicação deste modelo sem planejamento serão graves, pois a realidade das escolas e dos estudantes não permite que o EaD funcione efetivamente na rede pública.

A APP-Sindicato está recorrendo em diversas frentes para suspender a medida de Feder e Ratinho. “Estamos cobrando deputados e também a comissão da educação da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Procuramos também o Ministério Público Estadual (MP-PR) e o Ministério Público do Trabalho por conta do ataque aos direitos do ensino universal e da autonomia das escolas. Não podemos aceitar que esta forma autoritária de agir seja aplicada no Paraná. A Seed não debateu o projeto com a APP-Sindicato, com pais e a comunidade escolar e desrespeitou a deliberação do Conselho Estadual de Educação”, afirma Hermes Leão.

O presidente da APP-Sindicato explicou também que a proposta não contempla alunos da educação especial, do campo e das ilhas, pois não leva em consideração a metodologia aplicada nestes modelos. “Nós vamos fazer uma orientação para os diretores também questionem o Núcleo de Educação e a Seed sobre como será efetivado o modelo, já que a grande maioria dos professores estão em licença. Também orientamos que a comunidade escolar faça denúncias nas comarcas do MP nos municípios, pois a proposta viola o direito universal das criança e jovens à educação”, finaliza o Professor.

A APP-Sindicato também publicou uma carta destacando cada ponto da modalidade e apontando os problemas da iniciativa de Feder e Ratinho. “Não é utilizando vídeos e um aplicativo semelhante ao WhatsApp que ocorrerá aprendizagem. Aprendizagem é um processo complexo e que precisa ser mediado e acompanhado por alguém preparado para isso. É um processo sistemático e constante. Quanto menor a idade, menor são as condições de autonomia da criança e maior é a necessidade de mediação. Nossas famílias não estão preparadas e não é função delas dar o suporte necessário para o acompanhamento da aprendizagem”, afirma o Sindicato em nota.