O escândalo dos áudios envolvendo a Sanepar deixou de ser um problema local e virou notícia nacional. Monitoramento interno do Palácio Iguaçu indica que o caso furou a bolha, ganhou repercussão fora do Paraná e passou a representar ameaça concreta não apenas às pretensões continuístas do governador Ratinho Júnior (PSD), mas também a seus voos mais altos rumo ao Palácio do Planalto.
A avaliação no núcleo do governo é que o desgaste extrapolou o debate estadual. A circulação nacional das denúncias, associada à narrativa de suposto uso político de uma estatal estratégica, colou o nome do governador a um episódio sensível no tabuleiro de 2026. Nos bastidores de Brasília, Ratinho Júnior é lembrado como alternativa presidencial no campo da direita e do centro-direita em caso de desistência do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Esse cálculo inclui a necessidade de desincompatibilização do cargo em abril para que o governador fique elegível. A crise na Sanepar, porém, ameaça embaralhar o cronograma político, ampliando o escrutínio nacional sobre sua gestão no momento em que precisaria reduzir riscos e ampliar alianças.
O caso tem origem na divulgação de áudios atribuídos a ex-dirigentes e assessores com atuação política na Sanepar. Nas gravações, ainda sem perícia técnica, os interlocutores mencionam pedidos de arrecadação de dinheiro entre funcionários comissionados e gestores indicados politicamente na estatal.
As conversas fazem referência a valores elevados, cobranças fracionadas e uso de relações internas da companhia para levantar recursos, supostamente destinados a cobrir dívidas de campanha eleitoral do grupo político que governa o Estado. Em alguns trechos, há menções diretas a hierarquia, nomeações, salários e influência política dentro da Sanepar.
Embora o governo sustente que se trata de fatos antigos, datados de 2021, o conteúdo reacendeu suspeitas sobre possível uso da estrutura de uma estatal de economia mista para fins político-eleitorais. A ausência, até agora, de documentos públicos que comprovem o encerramento definitivo das apurações mantém o tema vivo e alimenta a ofensiva da oposição.
Na Assembleia Legislativa do Paraná, a oposição acelerou a ofensiva. O deputado estadual Requião Filho (PDT-PR) passou a vocalizar a cobrança por apuração ampla e transparente, defendendo que o caso seja tratado como tema institucional e não como disputa partidária. Segundo ele, a dimensão do episódio exige respostas públicas do governo e das autoridades de controle.
Paralelamente, oposicionistas iniciaram levantamentos em Congonhinhas, no Norte do Estado, para verificar bens adquiridos nos últimos sete anos por personagem citado nos áudios. O objetivo é identificar eventual incompatibilidade entre patrimônio e rendimentos formais. As apurações também avançam sobre Arapoti, nos Campos Gerais, envolvendo a atuação passada de um ex-gerente da Sanepar em Santo Antônio da Platina.
O caso ganhou ainda dimensão institucional com a articulação de representação à Comissão de Valores Mobiliários. A Sanepar, por ser companhia de economia mista com ações em bolsa, está sujeita a regras rígidas de governança e transparência. A suspeita envolve uma suposta arrecadação irregular entre comissionados indicados politicamente para cobrir dívida de campanha.
Em nota, a Sanepar sustenta que os áudios são antigos, de 2021, e que o episódio já teria sido objeto de apuração pelo Ministério Público Estadual, com demissões por justa causa. O governo estadual classifica a denúncia como “pauta velha”, sem fato novo, e atribui a reativação à oposição. Até agora, porém, não apresentou documentos públicos que comprovem o encerramento definitivo das investigações.
Apesar da linha defensiva oficial, o clima no Palácio Iguaçu é de apreensão. O temor é que a permanência do tema no noticiário nacional comprometa tanto o projeto de sucessão no Paraná quanto a construção de uma candidatura presidencial viável.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




