Enio Verri: A semente vinga

O deputado Enio Verri (PT-PR) repercute em sua coluna o crescimento do apoio da população à ideologia de esquerda. “As atuais conjunturas política e econômica fazem a população lembrar o acesso conquistado durante os governos do PT”, escreve.

A semente vinga

Enio Verri*

O Partido dos Trabalhadores (PT) lançou sementes civilizatórias que estão vingando e tendem a ser de profícua germinação. Segundo a pesquisa do Datafolha, cresceu o apoio da população à ideologia de esquerda. Passaram de 58% para 77% os que acreditam que a pobreza é fruto da falta de oportunidades iguais, assim como diminuiu de 37% para 21% os que acreditam que a pobreza é fruto da preguiça.

As atuais conjunturas política e econômica fazem a população lembrar o acesso conquistado durante os governos do PT. Isso revela a força das políticas dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff. O número de desempregados de hoje é superior às mais de 13 milhões de famílias assistidas pelo Programa Bolsa Família, que fez 36 milhões de pessoas superarem a extrema pobreza.

Em meio à recessão e ao crescente desemprego, Temer cortou, em novembro de 2016, mais de um milhão de beneficiários. Em junho, num momento em que as famílias pobres mais precisam, Temer faz a política inversa a do PT e cancela o reajuste de 4,6% no valor do BF, anunciado pelo Ministério do Desenvolvimento e desautorizado pelo Ministério da Fazenda, que conduz a política em favor de quem mais tem.

Economia

A mesma caneta que nega acesso à alimentação básica para famílias pobres é servil e generosa para com os lucros de banqueiros. O BF custa apenas 0,5% ao PIB. A cada R$ 1,00 investido, R$ 1,78 volta como incremento ao PIB. Entre abril e junho, o governo livrou os bancos Itaú e Santander de pagarem, respectivamente, R$ 25 bilhões e R$ 338 milhões de dívidas de impostos. Anualmente, o pagamento de juros a banqueiros e rentistas custa mais de 45% do PIB.

A população está percebendo que o grupo golpista de 2016 é plutocrata, ou seja, faz um governo de ricos para ricos. Na pesquisa do Datafolha, ideias de tolerância à sexualidade alheia e a migrantes pobres cresceram, de 64% para 74% e, de 63% para 70%. Na contramão do avanço civilizatório, Temer esvazia programas de fortalecimento das minorias e deixam mais pessoas na insegurança social.

Dilma investiu, desde 2013, cerca de R$ 40 milhões na criação de uma rede de acolhimento e proteção às mulheres, como a Casa da Mulher Brasileira, centros de atendimento, unidades móveis de atendimento às mulheres no campo e na floresta. A camarilha que tomou o Palácio do Planalto de assalto cortou, em 2016, R$ 26 milhões dos R$ 43 milhões do orçamento do programa. Fica claro para a população excluída quem é que se preocupa com o seu bem-estar.

A população está ciente de que o estado de pleno emprego, ou de 4,8% de desemprego, em 2014, foi conquistado com as mesmas leis trabalhistas que Temer tenta revogar para agradar o mercado financeiro. Ela sabe qual foi o governo que, de 2003 a 2014, ampliou de 500 mil para 900 mil as matrículas na graduação presencial; de 11 mil para 83 mil, na graduação a distância e de 48 mil para 203 mil, na pós-graduação.

A população que nunca teve acesso à moradia sabe que foi nos governos do PT que se investiram mais de R$ 300 bilhões no Programa Minha Casa Minha Vida. O MCMV abriu acesso a aquisição de patrimônio para famílias cuja renda mensal média é de R$ 1,8 mil. Até abril de 2016, quando a democracia brasileira sofreu um golpe, foram entregues 2,76 milhões das 4,5 milhões de moradias contratadas pelos governos do PT. O MCMV gerou mais 5 milhões de empregos e reduziu o déficit habitacional dos mais pobres, em 2,8%, entre 2010 e 2014.

O espaço é exíguo para comparar 13 anos de exitosos governos voltados para o acesso dos mais pobres a condições minimamente justas, com um ano de desgoverno e destruição, não apenas da economia, mas de políticas públicas voltadas para os mais pobres. O pequeno e frágil arcabouço de bem-estar social construído pelo PT está sendo solapado em favor dos privilégios de uma elite que sempre tem acesso a tudo.

A população, a despeito da sua secular desorganização política, está atenta e percebe o quanto o demonizado campo das esquerdas fez e tem condições de fazer muito mais. Não é à toa que Lula é o mais bem cotado para a Presidência e o PT tem 18% da preferência nacional. Já os partidos golpistas, como PMDB e PSDB são queridos por apenas 5% da população. Isso diz muito sobre o campo em que se milita. Avante.

*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.

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