O vídeo animou os 30% dos bolsonaristas, segundo Cappelli

O jornalista Ricardo Cappelli, o Steve Bannon das esquerdas, afirma em artigo neste sábado (23) que o vídeo da reunião animou nas redes sociais os 30% existentes de bolsonaristas –somados aos robôs, é óbvio.

“É pouco provável que ele extrapole este percentual. O caminho seria a retomada econômica, uma equação improvável com a permanência de Guedes no governo”, raciocina o nosso Bannon.

Cappelli observa que a esquerda se dividiu até mesmo na avaliação do impacto político do vídeo. “Ciro e Lula já assinaram os termos de uma separação litigiosa”, escreve.

Outro aspecto escandalizou o articulista: “No meio da maior crise humanitária [a pandemia de coronavírus] e econômica de nossa história, nenhuma palavra sobre o drama [das famílias dos mais de 21 mil mortos e 330 mil infectados pelo vírus].

Para Ricardo Cappelli, o vídeo serviu como combustível para unificar o um terço, os 30%, que havia se dispersado desde a saída do ex-juiz Sérgio Moro do governo de Jair Bolsonaro.

Leia a íntegra do artigo:

Economia

O vídeo dos 30%: é pouco?

Ricardo Cappelli*

Depois de muita ansiedade, finalmente tivemos acesso ao filme mais esperado da pandemia.

Na película, Bolsonaro comanda a reunião de um comitê revolucionário destinado a livrar o Brasil das instituições corrompidas, dos “ratos que infestam Brasília” e dos comunistas. Um verdadeiro messias liderando a “refundação” do país.

No meio da maior crise humanitária e econômica de nossa história, nenhuma palavra sobre o drama. A reunião foi uma tentativa de unificar o governo em torno de alguns “atributos”: Deus, família, liberdade individual e econômica, e nação.

Alguém se lembra de alguma proposta de campanha do Jair? Foram estes valores que o levaram ao Planalto. Tudo parece muito absurdo, mas pode fazer sentido para o seu eleitorado cativo.

O discurso radical, indignado e antissistema surfa na onda nascida em 2013 e turbinada pela Lava Jato. O fato de se tratar de uma reunião interna fortalece o atributo da sinceridade. Os ataques ao “bosta” e ao “estrume” buscam fechar a porta pela direita.

Foi nítido como seu público saiu das cordas e retomou a ofensiva nas redes. O vídeo parece ter reunificado os seus 30%.

É pouco provável que ele extrapole este percentual. O caminho seria a retomada econômica, uma equação improvável com a permanência de Guedes no governo.

A batata quente vai agora para as mãos do PGR. Se ele decidir prosseguir, o jogo será resolvido no Congresso. O clima de “guerra fria” tende a se manter com provocações de parte a parte. Não parece existir ninguém com força para apertar o botão vermelho do míssil nuclear.

O grande obstáculo a um desfecho diferente continua sendo a ausência de unidade na oposição, que se dividiu até na avaliação do vídeo.

O PT marchou afirmando que Moro não sabe o que são provas, desmoralizando a narrativa do ex-juiz sobre a reunião. Os companheiros buscam sua suspeição no STF e a anulação das condenações de Lula. Jogaram o jogo Lula 2022.

O resto da esquerda, com uma ou outra exceção, seguiu com a Globo na linha de que a reunião comprovou a denúncia de Moro e os crimes de responsabilidade.

A oposição liberal também se dividiu entre os que viram provas, os que não viram, e os que, sem interesse na queda de Bolsonaro, criticaram o capitão por outros motivos.

A fragmentação favorece o capitão. A ameaça autoritária acabará impondo uma concertação das oposições? Os sinais são preocupantes. Ciro e Lula já assinaram os termos de uma separação litigiosa.

O impacto da pandemia no eleitorado permanece sendo uma incógnita. Já ultrapassamos 21 mil óbitos e a pesquisa feita por um site de esquerda indica que Bolsonaro lideraria a corrida presidencial hoje com 31% dos votos, distante dos demais candidatos. É pouco?

Uma dica: na história das eleições presidenciais, nunca houve uma virada do primeiro para o segundo turno.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.

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O vídeo liberado da reunião ministerial de 22 de abril por decisão ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, nesta sexta-feira (22), revelou também os ataques do presidente Jair Bolsonaro aos governadores dos estado de São Paulo e Rio de Janeiro, João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC).

“O que esses caras fizeram com o vírus… Esse bosta do governador de São Paulo, esse estrume do governador do Rio”, afirmou. Em sua fala, Bolsonaro criticava as medidas adotadas pelos governadores sobre o isolamento social para conter a expansão do coronavírus.

No encontro virtual realizado na quinta-feira (21) com governadores, Bolsonaro e Doria surpreenderam ao trocar elogios e não polemizarem sobre as medidas de isolamento social.

Assista o vídeo: