Ratinho ataca o serviço público, denuncia deputado do PT

O deputado Enio Verri (PT-PR) denuncia nesta terça-feira (29) que o governador Ratinho, do Paraná, ataca os serviços públicos porque segue a mesma cartilha do ultraliberalismo, a mesma adotada por Bolsonaro, tanto do ponto de vista econômico quanto do político.

De acordo com o parlamentar petista, Ratinho Junior está fechando turmas do sexto ano do ensino fundamental e do primeiro ano do ensino médio, em Curitiba. “Ao invés de expandir a oferta de vagas, nega-se”, lamenta.

“Ratinho, com apoio da imprensa serviente do estado, trata os servidores públicos como inimigos a serem combatidos, colocando a população contra eles”, critica Enio Verri.

Leia a íntegra do artigo:

O paranaense terá o Paraná que escolher

Enio Verri*

Economia

Ontem, foi o dia do servidor público. No Paraná, essa fundamental categoria não tem o que comemorar, a não ser a consciência da hercúlea luta que tem pela frente, para defender não apenas a existência do serviço público, mas a sua necessária valorização e ampliação. Quando autônomo e valorizado é um aliado da sociedade e o tormento para governos passageiros a serviço do mercado financeiro. Para esse segmento econômico, em geral, parasita, gente é um estorvo, ou, quando muito, mão de obra barata para o maior lucro das empresas. O governador, Carlos Massa Ratinho Júnior, segue a mesma cartilha do ultraliberalismo, tanto do ponto de vista econômico quanto do político. Com o discurso de fazer um Paraná rico e forte, ataca e pretende acabar com o serviço público que, comprovadamente, enriquece os municípios onde ele existe e são as instituições onde são desenvolvidas 95% das tecnologias produzidas no Brasil. Em consonância com essa deliberada política econômica predatória, Massa Júnior se recusa a sentar para negociar com trabalhadores rurais, despejando-os sistematicamente, numa atitude não apenas desumana, mas também, míope do ponto de vista econômico.

Às vezes, o óbvio deve ser dito. Ratinho se elegeu com discurso de investir no estado, mas está fechando turmas do sexto ano do ensino fundamental e do primeiro ano do ensino médio, em Curitiba. Ao invés de expandir a oferta de vagas, nega-se. É difícil acreditar que os paranaenses entendam que esse seja o melhor caminho para o desenvolvimento e permitam que um governador imponha essa decisão lesiva ao conjunto da sociedade. Ao fechar turmas e direcionar a demanda para o entupimento de salas de aulas de outras unidades, o governador do estado do Paraná está agindo deliberadamente para o fechamento da escola, por inanição forçada de demanda, provocando o enfraquecimento da educação pública estadual como um todo. Então, os paranaenses aceitam passivamente que sejam fechadas, ao invés de abertas, escolas. Ao invés de fortalecer, enfraquecer. Sim, paranaenses, o governador está trabalhando para fechar escolas. Quantas vezes isso terá de ser dito, ou, pior, de acontecer, para a sociedade reagir e colocar o governador em seu devido lugar?

O governador está investindo no atraso do estado. Menos escolas e salas de aulas super lotadas, das unidades que sobrarem, não parece ser uma tática adequada para se alcançar níveis de excelência em educação, que os estudantes, os professores e os cidadãos paranaenses merecem e têm o direito. Ao mesmo tempo em que suprime mais esse direito social elementar, Ratinho, com apoio da imprensa serviente do estado, trata os servidores públicos como inimigos a serem combatidos, colocando a população contra eles. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná, o crescimento do índice de suicídios entre os servidores públicos, principalmente entre professores e policiais, é assombro e 75% sofrem de distúrbios mentais. Ao invés de acolher e propor construir melhores condições de trabalho, Ratinho demonstra claramente sua abjeção ao serviço público, haja vista sua obsessão por privatizar empresas estratégicas, superavitárias e, principalmente, de propriedade da sociedade paranaense, que já pagou muito caro por elas.

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Ratinho sabe da importância dos serviços públicos. Porém, ele tem uma agenda a cumprir, com o mercado financeiro, de entregar o patrimônio, as ferramentas que estado possui para investir em si, sair da crise e partir para a retomada do desenvolvimento interrompido por uma sucessão de governos entreguistas. O governador sabe, ou poderia saber que, 25% da população da Finlândia são de servidores públicos e há mais por habitante do que no Brasil. Centenas de empresas pelo mundo, que foram privatizadas, estão sendo reestatizadas porque a população percebeu que os serviços pioraram e ficaram ainda mais caros. Se a sociedade paranaense acha o serviço público ruim, deveria se lembrar do que passa com o call center de uma telefônica.

A mesma truculência com que trata os servidores públicos e os direitos dos paranaenses, Júnior dispensa a quem produz quase 80% dos tipos de alimentos que vão à mesa do professor, do gari, do juiz, do médico, do empresário e do governador. No Paraná, há 70 acampamentos rurais sob ameaça de despejo, já ocorreram sete e, agora, o governador se vira contra 150 pessoas, de 50 famílias, do acampamento Ester Fernandes, de Alvorada do Sul. Ainda este mês, o secretário de Agricultura do estado, Norberto Ortigara, visitou o assentamento, Eli Vive, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e conheceu a organização e a grande produtividade da cooperativa. Cerca de uma centena de Sem Terrinhas ocuparam o Plenário da Assembleia Legislativa do Paraná para denunciar que suas vidas, sob a tutela do Estado do Paraná, estão em risco. Elas foram exigir que os despejos sejam suspensos. Porém, essas, por enquanto, ingênuas crianças não imaginam por onde passam os compromissos do governador, que possa lhe caber alguma nódoa de humanismo.

Porém, sua política de defender latifundiário que deve mais de R$ 600 milhões ao Estado, não é apenas desumana, mas, também, míope, do ponto de vista econômico. A produção dos acampamentos e dos assentamentos é parte fundamental da economia de muitos municípios. Porém, ao que tudo indica, nada pode demover o governador de sua decisão de defender a propriedade privada, acima de tudo. A não ser que algum milagre aconteça, coisa que eu duvido e não acredito, o resultado dessa política é o empobrecimento geral da população, se tornando mão de obra ainda mais barata para o mercado privado, que vai sugar os lucros até não ter mais de onde tirar e devolver para o Estado para este investir. O quadro que se desenha não é outro senão esse. É isso o que os paranaenses têm diante de si. E o silêncio das ruas é estarrecedor, pois revela a escolha de estado que os paranaenses estão fazendo.

*Enio Verri é economista e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do estado do Paraná.