Ministro da Educação cometeu crimes, diz UNE

O Ministério da Educação (MEC) é ocupado hoje por um criminoso. A forte declaração é da UNE (União Nacional do Estudante), entidade fundada há 85 anos.

A reação da organização estudantil se deu com o vazamento de um áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, divulgado na terça-feira 22 pelo jornal Folha de S. Paulo, que, além de trazer novas confirmações da atuação de dois pastores como articuladores de um esquema informal de liberação de recursos da pasta, como revela que o grupo atuava em Brasília com o aval do presidente Jair Bolsonaro (PL).

– O áudio do ministro Milton Ribeiro prova que foram cometidos crimes, enquanto o orçamento da educação segue sendo cortado, o ministro Milton Ribeiro beneficia pastores amigos do presidentes com verbas da Educação, não podemos aceitar esse tipo de comportamento no Ministério da Educação – disse a estudante Bruna Brelaz, presidente da UNE.

O protesto e a indignação da presidente da UNE é santo porque é notório o “lobby” de pastores no Ministério da Educação, que exercem influência sobre a agenda do ministro e políticas públicas.

O Estadão revelou recentemente o aparelhamento do MEC pela “República da Bíblia”, que foi levado a conhecimento do TCU pelo deputado Rogério Correia (PT-MG).

Na gravação desta terça, Ribeiro diz que prioriza as prefeituras indicadas pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, líderes da Igreja Ministério Cristo para Todos, para atender a uma solicitação de Bolsonaro.

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Ouça o áudio

– Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar – afirma Ribeiro na gravação da reunião entre ele, prefeitos e os dois líderes religiosos.

– Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos que são amigos do pastor Gilmar – insiste o ministro durante a reunião.

No áudio vazado, Ribeiro ainda diz que o governo Bolsonaro receberá o apoio das igrejas em troca das verbas liberadas pelo MEC aos prefeitos aliados.

– Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas – disse o ministro sem fornecer muitos detalhes de como se dará este apoio.

Até o momento, há indícios de que o ‘gabinete paralelo’ montado pelos dois pastores atua no MEC desde janeiro de 2021. Os recursos negociados por Gilmar e Arilton são geridos pelo FNDE, comandado atualmente por nomes ligados a políticos do Centrão.

Questionados, o governo federal e o FNDE não responderam. Os pastores Gilmar e Arilton também optaram por não se manifestar sobre o caso. Os dois aparecem ao lado de Bolsonaro desde 2019, participando de agendas oficiais e discursando em eventos como como se fossem integrantes do governo federal.

O jornalista Reinaldo Azevedo, colunista do UOL, disse que houve crime de responsabilidade e tráfico de influência no caso.

– Eles viajam de FAB e fazem reuniões no MEC mesmo sem cargo. Afinal, ser amigo dos pastores Arilton e Gilmar é critério para receber grana do Fundo Nacional da Educação. Bolsonaro que pediu – reagiu o escriba.

A deputada Natália Benevides (PT-RN) classificou como “escandaloso” o uso do MEC para favorecer pastores de igrejas evangélicas.

– O ministro da Educação admite que negocia verbas do MEC com pastores para beneficiar amigos de Bolsonaro a pedido do próprio presidente. Enquanto isso a educação e a pesquisa sofrem com cortes de recursos. Protocolaremos uma representação ao MPF contra mais esse crime – escreveu no Twitter a parlamentar.