Como eu inventei o cumprimento com o cotovelo antes da pandemia

Vou registrar esse meu invento aqui para que, no futuro, não digam que eu sou como o taxista, que jurou ter inventado a mala de rodinha, mas não ganhou royalties porque não registrou o petrecho.

O meu invento, no entanto, é a minha contribuição para a humanidade nesses tempos de pandemia e covid-19: o cumprimento com o cotovelo, hoje reconhecidamente fundamental para evitar o contágio do novo coronavírus.

[Quero lembrar que o Google Glass patenteou o gesto do “coração com as mãos” e o meu amigo jornalista e publicitário Mário Milani, de Curitiba, ainda tenta patentear o gesto do “L” de Lula, com a mão, inventado por ele na eleição de 1989.]

Eu explico como inventei esse cumprimento, com o cotovelo, cujo gesto é repetido milhões de vezes diariamente.

Durante a jornada do impeachment do ex-presidente Collor de Mello, em 1992, esperando o início de uma concorrida assembleia geral estudantil, no DCE da UFPR, avisto de longe um militante coçando o fiofó. Disfarçando, ele olha dos lados, certifica-se de que “ninguém” o observa, e cheira o dedo indicador.

De repente, para o meu desespero, esse “cheirador” de dedo cruza o salão que ficava no 4º andar do DCE e vem me cumprimentar. Antecipando-me, ofereço o meu cotovelo esquerdo –no que sou prontamente correspondido.

Economia

Havia cerca de 200 pessoas nessa reunião, que prepararia uma das primeiras passeatas do país pelo Fora Collor.

Para não transparecer que fora um gesto específico para ele, o cheirador de dedo enfiado no fiofó, comecei a cumprimentar todos na assembleia com o cotovelo. Não peguei em nenhuma mão naquele dia, apesar de ser o mais popular naquele ambiente porque era eu quem organizava os protestos na capital paranaense.

Nas reuniões seguintes, repeti os cumprimentos com o cotovelo porque o moço voltou a fazer a mesma coisa: olhava dos lados, cuidava para que “ninguém” o observasse, enfiava o dedo no fiofó, olhava dos lados outra vez, e cheirava o dedo indicador. Uma nojeira só.

Parecia que esse militante queria me “pegar” na mão a qualquer custo. Novamente, ele cruzava o salão do DCE da UFPR, no 4º andar, para me cumprimentar. Eu girava o corpo e oferecia o cotovelo. Mais ou menos como fez, no ano passado, o general Edson Pujol, comandante do Exército, quando o presidente Jair Bolsonaro lhe ofereceu a mão.

Um ano depois, ainda magoado com o cumprimento pelo cotovelo, Pujol foi demitido por Bolsonaro.

Segundo infectologistas, o cumprimento pelo cotovelo é necessário evitar apertos de mão, já que o vírus pode ser transmitido a outra pessoa se ela encostar a mão nos olhos, boca ou nariz, por exemplo.

Para variar os cumprimentos, ainda nas jornadas do Fora Collor, há 29 anos, eu ainda inventei o cumprimento do “soquinho”. Nós gritávamos palavras de ordem, cantávamos, de punhos cerrados no ar. Então, quando o cheirador de dedo enfiado no fiofó se aproximava para me cumprimentar, eu não titubeava e o saudava com o “soquinho”.

Os meus dois inventos foram aproveitados pela humanidade. Sinto-me realizado por isso.