Você precisa ler a novela subversiva de terror cósmico The Ballad of Black Tom

Coisas em que HP Lovecraft era bom: Criar um mito. Atmosfera de construção.

Coisas em que HP Lovecraft era ruim: Escrever diálogos. Criando personagens atraentes. Não ser racista.

Como fã de terror em geral, não posso fingir que Lovecraft não é um marco importante. Mas o racismo flagrante do homem também é impossível de ignorar, especialmente porque muitas vezes aparece nas páginas das suas histórias. Um dos mais notórios é O Terror em Red Hookque segue o detetive Thomas Malone enquanto ele descobre um culto sinistro no bairro titular do Brooklyn.

A balada de Black Tom é uma releitura dessa história, mas da perspectiva de Charles “Tommy” Tester, um homem negro do Harlem que se vê inadvertidamente preso no meio da busca de um homem pelo poder e pela polícia. O autor, Victor LaValle, inverte o original explicitamente xenófobo, transformando-o num comentário sobre a brutalidade policial, o racismo e os efeitos psicológicos de viver como uma pessoa oprimida. Lovecraft teria odiado isto.

Tommy é um traficante que somos levados a entender no início do livro e funciona como mensageiro ou consertador para sobreviver. Também somos levados a entender que Tommy tem algum conhecimento sobre magia e artefatos misteriosos. Não há nenhuma exposição prolixa para explicar a natureza da magia, nem recebemos alguma explicação sobre como Tommy obteve esse conhecimento. É apenas um fato aceito no mundo em que fomos lançados.

Em um livro mais longo, isso pode ser frustrante à medida que você tenta entender a lógica por trás de seus elementos sobrenaturais. Mas com 149 páginas, A balada de Black Tom não tem tempo a perder detalhando um sistema mágico, ele tem uma história para contar.

Tommy embarca em uma nova aventura que o leva a Flatbush, onde espera ganhar alguns dólares tocando, apesar de não ser um músico particularmente bom. Ele é avistado por um idoso chamado Robert Suydam, que o contrata para dar uma festa em sua casa. Essa troca é testemunhada pelo oficial Malone e um detetive particular, Sr. Howard, que abalam Tommy e tentam assustá-lo para que não retorne a Flatbush. Claro, a promessa de US$ 300 na década de 1920 é muito difícil de deixar passar, e Tommy retorna, permitindo que o resto da história se desenrole.

Aviso: Spoilers para A balada de Black Tom à frente.

Intercalados entre a conjuração de horrores cósmicos na casa de Suydam, o ataque ao complexo do culto em Redhook e o assédio policial, temos um punhado de cenas com Tommy e seu pai, dando corpo aos personagens de uma forma que Lovecraft nunca fez. Tommy tem um arco, motivações e personalidade reais. Quando chega o clímax do livro, estamos totalmente investidos em Tommy (que agora atende por Black Tom).

Apegar-se a Black Tom é importante porque, bem, ele não é o herói. Na verdade, não há heróis nesta história. Existem vilões, existem vítimas, mas é difícil chamar alguém de herói. Black Tom ataca os homens brancos que procuram explorá-lo e oprimi-lo. É catártico e satisfatório para o leitor, mas sua vingança também é indiscriminada e está implícito que levará ao fim de toda a humanidade.

Tommy Tester é um homem quebrado no final da história. Alguém que está tão cansado das indignidades de ser um homem negro num mundo de homens brancos que preferiria a indiferença destrutiva dos grandes e antigos como Cthulu à indiferença destrutiva do racismo sistémico.

A balada de Black Tom não é um livro sutil, mas também é uma leitura rápida e agradável que pega os icônicos mitos de Lovecraft e dá-lhes verdadeira emoção. O Terror em Red Hook não é uma história particularmente boa. Quase não tem enredo, seu arco de história é uma linha reta e os personagens têm menos profundidade do que uma folha solta. A balada de Black Tom resgata o que torna Lovecraft atraente, pelo menos em teoria (apesar de sua horrível pessoa), e nos dá algo que vale a pena ler no século XXI.

A balada de Black Tom está disponível na maioria das lojas de e-books, mas eu recomendo fortemente que você compre uma cópia física na livraria independente de sua vizinhança ou apoie sua biblioteca local.

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