Governo injusto e mercantilista

O governador Carlos Massa Ratinho Júnior tem de se posicionar quanto ao lado de quem ele está. Depois das manifestações do dia 29 de maio, o governo criou uma comissão para tratar da justa e mínima reivindicação dos servidores, a reposição inflacionária dos últimos 12 meses, de 4,94%. Desde que foi criada, a comissão se reuniu com o sindicato sete vezes, sem fechar acordo. Os servidores estão sem reajuste desde 2017. Porém, os professores não pedem apenas o que lhes vem sendo negado, há pelo menos dois governos. Eles chamam a atenção da sociedade para a política dedicada à educação. A APP-Sindicato denuncia o estabelecimento da sua mercantilização, levada à frente por ninguém menos que o governador do estado do Paraná. Ao invés de agir para reestruturar a educação pública do estado, de combater a origem de seus problemas e anunciar investimentos, Ratinho pretende cobrar das escolas resultados que um grande passivo de ausência não permite que elas alcancem, no momento.

O planeta necessita de políticas colaborativas e o governador Ratinho aposta em uma educação de resultados, como se as escolas fossem lugares onde se formam humanos padronizados, treinados para dizer o estritamente necessário, quando inquirido por algum superior. Escola é lugar de liberdade, bem diferente de um curso de datilografia, de onde se espera que todos saiam com a mesma competência de datilografar tantos caracteres por minuto. O ambiente escolar deve oferecer o mais amplo acesso a canais de pesquisa, sobre todo e qualquer assunto. As escolas devem estar prontas para responder a seres que nasceram sob o signo da internet e não imaginam um professor que não esteja absolutamente antenado. Confiar a educação pública a quem não tem experiência alguma com o processo público e que administra um tipo de escola, que tem por objetivo entregar ao mercado de trabalho um conjunto de mão de obra padronizado, para realizar o mesmo tipo de serviço, é menosprezar o processo de ensino-aprendizagem. É impossível acreditar que a sociedade paranaense votou em Ratinho para ele fazer esse tipo de coisa.

O governador não está comprometido com mais de 11 milhões de habitantes, senão com uma meia dúzia de rentistas que, inclusive, apostam na reforma da Previdência que o Ratinho apoia. É lastimável que a população do Paraná tenha se deixado seduzir pela ideologia do Estado Mínimo, como se dele fosse se beneficiar. A grande maioria da população do estado depende dos serviços públicos, principalmente os que chegam onde os privados não. Os serviços devem ser gratuitos, pois filhos de assalariado não vai conseguir estudar em uma escola particular. É humanitário que, no nono país mais desigual do mundo, a educação a saúde, o transporte, a moradia, entre outras necessidades básicas, sejam gratuitas, porque já foram pagas pela população, sob os diversos impostos e contribuições que o trabalhador injeta na economia, todos os dias.

Uma professora do Paraná já provou que, de cada R$ 1,00 investido nas universidades estaduais, R$ 4 são gerados onde elas estão assentadas. Trata-se de uma conquista civilizatória de toda a sociedade. As instituições públicas de ciência são responsáveis por 95% das pesquisas desenvolvidas no Brasil. Esse sinistro movimento dos governos estadual e federal contra a educação causa temor e estupefação. Gestos dessa natureza são comuns em governos totalitários e autoritários, cujo pensamento único não pode ser contestado. A mercantilização da educação não conduzirá o estado a um bom lugar. Escolas particulares são tratadas por seus gestores, antes de tudo, como empresas que devem dar lucros. Para isso, quanto menos investimento, melhor. Pessoas com

necessidades especiais são, em geral, excluídas de escolas particulares. São as escolas públicas que oferecem vaga a essas pessoas. Pode ser que essas pessoas frustrem o plano de metas do governador. Porém, não é a produção em série que faz uma escola desenvolvida, mas a produção e a diversidade do saber. Defender uma escola pública laica, gratuita e de qualidade é uma pauta que une estudantes e trabalhadores, não apenas para o dia 14, mas para todo o tempo que durar a vigente distopia brasileira.