A falta de água em Curitiba e no litoral do Paraná deixou de ser exceção e virou rotina incômoda, previsível e, pior, administrada como se fosse culpa do cidadão que abre a torneira. Em pleno verão, cozinhar, escovar os dentes, tomar banho ou simplesmente usar o banheiro virou um exercício de improviso em Guaratuba, Matinhos, Caiobá e também na capital.
Quando o sistema falha, a velha mídia corporativa e o governo recorrem ao script conhecido. Dizem que a população “aumenta exponencialmente” no litoral, como se essa descoberta fosse recente, como se o verão tivesse sido inventado ontem. Há mais de três décadas o poder público sabe que o litoral incha na temporada. Não é surpresa, é calendário.
O problema real passa longe do turista com Havaianas no pé. Falta investimento estrutural, sobra gestão orientada por planilha financeira. A empresa responsável pelo abastecimento, a Sanepar, reajustou tarifas, distribuiu dividendos generosos a acionistas e empurrou obras essenciais para a frente. Água virou custo, não prioridade.
Uma leitora do Blog do Esmael resumiu o drama com precisão cirúrgica. “Primeiro sucateou a Sanepar, terceirizou os serviços, encareceu a conta, tudo pra poder privatizar a estatal que já foi uma das melhores referências de saneamento básico do Brasil.” Não é desabafo, é diagnóstico.
No litoral, a crise ganha contornos cruéis. Restaurantes fecham, hóspedes vão embora, famílias com crianças e idosos esperam caminhão-pipa como quem espera milagre. Em dias de sensação térmica acima dos 40 °C, ouvir que “houve rompimento de adutora” soa menos como explicação técnica e mais como confissão de despreparo crônico.
Curitiba também sente o baque, devido à interrupções da Sanepar. Bairros inteiros passam dias sem água enquanto discursos oficiais pedem “uso consciente”, como se o problema fosse o tempo do banho e não a ausência de infraestrutura.
Diante desse cenário, só resta chamar o Messias Obama. Não o ex-presidente dos Estados Unidos, mas o nosso Bessias das Araucárias, o personagem “salvador” que surge quando a política falha e o povo percebe que está sozinho. Quando falta água, a retórica evapora rápido.
A crise hídrica no Paraná não é fenômeno natural nem castigo divino. É escolha política. Escolha de priorizar acionistas, terceirizações e projetos de privatização em detrimento do básico. Água não é favor, é direito.
Se o governo insiste em culpar o verão, a população responde com a torneira seca. E água, ao contrário do discurso oficial, não nasce de blá, blá, blá. Nasce de investimento público, planejamento e respeito a quem paga a conta.
Moral da história: no litoral do Paraná, água virou artigo mais raro que fogos de artifício.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




