O líder do Chega, André Ventura, principal nome da extrema direita em Portugal, foi retirado às pressas de um comício em Tavira após passar mal diante do público [abaixo, assista o vídeo]. O incidente ocorreu nesta terça-feira (13), a poucos dias das eleições legislativas antecipadas, marcadas para 18 de maio, e mobilizou aliados e adversários em manifestações públicas de solidariedade.
A cena causou alvoroço: Ventura interrompeu seu discurso por volta das 21h10, levou as mãos ao peito e à garganta, e foi amparado por membros de sua comitiva. Bombeiros e uma ambulância do serviço de emergência o socorreram no local. Segundo informações preliminares, o político está consciente e foi encaminhado ao Hospital de Faro para exames.
Apesar das comparações inevitáveis com Jair Bolsonaro, que também passou por internações antes de momentos decisivos na política brasileira, a equipe de Ventura tenta minimizar o episódio como algo isolado.
Em meio à reta final da campanha, líderes de outros partidos expressaram votos de pronta recuperação. Luís Montenegro (AD/PSD), Pedro Nuno Santos (PS) e outros dirigentes usaram as redes para enviar mensagens de solidariedade. Mas o momento também foi lido, nos bastidores, como uma infeliz metáfora da tensão que toma conta da política portuguesa.
Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, confirmou que Ventura “está bem, consciente”, e aproveitou para reforçar o discurso eleitoral. “Ele nos disse: não desistam, vamos ganhar as eleições”, afirmou ao reassumir o palco em Tavira.
A crise de Ventura acontece no auge de uma disputa acirrada. As eleições de 2025 foram convocadas após a queda do governo de Luís Montenegro, envolvido em um escândalo que mistura interesses familiares e contratos públicos com empresas como a Solverde, da área de jogos.
A queda ocorreu após o Parlamento rejeitar uma moção de confiança em março, acentuando o desgaste do bloco conservador liderado pela coligação AD (PSD-CDS). O episódio abriu espaço para que o Chega, terceira força no Parlamento, tentasse se apresentar como alternativa viável ao eleitorado descontente.
As pesquisas mais recentes mostram a coligação AD na frente com 34,1%, seguida de perto pelo PS com 26,9%. O Chega aparece em terceiro, com cerca de 16,8% das intenções de voto, confirmando o crescimento da extrema-direita portuguesa. Analistas políticos destacam que o Chega pode aumentar sua bancada, mas enfrenta limites institucionais e a rejeição de outros partidos para composições.
Com o método proporcional de D’Hondt, as alianças pós-eleitorais terão papel central na governabilidade. A eleição se dá em 22 círculos eleitorais, com Lisboa e Porto concentrando o maior número de cadeiras.
O mal-estar de André Ventura simboliza mais que um problema de saúde: expõe a tensão crescente da política portuguesa, marcada por escândalos, colapsos institucionais e a ascensão da retórica extremista. Se por um lado o Chega surfa na onda do descontentamento, por outro, eventos como este reforçam a fragilidade de lideranças personalistas em momentos decisivos.
A poucos dias do pleito, o eleitor português é chamado a decidir entre continuidade, ruptura institucional ou aventuras populistas. O palco está montado.
Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.