Um chamado à humanidade na política

Arilson Chiorato*

Na manhã deste último domingo (16/05), a morte do prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas, comoveu o Brasil. A batalha contra o câncer foi travada bravamente e, mesmo em condições difíceis, o prefeito seguiu desempenhando sua função. Apesar das divergências ideológicas, que não são poucas, é fundamental reconhecer a liderança de Bruno Covas na defesa da vacina Coronavac que, surtiu em alguns momentos situações de conflito com o presidente da República Jair Bolsonaro e, até mesmo, com o Governador de São Paulo, João Dória, seu correligionário.

Neste artigo, quero chamar atenção para a necessidade da empatia e da solidariedade. A política é, por essência, o debate de ideias que devem resultar na construção de uma sociedade melhor para seus cidadãos. Engana-se quem pensa que a política é apenas a de caráter institucional, pelo contrário, ela está presente nos movimentos sociais, nos debates nas filas da padaria, nas críticas sobre o preço do gás, na falta de vagas em creches, nas grandes filas dos postos de saúde. Enfim, tudo é política. É ela quem move a sociedade, às vezes acertadamente, tantas outras de forma negativa. Mas é imprescindível para a vida em sociedade.

Tenho apreço pelo debate de ideias e, não poderia ser diferente, é este o papel que busco desempenhar enquanto deputado de oposição, apontar caminhos, tecer críticas, analisar condutas, entendimentos e projetos, mas sempre na base do respeito. Na política, entre os diferentes espectros ideológicos, há muito campo para debate. O que entristece é ver quando o debate deixa de ser saudável e passa a se tornar ataque, movido pelo ódio, visando desqualificar o interlocutor e partindo muitas vezes para o campo pessoal, a disseminação de mentiras, críticas rasas e xingamentos gratuitos.

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Além disso, temos visto, lamentavelmente, que em casos de fatalidades, de doenças e perda de familiares, estas situações são utilizadas por grupos radicais para promover o ódio e faltar com respeito não só ao político em questão, mas à sua família. Lembro de pessoas que torciam contra a recuperação do ex-presidente Lula quando teve câncer; o mesmo aconteceu com Dilma, que também sofreu ataques misóginos completamente fora do aceitável dentro do debate político; comemoraram a morte de Marisa Letícia, inclusive médicos; comemoraram a morte do irmão de Lula e de seu neto, ainda criança.

Hoje, há quem comemore a morte de Bruno Covas, um político de apenas 41 anos, que tinha uma vida pela frente, para construir ao lado de sua família e seu filho. Em que pese todas as divergências ideológicas e de atuação, é inaceitável a comemoração de uma morte tão sofrida. O câncer é brutal, transformou completamente a aparência de Covas e, roubando-o do convívio de seu filho. Como pode alguém comemorar a morte de um pai? A política não é espaço para existirem inimigos, mas para existirem adversários, de forma que o respeito prevaleça.

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É triste constatar que a polarização política que vivemos resulta na falta de humanidade, de solidariedade com a dor de quem fica, de compaixão e principalmente de falta de respeito com o luto dos familiares. Precisamos construir um ambiente onde não seja aceitável a comemoração do sofrimento alheio, onde possamos divergir, debater e manter a civilidade.

*Arilson Chiorato é Deputado Estadual, Presidente do PT – Paraná e Mestre em Gestão Urbana pela PUC-PR.