Trump pode bombardear a Venezuela para desviar o foco da crise que corrói a Casa Branca, alimentada pela reemergência do caso Jeffrey Epstein e pelas pressões políticas que levantam até a hipótese de impeachment.
A manutenção do poder, a qualquer custo, virou marca de alguns líderes globais. Benjamin Netanyahu, em Israel, prolonga uma guerra brutal contra o povo palestino para escapar de acusações de corrupção.
Boris Johnson, no Reino Unido, estimulou até cair a escalada na Ucrânia enquanto tentava sobreviver ao escândalo das festas clandestinas em Downing Street, durante o confinamento por Covid.
Emmanuel Macron fez pose de “general europeu” para garantir a reeleição, empurrando a Ucrânia para um confronto insustentável com a Rússia.
Na Alemanha, Olaf Scholz pagou o preço nas urnas, esmagado pela inflação do gás e dos alimentos.
Nos Estados Unidos, a fórmula é antiga. Bill Clinton apelou ao bombardeio do Iraque para tentar abafar o escândalo com Monica Lewinsky. A guerra, ali, funcionou como cortina de fumaça para consumo interno.
Trump segue a mesma lógica. O presidente americano volta a assediar a Venezuela enquanto as revelações sobre sua relação com Jeffrey Epstein ganham novo capítulo.
E-mails, investigações e relatos sugerem que Epstein dizia ter informações capazes de “derrubar” o presidente, ampliando a pressão política e o temor de danos irreversíveis à imagem do republicano.
A partir desse caldo tóxico, cresce o risco de que Trump recorra à fórmula mais antiga da política imperial, a ação militar externa, para recuperar controle narrativo.
Caracas virou alvo natural. Nicolás Maduro é rotulado como líder de um “narcoestado” por Washington desde a era Pompeo, o que facilita a construção de justificativas morais para um ataque.
A fronteira com a Colômbia, agora sob governo progressista, e o alinhamento de Caracas a China, Rússia e Irã aumentam o apetite dos falcões trumpistas.
A história ensina, caro leitor, que violência estatal e ações espetaculares têm a capacidade de distrair o público dos problemas reais. Vide o caso recente do Rio de Janeiro, tratado aqui no Blog do Esmael, quando a megaoperação que matou 121 pessoas foi seguida da transformação do governador Claudio Castro em herói da necropolítica, a política da morte que desumaniza, normaliza o extermínio e rende dividendos eleitorais.
A necropolítica funciona como metástase, um câncer institucional que atravessa fronteiras e se espalha rapidamente quando encontra dirigentes sedentos por poder e imunidade. É o método perfeito para tempos de crise.
Portanto, se a lógica prevalecer, Maduro tem motivos de sobra para colocar as barbas de molho.
Trump, acuado pela sombra de Epstein e pressionado pela elite financeira e militar que sempre orbitou a Casa Branca, pode transformar a Venezuela em palco de demonstração de força, um espetáculo bélico para reordenar sua narrativa, mobilizar a base radicalizada e tentar reconquistar autoridade.
No tabuleiro geopolítico, ataques preventivos ou “operações cirúrgicas” são a moeda de escape dos líderes que buscam desviar derrotas morais internas.
A Venezuela, fragilizada economicamente e isolada diplomaticamente, oferece a Trump o cenário ideal para o velho truque do “inimigo externo”.
Resta saber se o custo político, militar e regional desse movimento será suportável para os próprios Estados Unidos, para o continente e para a democracia.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.






