Sob a mediação de Trump, Israel, Emirados Árabes Unidos e Bahrein assinam acordos de paz

Assinatura de acordos de paz entre Israel, Bahrein e Emirados Árabes Unidos foi realizada em uma grande cerimônia nos jardins da Casa Branca. Foto: Alex Brandon/AP

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assinou nesta terça-feira (15) acordos históricos que normalizam as relações de Israel com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein. O compromisso faz parte de um acordo de paz mediado pelo presidente americano, Donald Trump, que com a aproximação das eleições nos Estados Unidos, tenta se mostrar como um promotor da paz.

Netanyahu assinou os acordos bilaterais na Casa Branca junto ao ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah bin Zayed Al-Nahyan, e do Bahrein, Abdullatif Al-Zayani. Donald Trump também estava presente durante a assinatura. Em tempos de pandemia, nenhum aperto de mão imortalizou o momento, mas os líderes posaram lado a lado para fotos.

“Após décadas de divisões e conflitos, somos testemunhas do surgimento de um novo Oriente Médio”, afirmou o presidente americano durante uma cerimônia com grande pompa nos jardins da Casa Branca. Segundo ele, “cinco ou seis países árabes” seguirão “em breve” o exemplo dos dois Estados do Golfo, mas não indicou quais seriam esses Estados.

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Já Netanyahu evocou “um momento histórico”, afirmando que a assinatura dos acordos bilaterais com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein pode “colocar um fim ao conflito israelo-árabe de uma vez por todas”. O líder israelense não poupou elogios a Trump e também agradeceu, Al-Nahyan e al-Zayani em árabe.

Saudando “uma mudança no coração do Oriente Médio”, o ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos elogiou Netanyahu “por ter escolhido a paz e por ter cancelado a anexação dos territórios palestinos”, mesmo se o líder israelense tenha declarado que apenas adiou a decisão. Já o chefe da diplomacia de Bahrein fez um apelo por uma “solução a dois Estados” para colocar um fim ao conflito israelo-palestino.

Oportunidades econômicas
Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein são os primeiros países a se reconciliar com Israel desde os acordos de paz com o Egito e com a Jordânia, em 1979 e 1994, respectivamente. Em comum com a nação judaica os dois novos aliados compartilham a animosidade com o Irã – o inimigo número 1 dos Estados Unidos na região.

Há muitos anos, vários Estados árabes petroleiros cultivam discretos laços com o governo israelense. No entanto, a normalização das relações oferece amplas oportunidades, especialmente econômicas, a países que buscam superar os prejuízos provocados pela pandemia de coronavírus.

“É uma conquista de primeira classe”, avalia David Makovsky, do centro de estudos Washington Institute for Near East Policy. Ele destacou que para os israelenses isto “não implica os mesmos riscos” enfrentados por Menahen Begin, “quando deixou o Sinai” para o Egito, ou Yitzhak Rabin, quando aceitou negociar com Yasser Arafat a criação de um Estado palestino.

No entanto, a “Visão para a Paz”, plano apresentado no início do ano pelo presidente americano com o objetivo de resolver o conflito israelense-palestino, ainda está longe do sucesso. A Autoridade Palestina rejeita a iniciativa e nega a Trump o papel de mediador por ter tomado decisões favoráveis a Israel.

“Não haverá paz”, diz Abbas
Logo após a assinatura do acordo de Israel com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou o compromisso. “Não haverá paz, segurança ou estabilidade para ninguém na região sem o fim da ocupação e sem o respeito pelos plenos direitos do povo palestino”, declarou.

Mais cedo, o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, disse que esta terça-feira será um “dia obscuro” para o mundo árabe. Também criticou as divisões entre os países árabes.

Já os palestinos convocaram diversas manifestações contra os acordos. Eles afirmam ter recebido uma “punhalada nas costas” dos países árabes que aceitaram assinar um compromisso com Israel sem esperar a criação de um Estado Palestino.

Dois foguetes também foram disparados nesta terça-feira da Faixa de Gaza, um enclave palestino dirigido pelo movimento islâmico Hamas, informou o Exército israelense. Um dos projéteis foi interceptado pelo sistema de defesa israelense. O segundo caiu na cidade de Ashdod, situada entre Gaza e a cidade israelense de Tel Aviv, deixando alguns feridos leves. Nenhum movimento armado reivindicou esses disparos até o momento.

Vitória para Netanyahu e Trump
Os acordos representam uma vitória para Netanyahu e aproximam Israel de seu objetivo de ser aceito na região. Para Trump, que até agora tinha poucos resultados diplomáticos para exibir aos eleitores durante a campanha para a reeleição, os acordos são considerados positivos.

Desde que foram anunciados, os compromissos com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, os republicanos não poupam elogios ao presidente americano e defendem a atribuição do Prêmio Nobel da Paz a ele.

Apesar das celebrações, algumas divergências surgiram sobre as condições do acordo com os Emirados. Trump afirmou nesta terça-feira que não teria “nenhum problema” em vender aviões de combate F-35 aos Emirados Árabes Unidos, caças que há muito tempo Abu Dhabi deseja para se tornar uma potência militar regional.

No entanto, Israel se opõe à venda, já que é o único país da região que possui os caças americanos. Tel Aviv pressiona os Estados Unidos para manter sua vantagem tecnólogica esmagadora em relação aos seus vizinhos árabes.

Por RFI, com informações da AFP