Sindicato entra com ação contra Bolsonaro por ataques a jornalistas

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) entrou com uma ação contra o presidente, Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (7) – Dia do Jornalista – por danos morais coletivos causados à categoria. Além de uma indenização de R$ 100 mil, a entidade pede uma a concessão de liminar proibindo Bolsonaro de continuar a cometer os ataques continuados contra veículos de imprensa e seus profissionais. Reivindicam também que ele seja proibido de divulgar, nas suas redes sociais, nomes e dados pessoais de profissionais que fizeram matérias críticas ao seu governo.

Caso a Justiça decida a favor da ação movida pelo sindicato, a indenização será doada ao Instituto Vladmir Herzog, que atua em defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos no país.

De acordo com o presidente do SJSP, Paulo Zocchi, Bolsonaro é “inimigo do jornalismo e da democracia”. Ele destacou que, anteriormente, a vida dos jornalistas no Brasil já não vinha sendo fácil. Mas, com a ascensão de Bolsonaro, o ambiente ficou “extremamente tóxico”. “O que acontece é que o Bolsonaro é um agressor permanente de jornalistas e do jornalismo em si”, disse Zochi.

A ação civil pública tem como base o relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, realizado anualmente pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Somente no ano de 2020, Bolsonaro proferiu 175 ataques à imprensa, sendo 26 ocorrências de agressões diretas a jornalistas, 149 tentativas de descredibilização da imprensa e duas agressões diretas contra a própria Fenaj.

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“É um conjunto de ações que estimula a violência, de maneira direta ou indireta. A maneira como Bolsonaro se comporta estimula as pessoas que o apoiam a seguirem nesse mesmo caminho. Então vira um incentivo permanente para que os jornalistas sejam agredidos por meio virtual ou na rua”, disse o presidente do sindicato.

Machismo e homofobia
Zochi destacou que, quando as mulheres são os alvos escolhidos por Bolsonaro, os ataques adquirem conteúdo misógino. Foi o caso da jornalista Patrícia Campos Mello, repórter do jornal Folha de S.Paulo. No final de 2018, ela publicou reportagem sobre um esquema irregular de disparo de mensagens por WhatsApp nas eleições que teria favorecido a vitória do presidente. Ao comentar a revelação, Bolsonaro afirmou que Patrícia “queria dar o furo”, fazendo trocadilho de cunho sexual com o jargão da atividade jornalística.

Outras jornalistas, como Bianca Santana (que obteve na Justiça direito à retratação), Vera Magalhões e Thais Oyama também foram vítimas da ira de Bolsonaro e seus seguidores. Esta última foi alvo de ataques xenófobos, por conta da sua ascendência oriental. Por outro lado, “em relação ao homens, declarações tem caráter homofóbico”, afirmou o advogado Raphael Maia, coordenador jurídico do sindicato.

“A gente pede que o juiz conceda uma liminar para que Bolsonaro se abstenha de utilizar suas redes sociais para publicar mensagens de cunho ofensivo, jocoso, deslegitimador dos jornalistas. Inclusive vedando a divulgação dos perfis dos jornalistas e de seus dados. Entendemos que qualquer crítica deve ser feita aos fatos e às matéria jornalísticas. E não à pessoa”, frisou Maia.

Atentado em Olímpia
Outro exemplo das agressões estimuladas por Bolsonaro foi o atentado cometido contra a sede do jornal Folha da Região, na cidade de Olímpia, interior de São Paulo. No mês passado, um homem ateou foco contra o prédio, onde também mora o jornalista José Arantes, editor do veículo. O suspeito, um bombeiro da cidade, disse em primeiro depoimento que discordava da abordagem dada pelo jornal na cobertura da pandemia do novo coronavírus. O veículo defendeu medidas restritivas de circulação para conter a disseminação da doença.

Arantes, que participou da entrevista coletiva promovida pelo SJSP, contou que a suspeita de ser o mandante recai sobre um comerciante da região. Anteriormente, ele e um dos seus filhos já haviam recebido ameaças. Mas, até o momento, as investigações não avançaram, e ambos continuam em liberdade.

“Se aconteceu comigo, numa cidade de 55 mil habitantes, num jornal que circula uma vez por semana, pode acontecer em qualquer lugar do Brasil. A violência está grassando por todo o país. Estamos entrando numa situação que pode ser complicada. Eu, que comecei na profissão ainda nos tempos da ditadura, não quero viver isso de novo”, declarou o jornalista.

Por Tiago Pereira, da RBA