Silvio Berlusconi, ícone da política e do neoliberalismo italiano, faleceu hoje aos 86 anos

O ex-primeiro-ministro da Itália e líder do Forza Italia, Silvio Berlusconi, faleceu hoje pela manhã no hospital San Raffaele, em Milão. Com 86 anos de idade, Berlusconi deixou sua marca na política e no país. Sua trajetória política foi marcada por controvérsias e conquistas, e agora é momento de reflexão sobre seu legado marcado pela implementação do neoliberalismo e o surgimento da extrema direita no País da Bota.

Berlusconi foi alçado ao poder devido à Operação Mãos Limpas, que supostamente combatia a corrupção. Essa força-tarefa inspirou 20 anos depois a Operação Lava Jato no Brasil, que possibilitou a eleição de Jair Bolsonaro (PL) a partir da atuação do ex-juiz Sergio Moro (União) e do ex-procurador Deltan Dallagnol (PODE). A exemplo do que ocorreu no Brasil, essa onda de punitivismo foi nefasta para a economia e para a política na Itália. Especialistas apontam 30 anos de atraso e surgimento da extrema direita após Berlusconi.

A Operação Mãos Limpas também foi notícia pelos casos de corrupção. Em setembro de 1993, o juiz Diego Curtó, do Tribunal de Milão e um dos mais influentes da Mãos Limpas, havia embolsado o equivalente a algumas centenas de milhares de dólares. Um horror para os “crentes” que apoiavam a limpeza na política italiana.

A notícia da morte de Berlusconi foi recebida com tristeza por seus amigos, inimigos, admiradores e detratores. É um momento de condolências e carinho para a família do ex-primeiro-ministro. Afinal, independente das opiniões sobre ele, sua presença marcou a história italiana – retrata o jornal Corriere Della Sera.

Se tivéssemos que escolher um momento para analisar a vida de Berlusconi, talvez seja a noite de 8 de novembro de 2011, diz a publicação. Um verdadeiro estadista se define não apenas pela forma como conquista o poder, mas também pela forma como o deixa. Foi nesse momento que Berlusconi mostrou sua dimensão como líder político, afirma o jornal.

A biografia de Berlusconi não pode começar apenas pelo seu império televisivo e financeiro, ou por suas vitórias eleitorais e conquistas no futebol. O verdadeiro momento de destaque foi quando ele perdeu o poder. Em meio à crise econômica e ao ataque dos mercados à dívida pública italiana, Berlusconi perdeu a maioria no Parlamento. Mesmo pressionado por seus aliados a resistir, ele renunciou ao cargo de primeiro-ministro, reconhecendo a lógica da política democrática.

Berlusconi foi tanto um fenômeno político quanto um reflexo da sociedade italiana. Sua presença representava a doença e a tentativa de cura do país. Ele não era apenas o trapaceiro descrito por alguns, nem o salvador da pátria aclamado por outros. Era o fundador de uma nova direita e de uma nova política, com ambições liberais e traços populistas.

Berlusconi enfrentou inúmeras acusações ao longo de sua vida, mas muitas delas foram arquivadas ou resultaram em absolvição. Acredita-se que seu único crime tenha sido a fraude fiscal, pelo qual foi condenado. No entanto, cada evento em sua vida pública teve seus altos e baixos, assim como o próprio Berlusconi.

Apesar das polêmicas, Berlusconi deixou seu legado na política italiana. Ele mudou [para pior, Blog do Esmael] a vida dos italianos ao introduzir a televisão privada e proporcionar entretenimento acessível a todos. Sua habilidade de cativar o povo e seu papel na formação de uma nova coalizão de centro-direita foram conquistas significativas.

A esquerda muitas vezes se confrontou com o fenômeno de Berlusconi, sem compreender o que o povo admirava nele. Berlusconi encarnava o mito do homem de sucesso, que conquistou o público simples, enquanto a esquerda o rejeitava. Ele dominou a política italiana por duas décadas, mesmo quando estava na oposição.

A vida pública de Berlusconi foi manchada por controvérsias e acusações de corrupção, envolvimento com máfia e escândalos sexuais. Ele enfrentou processos judiciais por fraude fiscal, suborno de testemunhas e prostituição de menores. Essas acusações e escândalos prejudicaram sua imagem e causaram divisões na opinião pública. Mas seu maior pecado foi destruir o estado de bem-estar social e aberto as portas para o neoliberalismo econômico, a precarização do trabalho e do emprego.

No entanto, apesar de suas controvérsias, Berlusconi conseguiu manter um forte apoio entre uma parte significativa da população italiana. Ele era visto por muitos como um líder carismático, capaz de se conectar com as preocupações e aspirações do povo. Sua abordagem populista e seu estilo de vida extravagante atraíam um segmento da sociedade que o via como um símbolo de sucesso e prosperidade.

Além de sua carreira política, Berlusconi também teve um impacto considerável no mundo dos negócios. Ele construiu um império midiático, com propriedades na televisão, rádio, editoras e setor imobiliário. Sua empresa, Mediaset, tornou-se uma das principais companhias de comunicação da Itália.

No campo internacional, Berlusconi teve um papel ativo na política europeia. Durante seu mandato como primeiro-ministro, ele buscou fortalecer os laços com os Estados Unidos e promoveu uma postura mais pró-ocidental em relação à União Europeia. No entanto, suas relações com outros líderes europeus nem sempre foram harmoniosas, e ele enfrentou críticas por suas declarações polêmicas e falta de diplomacia em algumas ocasiões.

Com a morte de Silvio Berlusconi, a Itália perde um dos personagens mais influentes e controversos de sua história política recente. Seu legado principal é a implementação do neoliberalismo econômico, privatizações, fim de direitos trabalhistas, precarização da mão de obra, favorecimento de especulações financeiro e surgimento da extrema direita. A exemplo de Bolsonaro no Brasil, que foi gestado na Lava Jato, Berlusconi foi cria da Operação Mãos Limpas na Itália. Um horror para a democracia e o Estado de Direito.

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