O senador Davi Alcolumbre (União-AP) se vê encurralado num cenário que vai além da contrariedade com a indicação de Jorge Messias ao STF, pois a pesquisa AtlasIntel, divulgada nesta terça (2), o coloca entre os líderes com imagem mais negativa do país, ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ambos expoentes do Centrão.
Essa fotografia da opinião pública abre espaço para o governo Lula pressionar pela aprovação de Messias de fora para dentro do Congresso, explorando a vulnerabilidade destes dirigentes integrantes do Centrão.
A sondagem mostra o presidente do Senado com apenas 4% de avaliação positiva contra 70% de negativa. Hugo Motta tem 3% de positiva e 76% de negativa. Na leitura política, trata-se de um flanco exposto para o Planalto, exatamente quando Alcolumbre questiona a indicação de Messias.
O advogado-geral da União foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 20 de novembro, contrariando a preferência de Alcolumbre por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado. Desde então, o clima é de confronto direto.
Aliados do governo identificam na pesquisa um ambiente propício para empurrar Messias rumo aos 41 votos necessários, especialmente entre senadores mais sensíveis ao humor do eleitorado evangélico. A estratégia inclui levar uma comitiva de pastores ao Senado para demonstrar apoio público ao indicado, movimento considerado decisivo para quebrar resistências.
Messias tem buscado votos um a um, conversando com senadores por telefone e em gabinetes, ressaltando sua identidade como “evangélico temente a Deus”. Também reforçou esse discurso nas redes sociais, associando-o ao Dia do Evangélico, comemorado em 30 de novembro.
Alcolumbre, porém, tenta usar seu poder interno para bloquear a escolha. Nos bastidores, afirma existir até 60 votos contra Messias, embora governistas contestem esse número.
A data da sabatina e da votação foi marcada para 10 de dezembro, numa tentativa de acelerar o processo e limitar a capacidade de articulação do indicado. Entretanto, o Planalto ainda não enviou a mensagem da indicação para o Senado, o que invabiliza a arguição dos senadores.
O relator escolhido por Alcolumbre, Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo, deve apresentar parecer favorável a Messias. O gesto é visto como sinal de distensão, ainda que não garanta vitória no plenário. Aliados do Planalto avaliam que a queda de braço só se resolverá com um acerto político direto entre Lula e o presidente do Senado.
Nos flancos bolsonaristas, a tensão explodiu quando senadores do PL cancelaram o almoço do bloco Vanguarda que receberia Messias, temendo desgaste com a base. Sem o encontro coletivo, o indicado terá de buscar votos individualmente.
O ministro Carlos Fávaro (PSD-MT) descartou reassumir o mandato para votar, afirmando que seu suplente apoiará Messias. A costura mostra a preocupação do Planalto com cada voto.
A postura de silêncio do ministro Flávio Dino, do STF, também movimentou a cena. Ele afirmou manter prudência por se tratar de assunto “politicamente controverso”. A oposição tenta colar em Messias a marca de ser “um novo Dino”, mas aliados sustentam que ele tem perfil mais negociador.
Com a avaliação pública em queda de Alcolumbre e Hugo Motta, a conjuntura aponta para uma oportunidade rara para Lula transformar desgaste alheio em trunfo político. O Planalto aposta que esse humor negativo sobre os chefes do Legislativo pode influenciar votos ou pelo menos reduzir a disposição de confronto direto.
A aprovação de Messias virou teste importante de força dentro do Senado. Uma derrota teria peso histórico: desde o final do século XIX, nenhum indicado à Suprema Corte é rejeitado. Uma vitória, ao contrário, reorganizaria a relação entre Lula e o Senado num terreno onde, até aqui, o governo mantinha sua mais sólida base de apoio.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




