Que absurdo! Esses professores e servidores públicos não querem se contaminar pela Covid-19!

O governo do Paraná chamou para o trabalho presencial educadores –professores e funcionários de escolas– e servidores ligados à Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SEAB). Eles resistem à obrigatoriedade diante do avanço da pandemia no estado.

Que absurdo! Esses professores e servidores públicos não querem se contaminar pela Covid-19! [Aviso ao navegante: o texto contém ironias.]

Os funcionários do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) não querem se infectar pelo vírus, disse o presidente do Sind-SEAB, o engenheiro de pesca Temistocles Santos Vital.

“Não é questão de não querer trabalhar e sim de se proteger e proteger a família. O negócio tá matando e tá violento”, disse o líder sindical. “Gente é preciso chamar o supervisor e conversar sobre [isso]. É questão de saúde pública. Se tem o decreto e não tem necessidade de estar presente, dá pra fazer um rodízio interno pelo menos pra evitar aglomeração de funcionários….”, reivindica.

A APP-Sindicato denuncia o descaso com a falta de equipamentos e de respeito aos trabalhadores. Segundo a entidade, o abandono é o retrato da educação na pandemia.

Professores e funcionários relatam situações de risco e desrespeito à vida no Paraná.

Economia

Como pode essa APP-Sindicato exigir proteção do vírus?

Desde o dia 21 de março, quando o primeiro decreto estadual, suspendeu as aulas presenciais por conta Coronavírus, a direção estadual da APP-Sindicato emitiu um alerta “o governador Ratinho Jr. coloca em risco a vida dos funcionários de escola ao convocá-los para o trabalho presencial”. A APP-Sindicato afirma nunca foi contrária a manutenção da entrega de alimentos e kits pedagógicos, o que o Sindicato luta veementemente contra é pela falta de segurança e de organização as quais foram submetidos os trabalhadores da educação.

Hoje, um ano depois, pouca coisa mudou. Faltam equipamentos de segurança, falta organização pedagógica, faltam profissionais para manutenção de escolas de trabalho e sobra desrespeito com a vida de todos. A educadora Suzana (nome fictício, em virtude das represálias sofridas pelo governo) trabalha no Cajuru, em Curitiba e relata as dificuldades enfrentadas agora em plena bandeira vermelha. “No colégio onde eu atuo não tem água no banheiro, devido ao rodízio [de abastecimento de água] que acontece na cidade. Isso já dura meses. Nós temos que lavar as mãos na pia da cozinha, pois somente lá recebe água da caixa”, relata.

Suzana comenta ainda que somente agora em março os funcionários receberam luvas e macacões de segurança. “Eu recebi 10 luvas descartáveis, uma roupa tamanho M e fui convocada para trabalhar das 8h às 17h. Eu estou acima do meu peso, meu tamanho deveria ser o GG, mas não tem nada que me sirva. É humilhante, é triste e eu tenho medo, pois quero viver”.

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A situação da educadora na capital do Estado não é diferente de centenas de outros relatos que a APP recebe. “Eu sei dos meus deveres, eu sei da importância de entregar o leite para uma família, mas eu também quero o meus direitos respeitados, quero a segurança que a propaganda do governo diz que temos”, conclui a educadora.

A funcionária de escola Lourdes Piedade Silva, de Maringá, tem mais de 60 anos e por isso está afastada das atividades presenciais. No entanto, conta que as cobranças e pressão de colegas de trabalho criam um clima de animosidade mesmo para quem está recluso. “Eu não gostaria de estar em casa. Eu gostaria de já ter sido vacinada e poder trabalhar com segurança. De verdade, eu me sinto impotente, porque tem muita gente com a mentalidade que estamos em casa porque não queremos trabalhar”.

Lourdes conta que no local onde trabalha, os que estão fora do grupo de risco sofrem com a sobrecarga de trabalho. “Na minha escola, quem não é grupo de risco e está trabalhando não está com condições. Estão sobrecarregados e não há essa segurança toda que o governo diz nas propagandas não”, comenta a agente educacional.

Falta condições de trabalho nas escolas do PR

Se, por um lado os funcionários de escola que fazem a linha de frente no trabalho presencial, por outro os professores relatam a sobrecarga de trabalho e a falta de condições de transmissão de conteúdos. Outro desafio do trabalho remoto são os custos adicionais. Para conseguir dar suas aulas, Marcelo Junior dos Santos, de Maringá precisou investir do próprio bolso num ambiente adequado de trabalho, além de comprar equipamentos que não possuía, como microfone e câmera. Para acrescentar, é ele quem paga o boleto da internet, sem nenhum auxílio extra do governo.

Segundo ele, o trabalho em home office tem hora para começar, mas não para acabar. Após dar aulas das 7h30 da manhã ao fim da tarde pelo Google Meet, e de subir os materiais didáticos para a plataforma do governo, às 17h30 começa a jornada extra – não remunerada.

É a noite que o professor tira um tempo extra para responder as dúvidas de estudantes e de pais e mães por e-mail e pelo WhatsApp. É nesse horário, também, que o professor reforça a divulgação de tarefas, insistindo para que seus alunos não abandonem os estudos.

“Não dá conta de fazer só na hora atividade, que é uma vez por semana. Então, a gente tem de atender eles [estudantes e pais] depois do horário mesmo. Não tem opção”, comenta o professor.

A carência de soluções

Um ano de pandemia, período que já está marcado pela imposição de um projeto autoritário do secretário de Educação, Renato Feder. “Nós sabemos o quanto é importante a manutenção de algumas tarefas nas escolas, como é a entrega dos alimentos e dos kits pedagógicos. Mas isso pode acontecer em regime de escala, com todos os cuidados. Infelizmente o governo do Estado não respeita a vida dos profissionais”, denuncia a secretária de Funcionários da APP, Nádia Brixner.

A situação piora ao analisar que muitos educadores relatam situações de perseguição e cobrança extrema no ambiente de trabalho. “Independente do vínculo de trabalho estamos sofrendo uma pressão muito grande nas escolas. Vivemos um clima muito tenso de repreensão. Sou PSS e já fui chamado atenção por compartilhar mensagens contra o governo. Fui alertado pela direção escolar que se uma empresa terceirizada assumisse eu estaria na rua, porque [de acordo com a direção da escola] a Seed estava fazendo um mapeamento dos funcionários que questionavam publicamente as decisões do governador e secretário”, reforça o agente educacional Renato (o educador preferiu não ser identificado).

Outro agravante, foi fechamento de mais de 50 escolas, em um surto de contaminação, após o governo insistir na realização da Semana Pedagógica feita de forma presencial, logo, categoria determinou que continuaria em estado de greve caso um novo decreto convocando aulas presenciais fosse emitido.