Preservar Usina de Xisto no Paraná é melhor para o Estado e para o país, por Enio Verri

Por Enio Verri*

Quem passou próximo às vias da Usina do Xisto (SIX), em São Mateus do Sul-PR, na última sexta-feira (3), tomou conhecimento do protesto dos petroleiros. A categoria volta a ficar em alerta por conta do anúncio de venda de uma refinaria em Manaus, parte do plano de desmonte e entrega de todo o sistema Petrobras pelo Governo Federal.

Além da entrega desse setor produtivo, as vendas vão gerar enorme prejuízo para a União, já que os valores negociados são bem abaixo do que os estimados por estudos de institutos de pesquisa como o Ineep – Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. A de Manaus, por exemplo, terá preço de venda 70% menor do que o valor avaliado pelo Ineep.

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Com o prenúncio de vendas a caminho, os trabalhadores denunciam que há indícios de que a gestão atual da Petrobrás estaria criando mecanismos para facilitar a entrega da Usina do Xisto. Será um enorme prejuízo para os paranaenses, com perda de postos de trabalho, redução da atividade no Estado, resultando em perda de renda na região da usina e perda para o país, que vai entregando seu patrimônio de mão beijada.

A SIX fica a 150 km de Curitiba, e possui o maior parque tecnológico da América Latina para pesquisas na área de petróleo. São 17 unidades trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias de refino e petroquímica, gás e energia, meio ambiente e derivados. E o melhor, gera lucros para o Centro de Pesquisa da Petrobrás (CENPES).

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A usina produz óleos combustíveis, GLP, gás combustível, nafta, enxofre e insumos para pavimentação, uma produção que vai para indústrias como de cerâmica, refinaria de petróleo, cimenteira, usinas de açúcar e agricultura.

Além disso, é a maior contribuinte de São Mateus do Sul, com aproximadamente 45% da arrecadação de ICMS e indiretamente por cerca de 50% do ISS, além dos royalties sobre a produção de óleo e gás de xisto.

Isso se reverte em obras, em qualidade dos serviços ofertados pelo poder público da região. Os gestores públicos ganham e a população ganha também.

Economia

A preocupação dos que trabalham na SIX tem toda a razão. A unidade precisa retomar suas atividades de pesquisa e ser de novo pólo de produção de novas tecnologias.

Com a pandemia, vimos que temos grande demanda de produção de gás oxigênio, e que poderia ter sido ampliado pela Petrobras. Ou aumentar a produção de insumos que a usina já tem experiência no Paraná.

Se a venda da SIX se concretizar, essa capacidade e novas oportunidades de crescimento se perdem. E temos visto isso na sanha de privatizações do governo, encabeçadas por Paulo Guedes. As estatais pararam de investir em pesquisa e estão seguindo a política de desinvestimentos para facilitar as vendas posteriores.

O tipo de política adotada pelo governo nos mostra que o prejuízo vem todo para o bolso do consumidor. A dolarização dos preços dos combustíveis é parte disso. No caminho oposto está o lucro aos acionistas da Petrobras, que receberam neste ano R$ 52 bilhões em distribuição de dividendos.

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Vamos continuar defendendo o patrimônio da estatal, para que gere lucro e trabalho para o Paraná, por consequência para o Brasil.

*Enio Verri, deputado federal (PT-PR) e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).