Para Bolsonaro, os errados são os outros

O deputado federal Enio Verri (PT-PR), líder do PT na Câmara, em artigo especial, afirma que o presidente Jair Bolsonaro faz um governo infantilizado, omisso e negligente em relação à vida dos brasileiros.

“Para Bolsonaro, pouco importa o quão profundamente se agrave uma crescente pandemia com mais de 870 mil contaminados e 43 mil mortos”, escreve o líder petista, ao se referir aos casos de coronavírus no País.

Então, Enio Verri orienta a bancada do PT para a saída política para a crise Bolsonaro:

“A única maneira de impedir a messiânica e catastrófica missão de Bolsonaro, de provar que o resto do mundo está errado, é tirando-o da Presidência.”

Leia a íntegra do artigo:

Os errados são os outros

Economia

Enio Verri*

O desgoverno Bolsonaro se parece aqueles pais que, durante o desfile da escola, se orgulham da marcha do filho, descompassada do restante da turma, como se ele fosse o único correto. Os outros países do mundo se baseiam em dados científicos sob os quais adotam medidas protetivas da sociedade e de suas respectivas economias. Já o Brasil tem um presidente negacionista, para quem as questões científicas são resolvidas retirando dois ministros da Saúde, médicos, nomeando um interino general paraquedista que não sabe a diferença entre o inverso do sul dos EUA e o do Norte do Brasil. Indiferentemente de bolsonaristas acreditarem no chanceler Ernesto Araújo, segundo quem a pandemia faz parte de um plano de dominação comunista, o Brasil continua visto como um pária mundial, cujo combate à pandemia está entregue a um presidente preocupado com qualquer coisa, menos com um vírus que assola o País.

Até uma criança de 10 anos sabe que a afirmação só seria possível em alguma descontraída conversa de boteco. O chanceler de um país que tem uma louvável história diplomática é descarado e evasivo suficiente para não enrubescer com a fantasiosa e infantil declaração. Demonstra, também, todo o amadorismo e improviso característicos desse governo, quando desconsidera a possibilidade da existência de uma comunidade científica internacional. Os EUA, a América do Sul e o continente europeu fecham suas fronteiras para os brasileiros e querem restringir que seus cidadãos venham ao Brasil, que já é o epicentro mundial da pandemia. E daí, isso é problema do restante do mundo, diriam Bolsonaro e seus seguidores. Para os bolsonaristas, o importante é que o Brasil tem um provisório ministror da Saúde, que é melhor obedecendo ordens do capitão do que combatendo a pandemia e dando satisfações à sociedade.

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O desgoverno Bolsonaro omite dados, ameaça e atenta diariamente contra os poderes Legislativo e Judiciário. Assinou nota em que corrobora a inaceitável ameaça de rompimento democrático, feita por um dos tantos generais desse governo. Tentou vetar verba publicitária para jornal, como forma de censura. Agora, pede investigação sobre mais uma charge que retrata exatamente como a sua política de combate ao coronavírus é vista em todo o mundo. O desgoverno tem cara, jeito, cores e age como uma ditadura nazista, mas, assim como a de 1964 a 1985, tenta passar a falsa mensagem de que vivemos uma plena democracia e que não há autoritarismo. É exatamente o comportamento esperado de um presidente que nega a ditadura civil-militar, a escravidão e a ciência. Porém, quem está errado é o resto do mundo, que combate o vírus de uma “gripezinha”.

Esse é um dos urgentes motivos pelos quais Bolsonaro deve ser impedido. O País vive a mais profunda crise da sua história e o presidente chama a atenção da sociedade para suas brigas diárias, seja com a China, ou a mais recente, oportunista e autoritária investida. Para fugir de suas responsabilidades, Bolsonaro entrou em confronto com a contundente sensibilidade de um poeta que captou o significado criminoso do comando presidencial, a seus seguidores, para cometer o ato terrorista de invadir hospitais afim de averiguar a ocupação de leitos.

Para Bolsonaro, pouco importa o quão profundamente se agrave uma crescente pandemia com mais de 870 mil contaminados e 43 mil mortos. Esse é o modus operandi de Bolsonaro. Ele necessita criar falsas crises para a sociedade não perceber sua inépcia e suas deliberadas omissão e negligência. A única maneira de impedir a messiânica e catastrófica missão de Bolsonaro, de provar que o resto do mundo está errado, é tirando-o da Presidência. Ou isso, ou saberemos, por meio de muita dor, sofrimento e sobre centenas de milhares de cadáveres, que os outros povos do planeta estavam certos. Isso diz mais da sociedade do que propriamente do Bolsonaro. Retirá-lo é o primeiro passo para enfrentar o fundamental debate que impedirá que ele ocorra novamente, neste País, assim como a ideia do nazismo é banida em todas as nações civilizadas do mundo.

*Enio Verri é economista a professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.