No próximo dia 2 de outubro elegeremos o novo presidente do Brasil. À medida que a data se aproxima notamos o aumento de relatos de casos de ameaças, agressões e assassinatos cujas motivações é a divergência política.
A maioria dos casos de violência são bolsonaristas atacando quem pensa diferente, chegando às vias de fato, tirando a vida do opositor.
Escutamos relatos de pessoas que têm preferido se abster falar sobre política ou declarar seu voto publicamente com medo de agressões que possa vir a receber. Há um clima de tensão no país. É sabido que políticas adotadas pelo atual governo, como a liberação de posse de armas tem contribuído para o clima de tensão e violência.
É preciso nos perguntarmos: como chegamos a esse ponto onde pensar diferente do outro se torna uma ameaça a própria vida?
Freud escreveu há mais de 100 anos sobre o narcisismo das pequenas diferenças. De forma resumida, ele propõe uma formulação onde o sujeito introjeta o que é bom e projeta no outro tudo aquilo que não faz parte de um ideal. Não precisamos ir longe para compreender que é uma fórmula que se torna insustentável, afinal não somos binários, mas sim uma somatória da multiplicidade de aspectos.
É nesse contexto que entra a linguagem e o campo do simbólico. A possibilidade de adentrar nestes terrenos é o que nos marca como humanos. É como se a linguagem fosse uma ponte que conecta nosso mundo interno com o externo e a cada travessia dessa ponte nos deslocamos um pouco mais. Esse é um dos princípios da análise. O fato é que quando não exercitamos a capacidade de investigar o nosso mundo interno e externalizá-lo através da linguagem, o que está dentro torna-se uma verdade cristalizada.
Quando estes conteúdos internos não conseguem ser elaborados, pode acontecer, o acting out. O que era apenas um pensamento, pode se tornar ação. Nesse cenário, a diferença precisa ser eliminada. Essa pode ser uma pista da razão pela qual temos visto um movimento tão expressivo pela eliminação de quem pensa diferente.
A disputa política apenas acentua algo que já existe muito antes. O trabalho de investigação do mundo interno e sua decifração tendo como mediador a linguagem é algo que amplia a nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. É trabalhoso e custoso, mas é uma das saídas para trocarmos a eliminação do outro por uma convivência possível.
E não precisamos esperar as eleições para começar a fazer isso.
*Jessica Nevel, Psicanalista, escreve sobre Cultura e Sociedade.
Blog do Esmael, notícias verdadeiras.
LEIA TAMBÉM