O avanço da pandemia no Brasil e a ineficiência do Governo

Por Arilson Chiorato*

Ao analisar o contexto que estamos vivendo, percebemos que há quem diga que o Brasil não se destaca no processo da pandemia de COVID-19, porém, acredito que o Brasil tem se destacado muito, desde o início da pandemia que acomete o mundo. O fato é que este destaque é completamente negativo, fazendo com que o país que já foi respeitado mundialmente, passasse a ser enxergado como chacota diante de lideranças mundiais, da comunidade científica e da imprensa internacional.

O Governo Bolsonaro, que desde antes de empossado, já enfrentava denúncias por corrupção, principalmente por parte de um de seus filhos, está desde o início do Governo levando o nome do país negativamente. Seja por conflitos na política externa, de intervenção inaceitável de outro filho, seja por denúncias de corrupção, de envolvimento com a milícia envolvida no assassinato de Marielle Franco e tantas outras questões que infelizmente viraram pauta internacional.

Recentemente, no Dia da Terra, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, demonstrou indiferença ao presidente Bolsonaro e deixou a reunião da Cúpula do Clima antes do pronunciamento do governante brasileiro. Coincidentemente ou não, anterior à reunião da Cúpula do Clima, lideranças indígenas brasileiras se reuniram com o embaixador americano Todd Chapman, além disso houve também um documento endereçado ao presidente estadunidense, intitulado “Coalizão de Governadores pelo Clima”, que propõe compromisso dos estados signatários em defesa de políticas ambientais e demonstra preocupação com a questão climática.

Esta movimentação aconteceu principalmente após a defesa que o Ministro do Meio Ambiente fez do setor madeireiro, além de tantas incoerências, redução de orçamento e visão política de Ricardo Salles, que, há um ano, defendeu utilizar a crise sanitária para “passar a boiada” nas decisões que afetam a política de meio ambiente.

Esta contextualização é importante para enxergarmos qual a imagem que o mundo todo tem do Brasil, essa imagem não é negativa apenas pela péssima gerência da crise sanitária, o Brasil tem sido motivo de revolta e de vergonha por diversos motivos.

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Enquanto somamos lamentavelmente 391 mil mortes e sem conseguir enxergar luz no fim do túnel – pois este Governo está empenhado em atuar contra as vidas dos brasileiros – outros países já voltaram à normalidade. Países que já conseguiram permitir a volta do setor artístico e de eventos, tendo inclusive capacidade máxima de lotação. Obviamente não podemos ser levianos e ignorar que existem diferenças econômicas, sociais e culturais entre os países, o Brasil é um país extremamente desigual, o que faz com que a COVID-19 seja ainda mais fatal, porém, com políticas ordenadas e responsáveis, poderíamos não ter estádios cheios, mas, pelo menos garantir que a abertura do comércio deixasse de ser considerada um perigo, e ter evitado centenas de milhares de mortes.

É surpreendente ver que outros países conseguiram vencer a pandemia, assim como é surpreendente ver a experiência do Governo Municipal de Araraquara, que está há 4 dias sem registrar nenhuma morte e teve queda brusca no número de infecções por COVID-19. Percebemos que é a política quem dita a segurança das pessoas e que muitas vezes pode evitar que as infecções resultem em óbitos.

No início da pandemia, o cientista Atila Iamarino chocou muitos brasileiros ao prever, a partir das evidências científicas, que as mortes no Brasil por COVID-19 poderiam chegar a 1 milhão. Em alguns dias, provavelmente alcançaremos a triste marca de 400 mil mortes, sendo que apenas no primeiro quadrimestre de 2021, ultrapassamos a quantidade de mortes de 2020.

A segunda onda da pandemia foi potencializada pela falta de políticas contundentes que, combinado com o mau exemplo do presidente que aglomera em praias, nas aparições com seus seguidores em Brasília e até mesmo em bares, faz com que parte da população, em especial seus defensores, ignorem as medidas de prevenção ao vírus.

Enquanto não avançamos efetivamente com a vacinação, que está caminhando a passos lentos, as medidas como isolamento e distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos, são as maiores aliadas do combate à disseminação do vírus, porém, não temos políticas que garantam tais estratégias e, em diversas ocasiões, o próprio prestou desserviço social ao aparecer sem máscara ou ao criticar o isolamento social e as evidências científicas.

A vacinação em massa deve ser é fundamental para atravessarmos este momento e salvarmos vidas, um estudo da pesquisadora Patrícia Magalhães, do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), apontou que 12 estados e o Distrito Federal devem vacinar pelo menos 40% da população para conter a disseminação do vírus.

O resultado da pesquisa indica que em todas as unidades federativas há avanço do contágio. Lamentavelmente, o estado do Paraná está entre os que possuem maior grau de disseminação, impedindo até mesmo a realização de estimativas. Desta forma, pergunto qual será a resposta do Governo diante deste diagnóstico, pois, recentemente, o Governador chegou a negar a aquisição de 13 milhões de doses de vacinas e também ampliou o horário de funcionamento do comércio, quando o toque de recolher deveria ser mantido para evitar aglomerações. A falta de fiscalização para fazer valer a proibição de aglomerações e a obrigatoriedade do uso de máscaras também é ineficaz. Cabe ao Governo assumir a responsabilidade e desempenhar com protagonismo o combate à pandemia, porém, estamos vendo a submissão às políticas do Governo Federal.

*Arilson Chiorato é Deputado Estadual, Presidente do PT – Paraná e Mestre em Gestão Urbana pela PUC-PR.