Novo auxílio deixa mais de 24 milhões de pessoas com fome, por Enio Verri

Por Enio Verri*

Hoje foi o primeiro dia de pagamento do novo auxílio pago pelo Governo Federal em substituição ao Bolsa Família. Além de perder um programa de 18 anos com uma história bem-sucedida, a população não conta mais com o auxílio emergencial.

No total, o benefício foi concedido a 14.506.301 pessoas. Mas, dos mais de 39 milhões dos que estavam recebendo e sendo amparados pelo auxílio emergencial, 24.848.851 brasileiros e brasileiras ficaram excluídos dos beneficiários do auxílio.

No Paraná, 1,4 milhão dos que receberam auxílio emergencial estão sem renda e sem o novo auxílio.

São milhões que ficaram sem renda e entregues à pobreza e à fome. Milhões que vão parar nas estatísticas do Brasil, de pessoas que não sabem se terão uma refeição quando acordam.

Também foi o dia em que a página da BBC News trouxe um relato devastador sobre como a pobreza vem castigando a população brasileira. Uma professora de uma escola localizada em um complexo de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro conta que uma aluna sua, de 8 anos, desmaiou de fome na sala de aula.

Economia

“Ela sentou e abaixou a cabeça na mesa. Eu estranhei e chamei ela à minha mesa. Ela veio e eu perguntei se ela estava bem. Ela fez com a cabeça que estava, mas com aquele olhinho de que não estava. Perguntei se ela tinha comido naquele dia, ela disse que não”.

A prorrogação do auxílio emergencial, nesse ano, já tinha deixado de fora quase 29 milhões inscritos no programa no ano de 2020. Ou seja, teremos mais famílias nas ruas, mais desabrigados e miseráveis porque perderam um único recurso a que tinham acesso.

O valor médio neste mês será de R$ 224,41 por família. Diferente dos R$ 400 prometidos pelo presidente Jair Bolsonaro.

E, com a fome que a garota sentia na escola, vem a vergonha e a tristeza de quem está nessa situação. Logo depois, vem a evasão escolar, a fuga para que os colegas e professores não os vejam sem comer e fracos para assistir uma aula.

Esse é um retrato dos esquecidos, dos que não tiveram a quem recorrer na pandemia. Dos que viram as políticas públicas para os mais pobres serem encerradas.

Não há mais uma rede de proteção sólida voltada para os mais vulneráveis e planejada em longo prazo. O novo auxílio tem data para acabar, no final do próximo ano. E depois? A quem essas pessoas vão recorrer?

Uma fome que é agravada com a inflação, que colocou o preço da cesta básica em uma média de R$ 600 e o botijão de gás a mais de R$ 100.

Já no estudo “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, estava o quadro de 19,1 milhões de brasileiros, que disseram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer. E, mais da metade da população (55%) sofria de algum tipo de insegurança alimentar em dezembro de 2020, segundo o estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Passou da hora do governo realmente olhar para os mais pobres. Oferecer uma política social digna e voltar a fazer com que o Estado assuma seu papel de protetor da população que não tem mais a quem pedir socorro.

*Enio Verri, deputado federal (PT-PR) e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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