Luiz Claudio Romanelli: Bilhões recuperados são irrelevantes diante do caos econômico provocado pela operação Lava Jato

Romanelli_desempregoO deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB), líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná, em sua coluna desta segunda-feira (20), afirma que “os bilhões recuperados e em recuperação são irrelevantes diante do caos econômico provocado” pela operação Lava Jato.

O colunista aponta queda continuada nos indicadores econômicos, nos últimos 15 meses, e um espasmo no mês de abril. Entre tantas más notícias, Romanelli revela uma boa: “teremos o anúncio da redução em 11% da tarifa, e 27% de energia elétrica consumida no Paraná”.

O líder do governo critica o interino Michel Temer (PMDB) que, segundo ele, concedeu reajuste salarial para “os 1% mais ricos” abrigados nos poderes judiciário e legislativo.

Por fim, em sua coluna, Romanelli destaca que o governador Beto Richa (PSDB) esteve reunido com Temer, em Brasília, pleiteando aval para empréstimo de R$ 1,5 bilhão para as áreas de estradas, infraestrutura de municípios e segurança. Abaixo, leia, ouça, comente e compartilhe a íntegra do texto:

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Em busca de boas notícias

Economia

Luiz Claudio Romanelli*

“Os únicos limites das nossas realizações de amanhã são as nossas dúvidas e hesitações de hoje”. Franklin Delano Roosevelt

Existe uma ansiedade dos políticos em relação ao término da Operação Lava a Jato, mas ela só chegará ao fim após desmontar todo sistema de financiamento de campanhas atualmente existente em nosso país.

Olhando para “Operação Mãos”, italiana, não sobrará pedra sobre pedra. Não se aterá a um governo que não o começou (Dilma) e um provisório que viu a possibilidade chegar ao poder sem voto.

A Lava Jato já paralisou nossa indústria de óleo e gás. Os bilhões recuperados e em recuperação são irrelevantes diante do caos econômico provocado. Não que os investigadores e juízes sejam os culpados pelo caos, mas o desmonte das fraudes e a extensa rede de corrupção suspendeu investimentos, e gerou um grau de incerteza, que hoje ninguém é capaz de dizer como e quando, se fará a retomada das grandes obras de infraestrutura.

Por outro lado, ainda que muito timidamente, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação. Depois de 15 meses seguidos de queda, o Brasil voltou a crescer em abril. Segundo um levantamento do Banco Central, conhecido popularmente como a “prévia do PIB”, pode ser o começo de uma retomada.

Divulgado na quinta-feira (16), o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), mostra que, na comparação com março, o Brasil cresceu 0,03%. O último dado positivo nessa base de comparação havia sido registrado em dezembro de 2014, uma alta de 0,54%.

O índice de atividade econômica apurado pela consultoria Serasa Experian apresentou um crescimento de 0,2% no mês de abril. O resultado foi considerado o mais expressivo desde outubro de 2014.

Para os economistas da consultoria, esse é um sinal de que a recessão econômica demonstra os seus primeiros sinais de esgotamento.

A indústria também começar a dar mostras de recuperação. Segundo o IBGE, no trimestre entre fevereiro e abril, cinco de 25 setores tiveram alguma reação positiva. Entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, a produção industrial tinha caído quase 13%. Entre fevereiro e abril, a produção da indústria de transformação caiu 8,7% em relação a igual período do ano passado.

Entre os setores que tiveram alguma reação no último trimestre, estão a indústria de alimentos, que cresceu 4% entre fevereiro e abril na comparação anual. A produção de bebidas não alcoólicas cresceu 5% e celulose, papel e remédios tiveram taxas de expansão de 18% e de 5% no último trimestre, respectivamente. São números tímidos, mas que sugerem que pode haver uma luz no fim do túnel.

Segundo o boletim Focus da última semana (pesquisa feita pelo BC com cerca de 100 analistas financeiros), a projeção é de que o governo termine o ano com uma taxa básica de juros de 13% ao ano.

Atualmente, os juros são de 14,25%. Para 2017, a expectativa é de que a taxa continue a cair e encerre o ano em 11,25% ao ano.

Mas não tenhamos ilusões. A recuperação da economia será lenta. E o governo precisa agir rápido para evitar ainda mais desemprego, especialmente no setor de construção civil. Levantamento feito pelo
Sinduscon em parceria com a Fundação Getúlio Vargas revela que nos primeiros quatro meses do ano, os cortes chegaram a 72,9 mil vagas no país, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses, até abril, as perdas totalizaram 398,2 mil vagas. São 19 meses consecutivos de demissões no setor. É necessário que o governo retome as contratações do programa Minha Casa Minha Vida e amplie a oferta de crédito ao mercado imobiliário.

Não é apenas a construção que registra número expressivo de demissões. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, nos últimos 12 meses verificou-se a redução de 1.825.609 postos de trabalho. No acumulado do ano, os dados mostram um decréscimo de 378.481 empregos.

No Paraná, nos quatro primeiros meses do ano houve declínio de 6.530 postos. Nos últimos 12 meses verificou-se decréscimo de 3,92% no nível de emprego ou -107.952 postos de trabalho.

Para retomar o crescimento, o grande receituário seria reduzir o preço de produtos como o combustível, considerando que houve a redução do preço internacional do petróleo.

A tarifa de energia elétrica também poderia ser reduzida – nesse mês ainda teremos o anúncio da redução em 11% da tarifa, e 27% de energia elétrica consumida no Paraná é utilizada pela indústria, que passa por enormes dificuldades.

O governo federal também precisa rever os aumentos concedidos aos servidores públicos federais, especialmente do Judiciário e Legislativo. Agora não é hora de fazer reajustes salariais, ainda mais dos mais altos da administração pública. É um momento de apertar o cinto, de investir naquilo que é essencial, como escreveu o jornalista Fernando Torres, em artigo intitulado “Vão poupar os 1% mais ricos do ajuste”, publicado no Valor Econômico.

“A pergunta é: qual a lógica de o presidente Michel Temer e o Congresso Nacional assegurarem reajustes salariais para servidores públicos que estão no grupo do 1% mais rico, ao mesmo tempo em que se pede sacrifício para o povão? …”Se a sociedade como um todo terá que dividir a conta do rombo fiscal, por que garantir gasto extra de R$ 68 bilhões até 2018 com a elite do funcionalismo público”.

Em tempo: para o Paraná, há boas notícias por parte do governo Temer. O governador Beto Richa reuniu-se na quarta-feira (15) com o presidente, em Brasília, para pleitear o aval do governo federal para empréstimos internacionais do Estado, que somam, juntos, R$ 1,5 bilhão para as áreas de estradas, infraestrutura de municípios e segurança.

No ano passado, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) suspendeu o aval a empréstimos internacionais contratados por estados e municípios, tornando mais difícil a liberação de garantias para financiamentos. A medida afetou três financiamentos do Paraná com o Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID): Programa Estratégico de Infraestrutura e Logística de Transporte (US$ 300 milhões), Paraná Seguro (US$ 67,2 milhões) e Paraná Urbano III (US$ 150 milhões).

O presidente Michel Temer se comprometeu a priorizar o pedido do Paraná junto ao Ministério da Fazenda para que o problema possa ser resolvido o mais rápido possível, portando resta esperar e trabalhar.

Paz e Bem. E boa semana a todas e todos.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.

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