Luiz Claudio Romanelli: A vitória da xenofobia populista no Reino Unido

Romanelli_BrexitO deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB), líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná, em sua coluna desta segunda-feira (27), lamenta a decisão do eleitores britânicos pela saída da União Europeia. Para o colunista, “Brexit” foi “a vitória da xenofobia populista no Reino Unido”. Abaixo, leia, ouça, comente e compartilhe a íntegra do texto:

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A vitória da xenofobia populista no Reino Unido

Luiz Cláudio Romanelli*

“O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.
Samuel Johnson

O mundo acordou diferente na sexta-feira (24). No dia anterior, 51,9% dos eleitores britânicos aprovaram o chamado “Brexit” (contração entre as palavras British e exit, que significa saída britânica), contra 48,1% dos eleitores que apoiaram a permanência na União Europeia (UE).

Foi uma decisão histórica, já que o Reino Unido pertenceu ao bloco desde a fundação de seu embrião, a Comunidade Econômica Europeia, há 43 anos.

Economia

A vitória do Brexit mostrou uma Grã Bretanha dividida. A Escócia, a Irlanda do Norte, e cidades britânicas como Londres, Manchester e Liverpool votaram pela permanência na UE. Na Escócia, 62% dos eleitores votaram por ficar e 38% pela saída. A Irlanda do Norte também votou pela permanência (55% contra 44%). O País de Gales votou pela saída (52,5% contra 47,5%).

A primeira consequência da decisão do referendo foi o anúncio da renúncia do primeiro-ministro britânico, David Cameron. Ele foi a principal liderança na campanha pela permanência do país na UE. “Eu não penso que seria correto tentar ser o capitão que orienta nosso país até seu próximo destino”, disse Cameron.

Entre os cotados para substituir Cameron, estão ex-prefeito de Londres e líder da campanha do Brexit, Boris Johnson e o ex-ministro da Educação, Michael Gove, que também liderou a campanha pela saída do Reino Unido da UE.

Em meio às incertezas sobre o impacto que a saída do Reino Unido da UE deve causar, a libra caiu em 10%, atingindo o valor mais baixo desde 1985. Os grandes bancos do Reino Unido perderam cerca de US$ 100 bilhões em valor, com ações do Lloyds, do Barclays e do Royal Bank of Scotland chegando a cair 30%. As bolsas europeias registraram queda de mais de 12%, na sexta-feira.

Mas não foi apenas o mercado financeiro que ficou chocado com a decisão. Líderes como a chanceler alemã, Ângela Merkel, reagiram indignados. A vitória do Brexit, disse Merkel, “é um golpe contra a Europa, um golpe contra o processo de unificação europeia”. Ela convidou o presidente francês, François Hollande, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para uma reunião em Berlim nesta segunda-feira.

Como disse o jornalista Clóvis Rossi, em lúcida análise na Folha de São Paulo: “é só olhar para quem está festejando o resultado do plebiscito no Reino Unido para constatar que se trata da vitória do pior ranço, o do populismo xenófobo”.

Os partidos de extrema direita, aliás, foram os principais vitoriosos com o Brexit. Tanto os conservadores como os trabalhistas saíram perdendo. O grande vencedor foi o líder eurofóbico do partido UKIP (UK Independence Party), Nigel Farage.

A decisão dos britânicos pode causar um temível efeito dominó, com consequências ainda imprevisíveis. Partidos de extrema direita da outros países da UE, como França, Holanda e Itália já se movimentam para convocar plebiscitos semelhantes em seus países.

Na Holanda, o líder anti-imigração Geert Wilders disse que os holandeses “querem estar no comando de seu país, de seu dinheiro, de suas fronteiras e de suas políticas de imigração”.

Marine Le Pen, líder do partido francês Frente Nacional, afirmou que os cidadãos de seu país deveriam ter o direito de opinar a respeito da permanência no bloco. “Vitória da liberdade. Como tenho dito há anos, nós agora devemos ter o mesmo referendo na França e em outros países na UE”, escreveu no twitter.

Mas não foram somente os xenófobos europeus que comemoraram. Donald Trump, virtual candidato republicano à presidência dos EUA, também elogiou. Ele traçou paralelo entre a decisão dos britânicos e sua campanha para limitar a imigração ilegal nos EUA e construir um muro na fronteira americana com o México “Vejo um grande paralelo. Muitas pessoas estão falando nisso, e não só nos Estados Unidos, mas em outros países. As pessoas querem seu país de volta. Elas querem ter independência, em certo sentido. Você vê isso na Europa, em toda a Europa”.

A vitória do Brexit no Reino Unido prenuncia tempos ainda mais sombrios para imigrantes, refugiados, pobres e desempregados, especialmente jovens da UE. A imigração é um dos temas centrais da campanha do Brexit. Com a saída da UE, acaba a livre circulação de pessoas. Atualmente, cerca de 3 milhões de cidadãos europeus vivem no Reino Unido. Eles podem pedir a residência permanente quando completarem cinco anos vivendo no país. Com a vitória do Brexit, essa regra deve deixar de valer.

A decisão tem potencial para mudar o rumo da geopolítica mundial pelas próximas décadas. Até hoje, nunca nenhum dos 28 países membros deixou a União Europeia.

Analistas acreditam que as piores consequências, no entanto, serão sofridas pelos próprios britânicos. Segundo levantamento do jornal O Globo, um estudo realizado pelo banco HSBC prevê queda de 15% a 20% no valor da libra, inflação de 5% e perda de 1% a 1,5% no PIB, além da transferência de milhares de postos de trabalho para outros grandes centros europeus.

Haja o que houver, a vitória do Brexit foi um terremoto que ainda não podemos dimensionar e cujas consequências não podemos prever.

Paz e bem e uma ótima semana a todas e todos.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.

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