Impeachment de Trump não ocorrerá antes da posse de Biden

A Câmara dos Representantes aprovou nesta quarta-feira (13) um pedido de impeachment do presidente americano Donald Trump, acusando-o de incitar a invasão ao Capitólio, sede do Congresso, na semana passada. Por 232 a 197, incluindo 10 votos de legisladores republicanos, o processo agora vai para o Senado, que não deve julgar o caso antes do fim do mandato de Trump. O resultado marca a abertura formal do processo de impeachment contra o 45º presidente americano.

Os debates na Câmara dos Representantes começaram às 9h locais (11h de Brasília) e a votação do impeachment, às 15h locais (17h de Brasília). A Câmara dos Representantes aprovou o procedimento nesta quarta-feira, acusando o presidente de incentivar a invasão ao Capitólio.

O Senado não deve realizar o julgamento antes de 20 de janeiro, quando o democrata Joe Biden assumirá a presidência, o que significa que Trump se livrará do risco de ter de deixar o cargo antecipadamente.

Se for condenado, Trump provavelmente será impedido de disputar a presidência novamente em 2024. “Donald Trump merecidamente se tornou o primeiro presidente da história americana a enfrentar o impeachment duas vezes”, disse o senador democrata Chuck Schumer, que se tornará líder da Câmara alta em uma semana.

Na Câmara dos Representantes, a questão era saber apenas quantos republicanos se uniram à maioria democrata na votação, por 232 a 197. Na contagem final, dez republicanos romperam com suas fileiras, inclusive a número três do partido na casa, Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney.

As intervenções dos congressistas foram enérgicas. Trump é um “tirano”, lançou a democrata Ilhan Omar. “Não podemos virar a página sem fazer nada”, disse. A republicana Nancy Mace afirmou que o Congresso deveria exigir que o presidente fosse responsabilizado por suas ações, mas considerou irresponsável agir de “forma precipitada”.

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O líder do bloco republicano na Câmara, Kevin McCarthy, reconheceu que Trump tem “responsabilidade” nos distúrbios, mas considerou um erro submetê-lo a um impeachment em um curto espaço de tempo. Em vez disso, propôs uma declaração de “censura”, que na prática tem um efeito basicamente simbólico.

Trump cada vez mais isolado
Em vídeo gravado no Salão Oval da Casa Branca, o presidente pediu aos americanos que se unissem, sem citar o impeachment. “Que escolhamos avançar unidos, pelo bem de nossas famílias”, diz, fazendo “um chamado a todos os americanos para superar as paixões do momento”.

Repudiando os apoiadores que invadiram o Congresso, Trump ressalta que “nunca há justificativa para a violência. Aqueles que participaram dos ataques da semana passada serão levados à Justiça.”

Trump continua sendo muito popular entre milhões de americanos, o que poderia levar alguns congressistas a não condená-lo.

Cada vez mais isolado, o presidente americano tentou minimizar o procedimento contra ele, descrevendo-o como uma “continuação da maior caça às bruxas da história política”. Também se negou a assumir qualquer responsabilidade pela invasão do Capitólio, afirmando que seu discurso, que antecedeu o ocorrido, foi “totalmente apropriado”.

Dias antes de partir para sua residência em Mar-a-Lago, Flórida, onde sua nova vida como “ex-presidente” deve começar, o magnata republicano parecia cada vez mais desconectado do que está acontecendo na capital americana.

Aliados se distanciam
Nenhum representante de seu partido apoiou o impeachment anterior em 2019, e apenas um senador, Mitt Romney, votou para condená-lo. O presidente foi então absolvido da acusação de reter ajuda financeira para obrigar a Ucrânia a investigar uma suposta corrupção de seu adversário político Biden. Mas desta vez, o cenário é diferente.

A nova acusação contra Trump marca a abertura formal do processo de julgamento político e caberá ao Senado julgar novamente o chefe de Estado. O processo gera questionamentos. “Devido às regras, simplesmente não há possibilidade de que se conclua um julgamento justo ou sério antes de que o presidente eleito preste juramento, na próxima semana”, declarou o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell. Ele indicou que não voltará a convocar os senadores, em recesso, antes do próximo dia 19.

O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, assinalou que McConnell poderia iniciar o julgamento de forma imediata se optasse por convocar uma sessão de emergência. Caso contrário, o processo poderia começar após a posse de Biden. Schumer, que substituirá McConnell a partir de 20 de janeiro, afirmou que “haverá uma votação para condenar o presidente por crimes graves e faltas. Caso isso aconteça, haverá uma votação para proibir que ele volte a se candidatar”.

Com Washington sob tensão sete dias após o ataque ao Capitólio, Trump pediu calma. “Insisto para que não haja violência, não sejam cometidos delitos e não haja vandalismo de nenhum tipo. Isso não é o que eu defendo, nem tampouco o que os Estados Unidos defendem”, afirmou em um comunicado emitido pela Casa Branca.

“Hoje, de forma bipartidária, a Câmara mostrou que ninguém está acima da lei, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos”, declarou a presidente da casa, Nancy Pelosi, democrata. Antes, ela havia acusado Trump de incitar uma “rebelião armada” ao pedir votos pela sua deposição.

“O presidente dos Estados Unidos incitou esta insurreição, esta rebelião armada”, declarou a líder democrata antes da votação da acusação formal pelo ataque ao Capitólio que deixou cinco mortos e chocou o mundo. “Ele deve partir. É um perigo claro e presente para a nação que todos amamos”, disse no Congresso.

A sete dias da posse de Joe Biden, Washington estava sob um forte esquema de segurança. Dezenas de militares da reserva passaram a noite dentro do Congresso. Muitos dormiam no chão das salas e corredores. Blocos de concreto separavam os cruzamentos principais do centro da cidade, enormes barreiras de metal cercavam prédios federais, incluindo a Casa Branca, e a Guarda Nacional fazia ronda em todo o perímetro.

Por RFI, com informações da AFP