IBGE: Pelo 6º mês, produção industrial é negativa no Brasil

Oito das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE apresentaram recuo de outubro para novembro de 2021. Resultado não foi pior porque São Paulo registrou alta, após cinco meses caindo

Os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional, divulgada na sexta-feira (14/01) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam o quadro observado pela instituição em pesquisa apresentada na última semana. Pelo sexto mês consecutivo houve variação negativa – desta vez, de 0,2% entre outubro e novembro de 2021. Oito das 15 regiões pesquisadas apresentaram recuo.

As perdas mais acentuadas foram no Amazonas (-3,5%), Ceará (-2,5%) e Rio de Janeiro (-2,2%). Mas o gerente da pesquisa, Bernardo Almeida, aponta o Rio de Janeiro como a maior influência no resultado nacional. “Esse recuo é atribuído ao impacto negativo dos setores de derivados do petróleo, de metalurgia e da indústria farmacêutica”, explicou.

“O Amazonas é a segunda maior influência negativa, em função, principalmente, da queda do setor de bebidas. A Bahia teve o terceiro maior peso graças ao baixo desempenho do setor de celulose e de outros produtos químicos”, prosseguiu.

A média móvel trimestral para a indústria ficou negativa em dez dos quinze locais. O índice recuou 0,5% no trimestre encerrado em novembro frente ao nível do mês anterior, mantendo a trajetória descendente iniciada em janeiro de 2021. Na comparação com novembro de 2020, a indústria nacional teve redução de 4,4% em novembro de 2021, com taxas negativas também em dez dos 15 locais pesquisados.

No acumulado no ano, frente ao mesmo período de 2020, a expansão da produção nacional alcançou nove dos 15 locais pesquisados. Já o acumulado dos últimos 12 meses, ao avançar 5,0% em novembro de 2021, manteve a redução na intensidade do crescimento frente ao observado em outubro (5,7%), setembro (6,5%) e agosto (7,2%). Houve altas em dez dos 15 locais pesquisados, mas dez apontaram menor dinamismo.

Economia

Com alta de 1%, o estado de São Paulo – que detêm 34% da produção industrial do país – exerceu a maior influência positiva sobre o resultado nacional. O resultado foi puxado pelo setor de veículos, com peso de 16,1% dentro da indústria paulista, segundo o IBGE.

“Vale destacar que esse crescimento ocorre depois de cinco meses de resultados negativos em que São Paulo acumulou uma perda de 7,9%. O estado está 3,6% abaixo do patamar pré-pandemia e 25,1% abaixo do seu patamar mais elevado, atingido em março de 2011”, salientou o gerente da pesquisa.

“A indústria sofre com os juros em alta e a demanda em baixa, impactada pela inflação elevada e a precarização das condições de emprego, já que, com o rendimento mais baixo, o trabalhador consome menos”, observou o gerente da pesquisa divulgada na última semana, André Macedo.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado nesta quinta-feira (13/01) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 0,7 ponto em janeiro de 2022 em relação a dezembro de 2021, passando de 56,7 pontos para 56 pontos. O recuo reverte o avanço da confiança registrado na comparação entre novembro e dezembro do ano passado, também de 0,7 ponto.

Além de menos otimista que no final de 2021, o empresário também inicia 2022 menos esperançoso do que em outros anos. O ICEI de janeiro deste ano é inferior ao registrado nos mesmos meses de 2018 a 2021. O indicador ficou em 60,9 pontos em janeiro do ano passado e em 65,3 pontos em janeiro de 2020.

Os resultados se devem à frustração de expectativas diante do alto grau de incertezas do cenário econômico em 2022, influenciado pelo aumento de casos de Covid-19. A avaliação é do gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

“O avanço da contaminação no Brasil, que tem levado ao afastamento de funcionários, assim como restrições adotadas por alguns países devido ao recrudescimento da pandemia, mina a confiança de uma continuidade da retomada econômica e normalização do acesso a insumos”, afirma Azevedo.

Comércio apresenta alta, mas não reverte tendência de queda

Outro indicador divulgado nesta sexta pelo IBGE, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 0,6%, na série com ajuste sazonal, após variar 0,2% em outubro. A média móvel trimestral, variou -0,1% no trimestre encerrado em novembro, depois do recuo de 1,6% no trimestre até outubro.

Mesmo com o avanço, mais da metade das atividades do comércio varejista (cinco em oito) tiveram resultado negativo em novembro. Dos 10 segmentos pesquisados pelo IBGE, apenas quatro superam o patamar pré-pandemia. O varejo avançou puxado, principalmente, pelo crescimento supermercados e produtos alimentícios (0,9%), que possui um peso de cerca de 45% no índice.

Na leitura frente a novembro de 2020, sete das oito atividades tiveram taxas negativas. Até mesmo o setor de supermercados teve retração frente a 2020 (-0,5%), acumulando queda de 2,9% na parcial do ano e baixa de 2,3% em 12 meses. As vendas caíram em novembro em 14 das 27 unidades da Federação.

Na série sem ajuste, o comércio varejista teve queda de 4,2% frente a novembro de 2020, quarta taxa negativa consecutiva. No acumulado no ano, o varejo aumentou 1,9%. Já o acumulado nos últimos doze meses, ao passar de 2,6% em outubro para 1,9% em novembro, sinaliza redução no ritmo das vendas.

Na comparação com novembro de 2020, o comércio varejista teve queda de 4,2%, com taxas negativas em sete das oito atividades. O setor registra seis meses consecutivos de resultados negativos na comparação interanual. No ano, a atividade acumula -5,7% de variação, terceiro mês consecutivo de resultados negativos. Nos últimos dozes meses, registrou a segunda taxa negativa (-0,7% em outubro e -4,8% em novembro).

“As atividades varejistas têm sido prejudicadas pela inflação bastante pressionada, salários baixos, aperto das condições financeiras e deslocamento de maior proporção dos gastos das famílias do mercado de bens para serviços (na esteira da reabertura econômica). Logo, não interpretamos a surpresa positiva com o desempenho das vendas em novembro como um sinal de reversão de tendência”, avaliou Rodolfo Margato, economista da XP, ao G1.

A perda de dinamismo do comércio ocorre em meio à derrocada econômica do desgoverno Bolsonaro. Após entrar em recessão técnica no terceiro trimestre, a economia continuou mostrando fraqueza na reta final de 2021, com inflação disparada, juros em alta, desemprego elevado, renda das famílias em queda e aumento do endividamento. Até a já tradicional Black Friday não foi a mesma de anos anteriores.

“O que vimos foi uma Black Friday muito menos intensa, em termos de volume de vendas, do que a de 2020, quando esse período de promoções foi melhor, sobretudo para as maiores cadeias do varejo”, analisa o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

“Isso se deve, em parte, pela inflação, mas também por uma mudança no perfil de consumo, já que algumas compras foram realizadas em outubro ou até mesmo no primeiro semestre, quando houve maior disponibilidade de crédito e o fenômeno dos descontos”, finalizou.