Gregorio Duvivier disseca o vice Geraldo Alckmin e pede para Lula cuidar bem da saúde [vídeo]

O ator e humorista Gregorio Duvivier desvenda nesse vídeo o significado do “camarada” Geraldo Alckmin na vice do ex-presidente Lula. Abaixo, assista ao vídeo e leia a íntegra do texto.

O Greg News disseca a origem e os tempos do PSDB no governo de São Paulo, considerado o “Tucanistão” nos últimos 30 anos.

Depois de discorrer sobre a vida pregressa de Geraldo, agora convertido em companheiro e camarada pela esquerda, Duvivier faz ao final do programa uma inusitada recomendação ao ex-presidente Lula.

Para o humorista, o que o Brasil precisa é da união de um médico e de um operário. “O bisturi e o torno mecânico serão nossa foice e nosso martelo”, disse.

– E Lula, caso você esteja vendo, cuida bem da saúde, tá? Abre a janela de manhã, faz um check-up – recomendou Gregorio.

Economia

Leia a íntegra do Greg News sobre Geraldo Alckmin

Boa noite a todos! Boa noite! Hoje a gente vai falar de uma liderança nova, que despontou na esquerda nos últimos meses. Ele, o comandante Geraldo Alckmin, “el banderante”, atual pré-candidato à vice-presidência na chapa de Lula.

Para quem não sabe, Geraldo é um verdadeiro bastião da luta pelo socialismo na América Latina, com foco na “Sierra” de Pindamonhangaba. Ele que, assim como Che Guevara, é médico.

Assim como Marighella, foi deputado constituinte. E assim como Lênin, é careca.

E assim como Deng Xiaoping, muita gente não sabe quem é. Enfim, Geraldo é um verdadeiro cristão, que acredita no amor ao próximo e no perdão aos velhos inimigos. Pertence à Opus Dei? Talvez. Mas com certeza à ala esquerda da Opus Dei.

Tá? À “Opus Emprestei”. À “Opus Compartilhei”.

À “Opus Expropriei”. O que faz a esquerda brasileira se perguntar:

“O que um centrista pelego como Lula está fazendo com um radical desses?”

É simples: Alckmin, com seu capital eleitoral enorme, imponente, bojudo, ajudará Lula a se eleger e expulsar Bolsonaro do Palácio da Alvorada.

Você talvez esteja pensando: “Mas como, Gregório? Mas como?” Sempre que eu falo comigo, eu imagino o Ciro Bottini: “Mas como, Bottini?”

Ele fala muito com ele mesmo. “É, Bottini? É…” Eu explico como. Você pode estar falando aí:

“O Alckmin não tem carisma, Bottini. Não é possível que ele traga votos para o Lula.

Ele é o famoso picolé de chuchu, dizem.” De fato, devo reconhecer que essa alcunha foi muito usada contra o camarada Geraldo. Começando pelo próprio Lula.

Governador, ontem o presidente Lula disse que o senhor é insosso como um “picolé de chuchu”, e que o senhor não assume as responsabilidades dos problemas do Estado.

Sim, até bem pouco tempo atrás, crianças, um político xingava o outro de “picolé de chuchu”.

Não é fofo, esse tempo? Que tempos mais ingênuos… Fico imaginando como se rebate uma acusação dessas.

“O governador Alckmin rebateu a acusação do presidente Lula afirmando que era Lula quem tinha cara de melão.

Ao que Lula retrucou que ‘cara de melão é quem me chama, faz xixi e cocô na cama'”.

Mas Alckmin, o magnânimo, nunca se deixou abater com esse xingamento de “picolé de chuchu”.

Mesmo diante de jornalistas imparciais, competentes, que nunca plagiaram ninguém, como Joyce Hasselman:

Mas a brincadeira não te incomoda, do “picolé de chuchu”? Não incomoda, não. Acho até que a população gosta de chuchu, viu?

Gosta, gosta! Ele sabe que a melhor maneira de lidar com bullying é aceitar.

Tipo eu, na quarta série, tentando fingir que não me importava com os apelidos. “Eu acho até que”, eu dizia, “o povo brasileiro adora um anão de jardim.

Gosta! Quando chamam de “pigmeu”, pigmeu é um povo da floresta, um povo sábio.

Podem chamar de “espirro de pica”. O que somos, todos, além de espirro de pica?

Alckmin, como de hábito, ele tem toda razão. Por quê? Porque o chuchu é, de fato, o legume mais querido do povo brasileiro.

O brasileiro ama o chuchu. Tanto é, que o legume, no Brasil, significa “meu querido, meu bem, meu amor, meu chuchu”.

Já cantavam nossos queridos Mamonas Assassinas: “Você é meu chuchuzinho”. Qual outro legume tem esse poder?

“Ó meu quiabinho”. Não dá! “Tu és minha berinjela”.

A pessoa que usar “berinjela”… Aliás, vai pegar meio mal, não é? Chamar a outra de “berinjela”. “Berinjela” passou a significar “pinto”, e a pessoa que fez essa alcunha para o pinto devia ter um pau bem esquisito.

Ela olhou para berinjela e falou: “Olha, parece! Parece com o meu.”

Tanto legume fálico por aí… Tem o pepino, a cenoura, até o chuchu.

Chuchu que, além disso, chega a significar também “abundância”. Porque se fala no Brasil: “Dá mais do que chuchu na cerca”, ou “na serra”.

Tanto faz, o chuchu dar na cerca ou na serra, o chuchu é adepto do amor livre: dá em qualquer lugar.

Sem falar que se a gente pensar bem, chuchu é um apelido com peso político. E é sério isso. Em 1930, Getúlio Vargas foi chamado pelo “Correio Paulistano”, que era porta-voz do Partido Republicano Paulista de Júlio Prestes, de “chuchu”. Por essa lógica, o “picolé de chuchu” faz de Alckmin um Vargas gourmetizado.

Um “sorbetto” de Getúlio. Mas a gente sabe que Alckmin realmente não tem muito carisma.

E esse apelido foi dado pelos detratores do chuchu, não pelos fãs do legume.

Afinal, assim como o legume tem gosto de água, o Alckmin não fede nem cheira.

Ao contrário daquele outro político tucano, que cheira.

E isso de não feder nem cheirar, gente, isso é uma coisa boa hoje em dia.

Isso quer dizer que Alckmin não tem muitos fãs apaixonados, mas também não tem muita rejeição, e isso é muito bom, hoje em dia.

A verdade é que ninguém se importa muito com ele. Ele é o Serginho Groisman da política.

Serginho está lá, e Alckmin também. Estão lá há uns 40 anos, fazendo a mesma coisa, sem atrair o ódio de ninguém.

Nem o interesse, mas isso também passa. E isso, no Brasil de 2022, gente, é raríssimo.

Até o vira-lata caramelo foi cancelado nesse país. Tem gente lá no Twitter agora: “Absurdo esse cachorro, gente.

Caramelo é açúcar queimado, e tem gente passando fome. E o nome vira-lata mesmo: por que é vira a lata?

Quem vai catar depois? Por que não é um ‘recicla-lata’?”

E mais, tudo o que o Brasil precisa hoje é de um médico.

Não só por causa da pandemia. O Alckmin não é qualquer médico. Alckmin é um anestesista, que é o tipo de médico pelo qual o Brasil anseia hoje.

Vai fazer o programa “Xilocaína para Todos”. O que o Brasil precisa hoje é de uma anestesia “geraldo”.

Já que a gente concorda que a gente precisa parir um país novo. E quem que vai fazer a peridural? É ele, o Alckmin!

E caso você seja adepto do parto sem anestesia, ele também é o seu médico. Por quê?

Porque Alckmin também pratica a acupuntura. Sim, é verdade! O Alckmin também é acupunturista!

Ele pratica essa medicina chinesa… Da onde? Da terra de Mao Tsé-Tung, com quem ele também divide o corte de cabelo. Muito bem… Além de ter feito trabalho voluntário com pacientes do SUS, o Dr. Geraldo, o bom, também dá dicas de acupuntura na televisão.

Por quê, Dr. Geraldo? O melhor ponto para a lombar é o ponto vesícula biliar 30, que fica no glúteo.

Mas, para não expô-la, nós não vamos utilizar… Vamos utilizar outros pontos.

Eu estou fazendo para evitar a vesícula biliar 30, que seria até melhor, mas, em razão de ela não precisar expor a região do glúteo…

Olha que maravilha, um político que cura dor na lombar também. E ainda protege o glúteo da paciente.

Para que? Para não expô-la. E ninguém fala tão bem essa palavra, “glúteo”, quanto ele.

“Glúteo!” Ele fala “glúteo”. E eu gosto que o programa se chama “Aqui na Band”, quando deveria se chamar “Aqui na Bund”.

E não faz sentido, me desculpa, Alckmin, fazer acupuntura no pé para evitar a bunda.

Afinal, se chama “acupuntura”, e não “apépuntura”. Desculpa. Mas falando sério… Desculpem por essa piada.

Foi irresponsável. Eu peço desculpas. Mas falando sério, eu sei que parece fofíssimo ter esse homem de jaleco no governo. Afinal, só gente respeitável usa jaleco: médico, pipoqueiro, vendedor da Ortobom.

Mas a verdade é que a aliança entre Lula e Alckmin é muito difícil de defender.

E ela fica ainda mais esquisita para quem acompanha a política das últimas décadas. Vamos ser sinceros. É bom explicar isso, porque muitos espectadores pertencem à Geração Z, e talvez não saibam que, durante muito tempo, o Brasil se dividia entre petistas e tucanos.

Sim, o PSDB, crianças, eram chamados de “tucanos”, porque tinham esse mascote narigudo. Não, esse não, o outro.

Durante pelo menos 20 anos, essa era a rixa que dividia o Brasil.

Os tucanos assinavam a “Veja”, os petistas a “Carta Capital”.

Os petistas mandavam os tucanos lerem “A Privataria Tucana”, os tucanos retrucavam mandando ler “O País dos Petralhas”.

Sim, os livros eram tipo os memes da época. Até outro dia, Lula e Alckmin pertenciam a campos opostos.

Em 2006, foram rivais em uma eleição nada amigável, com muita troca de acusações e indiretinhas.

A impressão que eu tenho é que o meu adversário utiliza o hábito daqueles que decoram alguns chavões para participar de debate. Olhe nos olhos do povo brasileiro, candidato Lula, e responda: de onde veio o dinheiro sujo?

Parece que o senhor fez algum curso de psicodrama esses dias, para ficar decorando.

Primeiro, Lula, não meça as pessoas pela sua régua. Se há alguém que não tem moral para falar de ética é o governo Lula. Já faz tempo que o Alckmin frequenta a Band para dar espetada.

Mas nessa época ele não poupava o glúteo de ninguém. A juventude talvez estranhe de ver essa cena.

Sim, porque antigamente, crianças, os candidatos tinham esse hábito de comparecer ao debate.

É esquisito isso, né? Não tinham mais o que fazer do que ficar indo a debate…

Só porque é candidato tem que ir para debate? Debate, aparentemente, era tipo um podcast da época.

Era tipo um Flow. Só que o apresentador não era um completo imbecil. Olha a diferença!

A rivalidade dos dois partidos gerava vários escândalos. Esse dinheiro sujo do qual Alckmin está falando no debate foi apreendido com dois homens aparentemente ligados ao PT que tentavam comprar um dossiê falso contra José Serra, o então candidato tucano ao governo de São Paulo. E por que eles queriam esse dossiê? Para envolvê-lo na máfia dos sanguessugas.

E não era difícil tentar vinculá-lo a essa máfia, porque o Serra, se você olhar bem, parece que está sempre de olho no seu sangue.

O PSDB não tinha muita opção no quesito carisma. Se o Alckmin é um picolé de chuchu, o Serra, coitado, era um sorvete de fígado. Geraldo Alckmin foi o homem que governou São Paulo por mais tempo, treze anos, depois de seis anos como vice-governador. Sim, ele ficou quase vinte anos no governo, se tornando uma espécie de Putin paulista.

Nenhum outro estado do Brasil é governado há trinta anos pelo mesmo partido. Sim, se o estado de São Paulo fosse no nordeste iam chamar de “coronelismo”.

No sudeste, chamam de “puta case de uso da máquina pública”.

E aí vem a parte mais bizarra da biografia de Alckmin. Sim, durante o governo dele, a PM de São Paulo foi especialmente violenta. Alckmin colocou para comandar a polícia de São Paulo o ex-chefe da Rota, um dos batalhões mais letais de toda a corporação. Alckmin também era governador quando foi executada a ação de despejo de Pinheirinho, que terminou com 1.600 famílias desalojadas por uma operação policial.

A polícia de Alckmin foi ficando cada vez mais violenta, sobretudo contra seus adversários políticos.

Quando o governo anunciou o fechamento de mais de 90 escolas estaduais em São Paulo, os estudantes ocuparam mais de 200 escolas em protesto.

Alckmin, então, mandou a Tropa de Choque para cima deles, e ela desceu o cacete neles.

Alckmin fez a proeza de colocar a população de São Paulo usando máscara antes de ser moda.

Botou, inclusive, as crianças de máscara. Alckmin, como bom médico, estava preparando a população para uma pandemia, botando as crianças de máscara e sem escola.

Mas o pior do Alckmin talvez não seja o Alckmin, e sim o PSDB. Ou o que o PSDB se tornou, em parte por causa dele.

Sim, porque o PSDB, vale lembrar, nem sempre foi linha auxiliar de um governo fascista. Ele nasceu, inclusive, como uma costela esquerda do PMDB.

Sim, o PMDB tirou as costelas, igual o Marilyn Manson. Só que por um motivo menos nobre que ele, na minha opinião.

Depois que o PT foi crescendo, e com isso dominou a centro-esquerda, o PSDB teve que escorregar para direita.

Mas o partido começou a afundar mesmo depois 2014, quando Aécio Neves perdeu a eleição e não aceitou o resultado.

Sim, o tucano passou o ano de 2015 contestando as eleições. Por quê? Segundo ele próprio, “só para encher o saco do PT”.

O que aconteceu foi que Aécio não se conformou que a carreira dele podia acabar ali.

No ano seguinte, o PSDB apoiou o impeachment de Dilma e integrou o governo Temer.

O Brasil foi para beira do abismo e o PSDB “cu-tucano” atrás. Desculpem por esse trocadilho.

Em 2016, Alckmin olhou e viu seu partido dando essa guinada em direção à direita… E o que ele fez? Resolveu surfar em cima dela. Sim, eu também não consigo imaginar o Alckmin surfando, mas foi o que ele fez. “Hoje o mar está ‘flat’, cheio de raole”.

Mas foi isso que ele fez. Primeiro, ele transformou Ricardo Salles, que tinha sido liderança do Endireita Brasil, em junho de 2013, em seu assessor pessoal, e em Secretário do Meio Ambiente.

Sim, o Alckmin foi o pior headhunter da história do Brasil. Foi assim: “Você! Vem. Cola aqui.”

Sim, Alckmin foi responsável por pegar o Ricardo Salles e botá-lo na vida pública. Ricardo Salles, que começou tucano, antes de ajudar a queimar a casa de muito tucano. E olha que essa talvez não tenha sido nem a pior aposta da vida do Alckmin.

Nesse mesmo ano, Alckmin fez uma aposta pior. Qual aposta seria pior que essa?

Sonhar com morte e apostar no avestruz? Não! Antes fosse. Ele resolveu apostar em um publicitário para a prefeitura de São Paulo.

Ninguém menos que o apresentador do “Aprendiz”, o dono de uma revista chamada “Caviar Lifestyle”.

Ele, que teria protagonizado a pior cena de suruba já documentada.

Sim, João Dória. Embora ele provavelmente queira esquecer isso, foi Alckmin quem impulsionou a candidatura de João Dória para a prefeitura de São Paulo, chegando a brigar inclusive com os apoiadores de dentro do partido, o Andrea Matarazzo, mais ligado ao José Serra e ao FHC, tucanos mais velhos, conhecidos como “cabeças brancas”.

A estratégia do Alckmin lá em 2016 era eleger um candidato próprio, no caso, o Dória, e assim ganhar força dentro do partido entre os tucanos mais jovens, os “cabeças-pretas”.

Sim, para eles, Dória era um dos mais jovens, aos 64 anos.

O que já diz muito sobre os tucanos. E, para eles, Dória é um cabeça-preta, o que é factualmente incorreto.

Já que ele é um cabeça Koleston acaju.

Doria, com apoio de Alckmin, ganhou aquelas famosas prévias tucanas caóticas.

Não sei se vocês lembram. Aquelas prévias tiveram porradaria entre tucanos e a famosa foto do militante de bunda de fora.

Que nós não vamos mostrar aqui para não expô-lo, o glúteo.

Mentira! Vamos expor, sim! Pode mostrar! Perceba ali que dá para ver a sua vesícula biliar 30.

Com o apoio dos “cabeças de acaju”, o Alckmin achou que assim teria mais chances de ser o candidato a presidente em 2018, e de fato foi, em vez do Serra.

Só que, então, deu tudo errado pro Alckmin. O governo Temer foi super impopular, e foi bem difícil para o Alckmin se descolar dessa imagem. Mas o inferno astral do Alckmin não parou por aí.

Para piorar, o Dória o traiu. Sim, seu maior apoiador. O Dória traiu o cara e acabou se colando na imagem de Bolsonaro, e a campanha do Alckmin não decolou nem em São Paulo, que sempre foi um “Tucanistão”.

O Alckmin saiu nanico na eleição, em quarto lugar, com 4,76% de votos válidos. Uma vergonha para quem já tinha ficado com 41% no primeiro turno de 2006.

Em 12 anos, o picolé derreteu e ninguém mais quis saber dele, se revelando, não um picolé, mas uma paleta mexicana de chuchu.

O partido teve a sua pior votação na história. Ou seja, o cenário de arrasamento da democracia que o PSDB ajudou a criar não elegeu o PSDB. Que novidade! E elegeu quem? Bolsonaro!

E ao se conectar com o Dória e ser abandonado por ele, o Alckmin ficou isolado e submergiu.

Após a derrota acachapante, Alckmin fez o que todo mundo faz depois de uma derrota acachapante: adquiriu um novo hobby e só aí foi estudar acupuntura.

Sim, culminando naquele vídeo que a gente já viu. Ele foi do Palácio dos Bandeirantes para Rede Bandeirantes, mas não sem escala. Antes passou pelo programa do Ronnie Von.

Sim! Onde ele dava dicas de saúde. Ronnie Von foi o único cabeça-acaju que o acolheu.

E lá no Ronnie Von, ele dava conselhos, como por exemplo este, para lidar com a depressão.

Existem 8 métodos naturais, Ronnie Von, e o primeiro deles é simplérrimo, que é a energia da luz. Quando acordar cedo, abra a janela, abra a cortina.

A importância da aurora matinal, na retina e no cérebro emocional… Eu acho que essa dica de deixar “entrar a luz da manhã” foi uma alfinetada no Temer. Eu acho que foi. Foi tipo:

“Duvido que você tenha coragem!” Mas você vê que ele é um cara tranquilo.

Por quê? Porque o Brasil foi totalmente tomado pelo fascismo e a solução dele é: “abra a cortina.”

É isso que ele faz para resolver nossos problemas… Mas não é só porque o Alckmin é um político com esse histórico no mínimo controverso que a aliança dele com Lula é tão estranha.

Até porque não são só petistas que têm dificuldade de engolir o Alckmin. A base do Alckmin também tem dificuldade de engolir o PT.

A filha do ex-governador Mário Covas, Renata Covas, é uma que saiu descascando e dizendo que Alckmin está sendo movido por “rancor e vaidade”. Eu não entendi. Eu, sinceramente, sonho com um político que aja movido por rancor e vaidade.

Bolsonaro, por exemplo, parece ser movido por ganância e instinto de destruição.

Toda a bancada da bala é claramente movida por ódio a pobre e vergonha de ser brasileiro.

Então, estou achando muito bom rancor e vaidade.

Eu trocaria “ordem e progresso” por “rancor e vaidade”.

E, da mesma forma, também tem muito petista apavorado que o Lula foi se aliar logo a um quadro histórico do PSDB, que foi o principal adversário do PT na eleição de 2002, 2006, 2010, 2014, e no impeachment de 2016. Como diz aquela clássica figurinha de WhatsApp: “Rivais sim, inimigos também. Vai tomar no cu, Flamengo”.

Então por que o Lula resolveu apostar nessa aliança improvável? A resposta parece estar nos números.

Pesquisas internas do PT mostram que o Alckmin transferiria para Lula de 6 a 8 pontos percentuais de seus votos em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, com 22% dos eleitores. Sim, só contando com os eleitores de São Paulo, Alckmin dá um ponto percentual a mais para o Lula no voto nacional. Isso só em São Paulo! Sem contar que esse movimento pode se replicar em outros estados onde Alckmin é benquisto, como Minas Gerais e Paraná. Mas a possibilidade de angariar parte dos votos do Alckmin não é a única razão para Lula ter escolhido o ex-tucano como vice. A decisão também ajuda a acabar com essa história de que Lula e Bolsonaro são “dois extremos”, o que esvazia justamente a terceira via, transferindo parte do seu capital simbólico e eleitoral para o Lula. E é até surpreendente que o Lula precise do Alckmin para provar que não é um esquerdista radical. Afinal, o PT pode até ser de esquerda, mas o Lula sempre fez alianças amplas e ele mesmo já se declarou de centro. Então, o Alckmin pode estar muito à direita dos movimentos sociais que apoiam o Lula, mas não está tanto à direita do próprio Lula. No governo do Lula, os bancos tiveram lucro recorde.

Lula fez alianças com as bancadas religiosas, aprovou a construção do Belo Monte, se aliou com o PP, criou a Força Nacional, que ocupou as favelas do Rio. O Lula eleito em 2002 já era um Lulinha bem centrista.

Não à toa, em 2003, Alckmin disse isso aqui sobre a eleição do rival:

“A posse de lula confirma o Brasil como uma das maiores democracias do mundo”.

Na época, esse respeito do Alckmin pelo Lula era recíproco. E, talvez, eles nem soubessem.

Nos diários de Fernando Henrique, ele conta que, em um encontro de transição do governo, o Lula fez o seguinte diagnóstico sobre o PSDB:

“O Serra ‘não passa no conjunto do Brasil’, não agrada o brasileiro, e o Aécio era ‘fogo de palha'”.

A conclusão do Lula sobre os sucessores do FHC foi: “O melhor que vocês têm é o Geraldo”.

Fico até arrepiado… Mentira! Eu gosto…

O que eu mais gosto é da folga do Lula, que vai ver o presidente, porque ele era presidente, e fica dando palpite sincerão no partido dele.

Lula parece um convidado que vai para o Natal na sua casa e fica falando mal da sua família.

“Não gostei da sua mãe. Sua mãe não me passou verdade. A sua mãe é… O seu irmão é mal caráter.”

Apesar disso tudo, ainda tem gente dizendo que Lula é um extremista.

Sim. Só que esse argumento se dissolve completamente quando Lula se alia a Alckmin, o fundador do partido de um dos principais nomes da terceira via, Eduardo Leite. E Alckmin é o padrinho político de outro, o Dória.

Alckmin é uma espécie de velho da lancha desse povo todo. Foi ele que bancou o champanhe, o caviar e o cashmere da turma da cabeça-acaju. A verdade é que, apesar de tudo que separa Lula e Alckmin, a aliança dos dois não é exatamente uma novidade histórica. No início dos 80, políticos brasileiros de todo o espectro democrático subiram no palanque das diretas para acabar com a ditadura. Lula e Fernando Henrique estavam juntos.

Brizola, Tancredo e Ulysses Guimarães também. Palmeiras e Corinthians também.

E a Globo? A Globo não. A Globo estava em busca de uma terceira via.

“Nem indiretas, nem esse extremismo de diretas. Vamos no caminho do meio. Semidiretas. Indiretinhas…”

Agora, é claro que apesar disso tudo, muita gente vai enxergar só hipocrisia na aliança entre Lula e Alckmin.

E para isso, eles vão olhar para as falas como essa daqui, feita pelo Alckmin em 2017, quando ele assumiu a presidência do PSDB:

O Brasil vive uma ressaca! Descobriu que a ilha da fantasia petista nunca foi a terra prometida!

Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder.

Ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime!

Fiquem certos de uma coisa, nós os derrotaremos nas urnas!

Lula será condenado nas urnas pela maior recessão da nossa história!

As urnas os condenarão! Então, ele estava claramente bêbado, para começar.

Dá para ver! Não foi isso que ele quis dizer. Ele não sabia que estavam filmando.

Não dá para atestar que esse vídeo é real. E se for real, não tem nada demais.

Mas pode não ser real. Mas falando sério, parece chocante ele dizer que vai derrotar o Lula nas urnas.

Mas o essencial na frase é a palavra “urnas”. Porque esse vídeo é de 2017, quando boa parte do partido dele e da grande imprensa defendiam que Lula fosse preso. Parece um ataque a Lula, mas é uma defesa do processo democrático.

Até no momento de seu maior ataque ao Lula, Alckmin não defendia que Lula fosse retirado do processo eleitoral, como tanta gente do campo dele. Eu sei que isso parece pouco, mas em 2017 não era tão pouco assim.

Isso não quer dizer, claro, que todas as declarações de Alckmin sobre a prisão de Lula tenham sido impecáveis.

Ele muitas vezes jogou para torcida e falou que a prisão dele “representava o fim da impunidade”.

Mas sabe quem não está se importando com isso? O próprio Lula.

A gente não pode ficar mais chateado que o Lula por coisas que disseram sobre o Lula. Não dá para ser mais lulista que o Lula.

Mas dá para ser tão lulista quanto o Alckmin de 2022.

E quero cumprimentar, Carlos Siqueira, o PSB, pela decisão de apoiar o presidente Lula para presidente da República. É ele!

Nós temos que ter os olhos abertos, ter os olhos abertos para enxergar. Para enxergar.

A humildade para entender que ele é hoje aquele que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro.

Aliás, ele representa a própria democracia, porque ele é fruto da democracia!

Não chegaria lá, do berço humilde que sempre foi, se não fosse o processo democrático.

Vamos lá. Acho que alguém apertou minha vesícula biliar 30 aqui.

Porque eu senti um alívio da dor na lombar. Saiu um peso das minhas costas, gente.

Essa aliança inédita de velhos rivais é a grande vantagem deles, mas também o perigo dessa candidatura. Sim, porque, por um lado, ela é tudo que Bolsonaro precisa para tentar convencer os eleitores de que ele é o anti-establishment.

Embora ele não consiga falar “establishment”. E, mesmo sendo o presidente do centrão, Bolsonaro é a personificação do establishment.

Sim, Bolsonaro conseguiu a proeza de fazer uma presidência de oposição, e para ganhar ele vai precisar convencer o eleitor de que ele representa a mudança em relação a si próprio.

E é por isso que ele já faz questão de dizer que não manda, que quem manda é o Congresso, o Supremo, os governadores, qualquer um menos ele. Porque enquanto ele não assume as rédeas do país, ele não precisa assumir o desastre que esse governo tem sido.

Seu maior trunfo na hora de tentar uma reeleição, ou um golpe de Estado, é o mesmo que o elegeu: insistir que o Brasil precisa se livrar, de uma vez por todas, dos políticos, da política, da possibilidade de conciliações democráticas.

E se o povo brasileiro tiver que escolher entre a política e a antipolítica, é possível que a antipolítica ganhe de novo.

Porque não é como se os políticos tivessem muito apreço da população, mas mesmo com todos esses riscos, a chapa Lula e Alckmin ainda parece ser nossa melhor chance de derrotar Bolsonaro. Primeiro, porque ela também representa a aliança das duas linhas de governo que mais deram certo no Brasil desde a democratização. E segundo, porque a gente não produziu nenhuma outra opção eleitoralmente forte. É um pouco triste, na verdade, que a gente não tenha conseguido criar outras lideranças, mais conectadas com os debates do século XXI, e tanto Alckmin quanto Lula tem culpa nisso.

Mas o fato é que eles são hoje a chapa que a gente tem. E o abismo em que a gente está não dá muita margem para nojinho.

Porque do outro lado tem esgoto a céu aberto. E falando em esgoto a céu aberto, sabe quem foi que mais fez saneamento básico nesse país? Geraldo Alckmin!

Então, você que está em casa, abra a cortina que a aurora vem aí.

Vamos saudar a energia da luz! Alckmin vai colocar uma agulha na vesícula biliar 30, curando a dor na lombar da nossa democracia. Esse é o chuchu que vai acabar com a fome no Brasil de novo!

O que o Brasil precisa é da união de um médico e de um operário. O bisturi e o torno mecânico serão nossa foice e nosso martelo.

E Lula, caso você esteja vendo, cuida bem da saúde, tá? Abre a janela de manhã, faz um check-up.

Esse foi o Greg News!