Gleisi: PT e esquerdas precisam se fortalecer para enfrentar o que vem por aí

A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), faz um balanço da disputa eleitoral de 2020, contabiliza as derrotas e vitórias e diz que a legenda tem o desafio de se reconstruir para encarar 2022.

Em entrevista concedida ao cientista político Alberto Carlos Almeida, a dirigente petista defende a unidade das esquerdas, como a que foi construída no segundo turno das capitais, para enfrentar a direita na próxima batalha eleitoral.

“PT e esquerdas precisam se fortalecer para enfrentar o que vem por aí”, diz Gleisi.

Entrevista com Gleisi

Depois de enfrentar uma tragédia em 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff foi derrubada da Presidência da República, num processo ilegítimo pelo Congresso Nacional – afastada sem que tivesse cometido crime de responsabilidade – o PT saiu das urnas em 2020 contabilizando derrotas. Não fez nenhum prefeito nas capitais, mas conseguiu mostrar força para se recuperar em grandes centros urbanos. Esta é a avaliação da presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT), feita em conversa com o cientista político Carlos Alberto de Almeida, no canal no YouTube.

Na entrevista, Gleisi afirma que o PT quer fortalecer o campo da esquerda no país. “Eu acho que tivemos uma grande experiência no segundo turno, em que estávamos unificados em Porto Alegre, São Paulo, Fortaleza, Belém, em várias candidaturas, em que essa frente acabou se unindo pra poder enfrentar a direita”, observa. “Acho que foi uma experiência importante e a esquerda fez uma votação expressiva, mostrando que é uma alternativa pra 2022”.

A parlamentar considera que a esquerda se posicionou bem em vários centros urbanos. E, se não ganhou, ficou com um saldo eleitoral importante, de 40% a 45% dos votos. “Conseguimos nesse processo barrar a ascensão da extrema-direita. Não sou daquelas que acha que Bolsonaro é o grande derrotado das eleições, acho que Bolsonaro tá bem vivo, vai voltar e disputar, mas com certeza aquela ascensão da extrema-direita que nós vimos em 2018 teve uma queda agora nas eleições de 2020”, observa.

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Ela diz que o caminho das esquerdas precisa ser construído em busca da unidade para tocar um novo projeto para o país. “Precisamos ver que queremos para país daqui pra frente. Isso tudo ainda tem tempo pra que a gente possa conversar”, prega. Ela diz que todas as legendas de esquerda precisam superar os embates e diferenças para enfrentar a extrema-direita de Jair Bolsonaro. Ela reconhece, contudo, que as feridas estão abertas e precisam ser curadas. “A eleição obviamente deixou cicatrizes grandes, mais difícil mesmo em relação ao PSB em Recife”, constata.

Gleisi comentou que, no Recife, os adversários da candidata Marília Arraes (PT) usaram métodos de desconstrução semelhantes àqueles adotados por Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais. “O PSB usou lá os mesmos métodos da extrema-direita pra atacar o PT, pra atacar a Marília, pra atacar as posições que nós tínhamos lá, foi uma campanha muito pesada do ponto de vista político, que a gente vê quando disputa com a direita, extrema-direita, esse processo de desconstrução”, compara.

“Fizemos lá uma disputa praticamente sozinhos, o PT com o PSOL, a aliança que tinha em torno da candidatura de João Campos era muito grande e contava com o apoio das duas máquinas, do governo do estado e da prefeitura”, destaca. Daí porque ela vê com naturalidade o reposicionamento das legendas com vistas às eleições presidenciais de 2022. “Vi hoje o PDT e o PSB falando que têm um bloco, que são a opção dos progressistas. A ver”, afirma. “O tempo precisa passar pra gente ter avaliações mais concretas”.

O tamanho do desafio

Gleisi é muito realista sobre as dificuldades do PT na disputa política. “Dentro das condições que nós tínhamos, que disputamos as eleições, a nossa avaliação é que foi um resultado razoável”, observa a parlamentar. “Não foi a tragédia que querem impor ao PT, e obviamente não representou uma vitória do partido nesse processo”.

Segundo Gleisi, a eleição de 2020 foi atípica, por conta da pandemia. “Nós, do PT, saímos tarde para fazer a campanha de rua. Isso teve um impacto na mobilização partidária”, pondera. “E esse processo de pandemia também trouxe uma melhora na avaliação das administrações das prefeituras. Vamos lembrar que a gente teve facilidade de gastos do poder público, foram flexibilizadas as regras. Nesta eleição, tivemos um dos maiores índices de reeleição dos prefeitos: 63%. Mesmo prefeitos que estavam mal avaliados antes, recuperar a imagem”.

Daí porque ela afirma que o PT ainda está em processo de reconstrução. “Tivemos várias derrotas políticas: o impeachment da Dilma, a prisão do Lula, a desconstrução do PT, isso não é uma coisa fácil de mudar”, destaca. “O PT enfrentou isso, fizemos o debate, conseguimos nos colocar nesse debate de forma diferente, como foi em 2016, e também em 2018. Mas, isso [o antipetismo] ainda é muito forte, em relação ao partido”, reconhece. “Tanto que nas candidaturas de segundo turno, nós fomos com o maior número de candidatos, isso foi muito utilizado pra combater o PT: ‘o PT não pode, PT é corrupto’”, lamenta.

Fortalecimento e reorganização

De acordo com a presidenta nacional do PT, ainda há muito a se recuperar da imagem da legenda e das esquerdas. “Isso é processo, leva tempo, não é salto. A desconstrução que nós sofremos, o tombo, não é algo fácil de se levantar de uma hora pra outra; não é em uma eleição que a vai conseguir vencer isso tudo”, afirma. “O fato de não termos perdido eleitorado em relação a 2016, consideramos que é um resultado razoável. Não é uma derrota acachapante, e obviamente também não é uma vitória. Isso sinaliza que o PT precisa se fortalecer, precisa se posicionar, se reorganizar pra enfrentar o que tem por vir”, opina.

Ela disse que a defesa do legado do PT foi um objetivo alcançado na disputa eleitoral deste ano. “Uma das coisas mais importantes é que o partido falou com o Brasil: nós estávamos a muito tempo sem ter uma voz pública forte, porque veja: nós temos a censura de mídia, temos um movimento para isolamento do partido, nós não temos espaço – mesmo na oposição, quando a grande mídia ouve, são poucos os partidos de oposição e o PT nunca é ouvido”, diz.

“As eleições foram o primeiro momento que nós tivemos para utilizar os meios de comunicação de forma geral sem nenhuma censura, aonde tinha rádio e televisão”, destaca. “Mas foi um tempo muito curto de campanha, ainda com o calendário alterado por conta da pandemia, com os problemas que tivemos, obviamente que essa mensagem não foi suficiente para alterar os fatos e nem mesmo a correlação de forças que se instalou no Brasil a partir do Golpe de 2016, e também com o governo Bolsonaro”.

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