A atuação de Gabriel Galípolo no comando do Banco Central expõe um contraste político evidente. Ele tem sido mole com os oligarcas da Faria Lima ao preservar o ambiente de juros altos e, ao mesmo tempo, duro com o setor produtivo, que depende da redução da Selic para investir, contratar e fazer a economia girar.
Ao sustentar um discurso ambíguo, Galípolo preserva o ambiente de juros altos que interessa ao rentismo da Faria Lima e, politicamente, favorece o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa de 2026.
Os últimos dados do Caged e da inflação abriram espaço para que indústria, comércio e construção civil defendessem uma desaceleração mais rápida da política monetária. Esse grupo chegou a ensaiar apostas em um corte maior em janeiro, amparado na melhora de indicadores reais da economia.
Mas o mercado financeiro tradicional, composto por bancos, fundos de renda fixa e gestores conservadores, nunca embarcou nesse movimento. Para eles, a Selic alta sempre foi o cenário ideal, porque remunera aplicações com alto retorno e baixo risco.
Galípolo reforçou essa preferência.
Sua comunicação recentíssima não trouxe nenhum sinal de flexibilização. Ao contrário, consolidou a percepção de que o BC não pretende antecipar o ciclo de cortes. O recado atingiu em cheio o setor produtivo, que depende de crédito mais barato para expandir investimento e manter empregos.
É falsa a ladainha de que o desenvolvimento e o aumento do consumo trariam de volta a inflação. Também não se sustenta o conto da carochinha de que preços pressionados arruinam popularidade e projetos de reeleição.
A experiência brasileira mostra o contrário, o que causa dano político irreversível é a retração econômica, os juros proibitivos e o travamento da atividade, um ambiente que sufoca a renda, paralisa investimentos e mina a confiança da população no futuro.
Convém registrar que o Copom só se reúne nos dias 9 e 10 de dezembro. A decisão formal sobre a Selic ainda não ocorreu. O que movimenta as expectativas é o peso político das palavras do presidente do BC, que atuam como âncora para a Faria Lima.
O impacto político é imediato.
Juros altos retraem o consumo, encarecem financiamentos, travam o desenvolvimento e comprimem o ritmo de retomada econômica. Esses efeitos prejudicam a popularidade do governo Lula e abrem espaço para a retórica neoliberal de pretensos “gestores eficientes”, como Tarcísio de Freitas.
Quando a economia perde fôlego, surgem incertezas. É nesse ambiente que falsos profetas liberais avançam, vendendo a ideia de que o país precisa retornar ao receituário ortodoxo que beneficia poucos e penaliza muitos.
Para Tarcísio, juros elevados são estratégicos.
A desaceleração da economia reforça seu discurso alinhado à Faria Lima e fortalece sua imagem nacional como alternativa “responsável” ao governo federal. Para Lula, o cenário é o oposto, porque políticas sociais e investimentos dependem de um ambiente monetário mais favorável e com juros mais baixos.
O debate sobre a quem serve o Banco Central, portanto, é político, econômico e social. E a resposta se torna cada vez mais evidente.
Juros altos não são neutros, têm endereço certo. O país precisa decidir se a política monetária vai atender ao setor produtivo e ao povo ou continuar submetida ao rentismo da Faria Lima.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




