A Folha de S. Paulo, que já chamou ditadura de ‘ditabranda’, em editorial, pede por democracia neste domingo (28). O jornal reconhece no texto que errou ao apoiar a ditadura instalada no Brasil entre 1964 e 1985.
Embora a Folha faça a autocrítica e registre que só na década seguinte ao golpe, anos 70, que se desvencilhou dos generais, a publicação já nos anos dois mil minimizava o regime antidemocrático ao chamá-lo de ‘ditabranda’.
em 17 fevereiro de 2009, o jornalão paulistano ao comparar os modelos de democracia na América Latina afirmou que as chamadas ‘ditabrandas’ -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça.
A Folha dissera que no Brasil houve uma “ditadura + branda= ditabranda” e torceu o nariz para os mortos, torturados e perseguidos políticos no país em 21 anos de horrores.
Não há como passar o pano. Nem para a Folha, que almeja trocar o burro para manter a mesma sela. Isto é, o jornal pretende tirar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e manter a mesma política econômica neoliberal responsável pela fome, miséria, desemprego, quebradeira e depressão na produção do País.
O jornal Folha de S. Paulo lançou hoje campanha pelo resgate do ‘amarelo pela democracia’ e promete fazer um cursinho sobre história do período da ditadura militar.
Mas no essencial, a Folha continua fechadíssima com Bolsonaro e Paulo Guedes: na economia.
A ‘ditabranda’ da Folha continua por meio da economia neoliberal, portanto, e o editoral deste domingo do jornalão é para inglês ver. Um horror pela falta de empatia das pessoas massacradas pela concentração de renda nas mãos dos bancos e dos especuladores.
A Folha pede democracia do ponto de vista dos costumes, mas continua a apoiar a ditadura na economia, a economia neoliberal de Guedes e Bolsonaro. É a ‘ditabranda’ repaginada.
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Leia a íntegra do editorial da Folha:
Democracia, nunca menos
Debate sobre sistema de governo deveria estar superado, mas urge voltar ao tema
É sólido o edifício da jovem democracia brasileira. Vultosa maioria, de 75%, hoje considera essa a melhor forma de governo. Trata-se de recorde desde que o Datafolha começou a pesquisar o tema, em 1989.
É sólido e, ainda assim, vem sofrendo ataques sistemáticos de extremistas identificados com o presidente Jair Bolsonaro, no maior teste de estresse desde a volta de um civil à Presidência, há 35 anos.
Muitos o fazem por má-fé; outros, por não terem vivido os horrores da máquina cruel que se instalou com a ditadura militar em 1964. Este último grupo faz parte dos 54,2% de jovens nascidos após 1985.
Por isso, a Folha lança ação em três frentes: campanha publicitária e especial jornalístico neste domingo (28), quando começa um curso gratuito para interessados em conhecer a história para não repeti-la.
A iniciativa serve também para acordar os saudosistas de um mundo de fantasia, em que não haveria corrupção nem escândalos, a segurança pública seria grande, e a economia, milagrosa.
Na vida real, o arbítrio sufocava as instituições, o pensamento livre e o direito de expressá-lo. A tortura era política de Estado, os adversários desapareciam, os desmandos ficavam ocultos pela mordaça nos outros Poderes e o crescimento econômico da década de 1970 acabou em inflação descontrolada e dívida.
A censura calava a imprensa, que apoiou o novo regime num primeiro momento, caso desta Folha, que errou. Este jornal viu-se rapidamente engalfinhado pelo novo sistema de poder, perdendo a capacidade de reagir antes mesmo de percebê-lo.
Só na década seguinte achou meios de empreender um combate, mesmo que velado e sutil, à ditadura. E, nos anos 1980, liderou na imprensa o movimento das Diretas Já, firmando-se como defensor intransigente da democracia e das liberdades individuais.
Os homens não são sempre virtuosos; pensando nisso, os reformadores do Ocidente moderno construíram um sistema de Poderes autônomos e harmônicos, que funcionam como freios ao autoritarismo.
Um sistema em que o poder popular se faz representar por eleições livres e é exercido dentro dos parâmetros da lei máxima. A Constituição de 1988, não isenta de defeitos, teve o grande mérito de reunir a sociedade em torno desse consenso iluminista.
Com ela, a discussão sobre o melhor sistema de governo parecia relegada a segundo plano. A agenda pública deveria estar ocupada por redução da desigualdade, crescimento econômico e educação.
No entanto, urge voltar ao tema, e a Folha busca inspiração no seu papel histórico nas Diretas Já para resgatar a cor amarela como símbolo da democracia.
Assim, as vitrines das edições dominicais trarão uma faixa dessa cor com os dizeres #UseAmarelo pela Democracia, e o slogan da Folha desde 1961, UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL, passa temporariamente para UM JORNAL A SERVIÇO DA DEMOCRACIA até as próximas eleições presidenciais.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.