Em 10 curtíssimos pontos, o jornalista Ricardo Cappelli explica ao distinto leitor porque o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afrouxou no pronunciamento desta terça (31).
“Seu isolamento chegou a um nível insuportável. Vinha perdendo apoio popular. Moro desapareceu. A aprovação de Mandetta explodiu. Até Guedes disse que preferia ficar em casa”, opina.
Cappelli interpreta a nota do general Villas Bôas como uma ducha de água fria no “Capitão Corona”: ‘estamos com você, mas não conte conosco para qualquer maluquice’. Portanto, afirma o articulista, só restou o recuo para Bolsonaro.
Para o jornalista, o presidente deu um cavalo de pau e se reposicionou no jogo ao fazer um discurso mais equilibrado.
Ricardo Cappelli vê acerto na movimentação do “Capitão Corona” e afirma que não motivos para festas com o recuo.
Leia a íntegra do artigo:
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Fato novo: Bolsonaro recuou. Por quê?
Ricardo Cappelli*
1 – É a primeira vez que o Capitão bate em retirada. O discurso “colcha de retalhos” mostrou que essa manobra é nova para ele. Todos esperavam um novo pronunciamento em rede nacional exaltando o Golpe de 64 e avançando na sua aposta contra o coronavírus. Ele surpreendeu o Brasil.
2 – Afirmou que se preocupa com vidas e com a economia, disse que não existe comprovação científica para a hidroxocloroquina e procurou capitalizar a ações do governo em tom de esperança para depois da pandemia. Valorizou os profissionais de saúde.
3 – Falou sobre os 600 reais por mês para trabalhadores informais e para os mais pobres, crédito para as microempresas, congelamento dos preços dos remédios por 60 dias e deu ênfase aos repasses de verbas para os governos estaduais.
4 – Por que fez isso? Seu isolamento chegou a um nível insuportável. Vinha perdendo apoio popular. Moro desapareceu. A aprovação de Mandetta explodiu. Até Guedes disse que preferia ficar em casa.
5 – Nestes momentos, para avançar e radicalizar é preciso contar as divisões. Circulou que nos últimos dias ele procurou desesperadamente por apoio no meio militar para sua aventura, sem sucesso.
6 – Tudo indica que o texto de Villas Bôas, interpretado como uma demonstração de apoio, foi um recado. Na política, quem está forte não precisa de nota de apoio. A nota do general, hoje, ficou clara: “estamos com você, mas não conte conosco para qualquer maluquice”. Só restou o recuo.
7 – O tuíte efusivo de Mourão saudando o Golpe de 64 pode ter pressionado também Bolsonaro. O vice lembrou às forças armadas e à extrema-direita que todos continuariam no poder com ele. O Capitão sentiu o risco de estar se tornando descartável.
8 – O presidente fez seu discurso mais equilibrado desde o começo da crise. Deu um verdadeiro “cavalo de pau”. Se reposicionou no jogo, claramente. A presença de Carluxo no Planalto teve um resultado inesperado.
9 – Tem gente do campo progressista comemorando. Recuo é sempre derrota, claro. E pode ajudar a salvar vidas, o mais importante. Mas o acerto do adversário, que se movimentou percebendo o risco do abismo, é motivo pra festa?
10 – Como se diz no mercado, o Capitão resolveu realizar o prejuízo e pular fora antes que quebrasse.
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.