Ex-presidente francês Nicolas Sarkozy é condenado a 3 anos de prisão por corrupção e tráfico de influência

O ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi condenado nesta segunda-feira (1°) a três anos de prisão, em regime fechado, por corrupção e tráfico de influência. Ele é o primeiro ex-chefe de Estado francês a receber uma pena de prisão em regime fechado, mas seus advogados ainda podem recorrer da sentença.

A decisão foi anunciada pela juíza Christine Mée, do Tribunal de Paris, que declarou Sarkozy, de 66 anos, culpado de corrupção e tráfico de influência no chamado “escândalo dos grampos telefônicos”. O caso veio à tona em 2014, dois anos depois que o ex-presidente deixou o cargo.

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De acordo com ela, Sarkozy “que era o guardião da independência da justiça, utilizou seu status de antigo presidente para presentear um magistrado que serviu seus interesses pessoais”, o que pode ser considerado em sua opinião um “pacto de corrupção”.

Economia

Sarkozy sempre jurou inocência e diz jamais ter cometido “qualquer irregularidade”. Nesta segunda-feira, o ex-chefe de Estado escutou de pé e impassível sua pena no tribunal. Ao deixar o local, ele e seus advogados não quiseram conversar com a imprensa.

Em 8 de dezembro de 2020, o Ministério Público das Finanças havia pedido ao ex-presidente uma pena de quatro anos de prisão, dois em regime fechado. Para a instituição, a imagem da função presidencial foi “manchada” por Sarkozy.

Grampos telefônicos
O “escândalo dos grampos telefônicos” tem origem em outro caso que ameaça Sarkozy. Há suspeitas de que ele tenha recebido financiamento do regime líbio de Muammar Kadafi durante a campanha presidencial de 2007 , que o elegou. Para investigar essa hipótese, a justiça decidiu grampear o telefone de Sarkozy e descobriu-se que ele tinha uma linha secreta, utilizada para conversar com seu advogado, Thierry Herzog, sob o pseudônimo de “Paul Bismuth”.

Segundo os investigadores, algumas conversas revelaram a existência de um pacto de corrupção. Junto com seu advogado, Sarkozy teria tentado obter informações sigilosas de outro processo contra ele. Os dois homens demonstravam preocupação com uma decisão esperada no Tribunal de Cassação, a respeito das agendas do ex-presidente da República apreendidas no contexto do caso Liliane Bettencourt, então dona do grupo L’Oreal.

Sarkozy foi processado por abuso de confiança ao pedir dinheiro para sua campanha de 2007 à bilionária, na época com 84 anos. A ação acabou sendo arquivada por falta de provas. Mas, apesar do desfecho favorável, o ex-chefe de Estado continuou solicitando à Justiça que “evitasse” que informações contidas em suas agendas reaparecessem em outros casos.

Nesse contexto, os juízes descobriram durante a escuta telefônica que Sarkozy e Herzog obtinham informações no Tribunal de Cassação de um certo Gilbert Azibert, primeiro advogado-geral na Corte. Para influenciar seus colegas, Sarkozy teria prometido ao magistrado ajudá-lo a conseguir um cargo altamente cobiçado no Conselho de Estado de Mônaco.

Azibert e Herzog também foram condenados à mesma pena de Sarkozy nesta segunda-feira. Ambos foram considerados culpados de violação de segredo profissional. Além disso, Herzog está proibido de advogar durante cinco anos.

Outras investigações
Sarkozy governou a França de 2007 a 2012 e enfrenta outras investigações judiciais. No próximo 17 de março o ex-presidente enfrentará um segundo processo, chamado de “caso Bygmalion”, sobre o financiamento de sua campanha eleitoral em 2012.

O ex-chefe de Estado se retirou da vida política em 2016, mas ainda tem forte popularidade entre os simpatizantes da direita. A condenação desta segunda-feira, que ocorre um ano antes das próximas eleições presidenciais francesas, deve acabar com qualquer intenção de Sarkozy de se candidatar novamente.

Antes dele, outro ex-presidente francês, Jacques Chirac (1995-2007), seu antecessor e durante anos seu mentor político, foi condenado a dois anos de prisão, mas com suspensão condicional da pena, por desvio de fundos na época em que foi prefeito de Paris. No entanto, sua saúde frágil o impediu de comparecer ao tribunal e ele jamais cumpriu a pena.

Por RFI