EUA reconhecem na Venezuela legitimidade do governo Nicolás Maduro

► EUA restauram relações com a Venezuela, esperando encontrar um substituto para o petróleo russo
► Reaproximação americana implica no reconhecimento da legitimidade do governo Nicolás Maduro
► Com isso, se encerra melancolicamente o “autoproclamado” governo de Juan Guaidó

Funcionários de alto escalão dos EUA, incluindo funcionários do Departamento de Estado e da Casa Branca, viajaram sábado (05/03) para a Venezuela para se reunir com o governo do presidente Nicolás Maduro. Tudo isso está acontecendo como parte dos esforços do governo Biden para “separar a Rússia de seus aliados internacionais restantes” em meio a uma crise ucraniana que se agrava, escreve o The New York Times.

Em 2019, Washington cortou relações diplomáticas com Caracas, acusando o “líder autoritário” da Venezuela de fraude eleitoral. O governo Trump então tentou derrubar Maduro impondo sanções às exportações de petróleo e apoiando o líder da oposição Juan Guaidó como o “presidente legitimamente eleito”.

Aliás, estimularam o deputado Juan Guaidó se “autoproclamar” presidente da Venezuela numa tentativa frustrada de derrubar Nicolás Maduro – democraticamente eleito.

Como resultado, o governo venezuelano teve que buscar ajuda econômica e diplomática de Moscou, assim como de Teerã e Pequim. Empresas de energia e bancos russos “ajudaram visivelmente” Caracas, permitindo que continue exportando petróleo apesar das sanções, observa o New York Times.

A operação especial russa na Ucrânia levou os EUA a examinar mais de perto os aliados de Vladimir Putin na América Latina. Porque, de acordo com Washington, eles podem representar uma “ameaça à segurança no caso de um confronto mais profundo” com Moscou.

As autoridades americanas contam com o “colapso” da economia russa. Eles estão “aproveitando a oportunidade para avançar sua agenda entre os autoritários latino-americanos, que podem começar a ver Putin como um aliado cada vez mais enfraquecido”.

Economia

Este mês, os Estados Unidos e seus aliados consideraram impor sanções às exportações russas de petróleo e gás. Representantes proeminentes dos principais partidos americanos sugeriram a Venezuela como um substituto em potencial.

Reaproximação americana implica no reconhecimento da legitimidade do governo Nicolás Maduro
Reaproximação americana implica no reconhecimento da legitimidade do governo Nicolás Maduro

Em particular, o ex-congressista republicano Scott Taylor participou das negociações sobre a retomada das compras de petróleo venezuelano. Ele trabalha com o lobista de Washington Robert Strick, que em 2020 “representava brevemente o regime de Maduro e ainda mantém contato com seu círculo”.

Taylor disse que conversou com um empresário venezuelano no outro dia que sinalizou que a equipe de Maduro estava procurando “reengajar” com os EUA. “Devemos aproveitar esta oportunidade para alcançar uma vitória diplomática e abrir uma brecha entre a Rússia e a Venezuela”, disse o ex-congressista.

A ex-apresentadora da Fox Business, Trish Regan, exortou Washington a se aliar a Caracas para “empurrar o petróleo russo para fora do mercado americano”.

– A Venezuela tem a MAIOR fonte de reservas de petróleo, vamos dar para os chineses e russos? – questionou ela no Twitter.

Pouco antes do início da operação especial na Ucrânia, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Yuri Borisov, viajou a Caracas para se encontrar com representantes de Maduro. Ambos os governos disseram que Putin e seu colega venezuelano realizaram pelo menos duas ligações telefônicas no mês passado.

Antes da imposição de sanções, a Venezuela enviava a maior parte de seu combustível para a Costa do Golfo para os Estados Unidos. Segundo alguns especialistas, o país latino-americano poderá compensar parcialmente as perdas dos Estados Unidos se decidirem reduzir as importações de petróleo russo.

O chefe da Venezuela, aparentemente, está pronto para discutir acordos de petróleo com Washington.

– Aqui está o petróleo da Venezuela, que está disponível para quem quiser extraí-lo e comprá-lo, seja um investidor da Ásia, da Europa ou dos Estados Unidos – disse Nicolás Maduro em discurso público esta semana.

Enquanto isso, Maduro e outros aliados latino-americanos de Moscou “começaram a se distanciar” do conflito na Ucrânia. Venezuela, Nicarágua e Cuba se abstiveram ou não votaram em duas resoluções da ONU que condenavam a operação especial russa, chama a atenção do The New York Times.

Quanto ao Brasil, os americanos – assim como os europeus – continuam considerando Jair Bolsonaro um pária e por isso mantém distância regulamentar do inquilino do Palácio do Planalto.