“Estou em paz”, diz Gustavo Fruet sobre aliança com o PT

Entrevista ao jornal Metro

Gustavo Fruet:  "A popularção está buscando uma alternativa". Rodrigo Félix Leal/Metro Curitiba.
Gustavo Fruet: “A população está buscando uma alternativa”. Rodrigo Félix Leal/Metro Curitiba.
O ex-deputado Gustavo Fruet (PDT) confessa que sempre alimentou o sonho de ser prefeito de Curitiba. Seu pai, Maurício Fruet, ocupou o cargo nos anos 1980 e marcou sua gestão pela participação popular na administração da cidade. Gustavo, que foi vereador e três vezes deputado federal, quer repetir em parte a gestão paterna. Para tentar chegar ao cargo, vai contar com o apoio do PT, da ministra Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil da Presidência da República, e do PV.

Por que o eleitor curitibano deve votar no senhor?

São alguns os fatores que me motivam a disputar uma eleição. Primeiro, o amadurecimento. Eu gosto de política, é um projeto de vida, faço disso uma paixão lúcida desde pequeno. Em todas as eleições, sempre fui bem votado na capital, sempre com uma votação crescente, sempre dobrando a votação. Para o Senado, tive uma votação excepcional. Senti um carinho imenso da população de Curitiba. Há uma expectativa que se manifestou nas eleições e também numa série de pesquisas. O segundo fator é o desafio, maravilhoso. Não nego que sempre alimentei o sonho de disputar uma eleição na capital. O terceiro é que Curitiba sempre se marcou por ser uma cidade de vanguarda. Mas mudou de escala, teve um crescimento muito acentuado e isso não foi acompanhado com o mesmo ritmo de inovações. Há uma estagnação.

Onde está a estagnação?

Na questão do planejamento. à‰ fundamental fortalecer o Ippuc [Instituto de Planejamento e Pesquisa de Curitiba] como um órgão de planejamento de ações de médio e longo prazo. A atual gestão teve medidas precipitadas, que se devem muito mais à  pressão do momento do que propriamente ao resultado. A primeira delas é a questão do radar, da Consilux. Foi anunciado o fim do radar, houve denúncia do radar por corrupção, e até hoje não apareceu o nome dos corrompidos. Outro exemplo é a Linha Verde, o que ocorreu na trincheira da Rua Gustavo Rattman. O terceiro exemplo são estes editais que estão sendo lançados.

Os editais de concessão dos espaços públicos?

Economia

Sim. Qual é a estratégia para a cidade? à‰ bom lembrar, e eu votei no Congresso, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Por que isso? Para evitar que, no último ano, os gestores assumam compromissos com impacto de médio e longo prazo. Muitos gestores no último ano, e aqui está acontecendo isso, estão abrindo editais de concessão de serviços de 20, 30 anos.

Essas concessões podem ser desfeitas se o senhor se tornar prefeito?

Estabelecido o contrato, é evidente que isso tem consequências. O exemplo a gente teve na discussão do pedágio. Mas como é que vão se dar esses editais e quem serão os participantes? E quais são os critérios estabelecidos? Há setores em que é fundamental que o Estado participe. A área cultural é um deles. à‰ evidente que isso tem que estar sujeito ao controle da administração. Eu dou um exemplo: criou-se em Curitiba um instrumento muito importante que é o Instituto Curitiba de Informática, praticamente a terceirização de todo o serviço público de TI da prefeitura. A parte de TI é fundamental, pensando num programa de desenvolvimento econômico, criar um ambiente favorável para atrair investimentos nesse setor. Mas hoje tem sido um instrumento de contratação da prefeitura, desde a sua fundação, até a conclusão dos contratos que estão sendo assinados agora, com vigência até 2016. O ICI vai receber quase R$ 1 bilhão. Talvez seja o maior repasse de serviço terceirizado de Curitiba.

Você acha que o ICI é lesivo aos interesses do município?

Não, eu defendo a fiscalização. à‰ um instrumento muito importante. O Governo Eletrônico, hoje, não tem volta. Mas há que se ter um controle por parte da prefeitura.

Você acha que a prefeitura tem esse controle hoje?

Acho que não, e o maior exemplo é a dificuldade de se ter acesso à  informação no ICI. Está havendo um bom debate com relação ao edital de terceirização da Pedreira. Essa discussão tinha que ocorrer com outros órgãos que já têm contratos terceirizados. Na área médica, por exemplo.

A terceirização na saúde está influindo negativamente?

Age-se muito mais em função da pressão do que propriamente com estratégia de médio e longo prazo. A prefeitura, para resolver o problema dos médicos, incorporou ao salário um benefício. Foi preciso de uma greve para dar o mesmo atendimento aos dentistas. Na sequência, também houve uma paralisação em função da carga horária. A próxima gestão vai ter que estabelecer um padrão para todas as categorias, na carga horária. Isso vai ter um custo político imenso no próximo período. Isso decorre de atitudes que se devem muito mais à  pressão do que de um projeto de médio e longo prazo.

Que pressões a prefeitura sofre?

Acho que não é a prefeitura, é fundamentalmente o prefeito, em busca de criar uma identidade popular. à‰ uma luta contra o tempo, é uma estrutura desigual, é uma máquina de publicidade, é uma máquina de obras que está em funcionamento, e é a necessidade de criar uma boa identidade, principalmente com o servidor público.

Quais são os principais pontos de seu programa de governo?

O primeiro ponto é incentivar a desconcentração, o chamado crescimento policêntrico, que pode ser implementado com incentivos fiscais em algumas regiões, com operações consorciadas, com mudanças na lei de zoneamento. A partir daí nós vamos ter impactos em políticas de mobilidade, habitacionais e de geração de emprego. O segundo ponto, e aí o Partido Verde contribui muito, é o conceito de sustentabilidade, de economia verde, economia criativa. Isso com reflexos em todas as áreas. Proponho a transformação da Secretaria do Meio Ambiente na Secretaria do Saneamento Ambiental, para dar uma abrangência maior do trabalho que lá é realizado. Ter uma visão ousada na área de saneamento.

O que é ousar nessa área?

Ter uma fiscalização rigorosa junto com a Sanepar sobre a qualidade do sistema de saneamento da cidade. E ter uma visão de médio e longo prazo com ação de recuperação das bacias. Uma bomba-relógio em Curitiba é a questão do lixo.

O que o senhor pretende fazer com o lixo?

Se não tiver resolvido até o próximo mandato, começar uma nova licitação. Propondo a descentralização, algumas usinas, ter clareza nesse projeto com a região metropolitana, retomar as campanhas educacionais. O índice de reciclagem de Curitiba, apesar ser considerado alto, é baixo para os padrões estabelecidos: figura entre 25% e 30%.

O que mais é destaque no programa?

São três áreas prioritárias: segurança, saúde e mobilidade. O prefeito tem que assumir a responsabilidade pela segurança.

Como?

Sala de situação, gestão integrada no gabinete do prefeito. Ampliação do efetivo da Guarda Municipal. Eu lembro as promessas que foram feitas. Nós temos um efetivo próximo de 1,7 mil guardas municipais, e seria necessário, pelo menos, dobrar. Implantar a academia e permanente qualificação dos guardas. Ampliar o videomonitoramento.

O que foi prometido e o que foi realizado?

Está distante. A ampliação do sistema de câmeras é outra promessa que dificilmenteb sairá do papel até o fim da gestão. Em agosto de 2011, houve a garantia de que, até a Copa do Mundo, Curitiba terá 450 câmeras em operação. Hoje, o sistema conta com 93 equipamentos. Ou seja, são mais de 350 câmeras a ser instaladas num prazo inferior a um ano e meio.

O que acha das UPS?

A operação tem sido bem conduzida, mas, quando chega a esse ponto, é porque houve a ausência do poder público e se permitiu a consolidação do crime em determinadas regiões. São ações permanentes que a prefeitura tem que ter. Esta é uma ação preventiva, de contato com a população, trabalho social, iluminação pública, regularização fundiária, questões básicas a ser feitas na cidade.

E na saúde?

Precisa melhorar atendimento na área especializada e dar mais resolutividade nas unidades de saúde. Será necessário também pensar no aumento do efetivo com a mudança de horário de atendimento nas unidades de saúde. Quando a unidade de saúde perde a capacidade de resolução, isso está gerando uma pressão e uma concentração maior nas unidades 24 horas e nas unidades de emergência. Temos que trabalhar no consórcio com as cidades da região metropolitana, principalmente quando se fala em alta complexidade. Curitiba tem que pensar a integração com a região metropolitana. à‰ possível também descentralizar algumas decisões para algumas regionais, principalmente na questão do encaminhamento de exames.

Qual é sua avaliação sobre o projeto do metrô que a prefeitura apresentou e foi aprovado pelo governo federal?

Segundo o Lubomir Ficinski, que foi diretor da Urbs, há uma superestimativa com relação ao número de usuários. A prefeitura trabalha com quase 100 mil usuários a mais, por dia, do que a Urbs controla. Outro dado importante é saber qual vai ser o modelo jurídico-financeiro, porque é uma concessão de, pelo menos, 30 anos. à‰ bom lembrar que o sistema apresentado vai atender no máximo 15% dos usuários, e nós temos 85% que vão subsidiar esse sistema. à‰ importante saber esses indicadores, porque isso vai ter um impacto na tarifa. O subsídio anual poderá ficar próximo de R$ 120 milhões.

A prefeitura pode bancar esse subsídio?

Não, não tem recurso para isso. E é evidente que esse recurso vai ter que sair de algum lugar. Por isso que a equação financeira é importante, é importante ver o edital, porque é claro que isso tem que estar lá na projeção de estimativa de usuários. A diferença vai ser subsidiada em 20 centavos. à‰ evidente, o calendário eleitoral gera essa pressão. à‰ a primeira vez que o governo do Estado vai repassar recurso para subsidiar o sistema. Isso tem um custo de até R$ 60 milhões até a eleição. Isso é bom colocar já como um dos custos indiretos desta campanha, que seguramente vai ser a campanha mais cara da história de Curitiba: R$ 60 milhões só para evitar o aumento da tarifa, que geraria um impacto muito negativo em Curitiba.

Como é disputar uma eleição nestas condições?

Eu estou há 17 meses sem cargo público, não tenho ninguém no governo, não tenho nenhuma estrutura de comunicação, minha família não tem emissora de TV ou de rádio, não tenho nenhuma estrutura econômica por trás de mim. Mas acho que isso de alguma maneira se sustenta. Porque faz 14, 15 meses nas pesquisas divulgadas até agora, sempre mantendo uma boa avaliação. Vejo hoje o que aconteceu no Estado: fadiga. E essa é a dificuldade que a estrutura está tendo em dar projeção ao candidato da situação. à‰ a primeira vez que nós temos, a três meses das eleições, três candidatos com indicativo de segundo turno. Historicamente, sempre tivemos o prefeito candidato à  reeleição, ou o candidato do prefeito, numa situação favorável. à‰ um sinal de que a população está buscando uma alternativa.

Como deputado, o senhor foi crítico do PT e atuou na CPI do Mensalão. O acordo com o PT agora não prejudica?

Fiz a opção desse recomeço, sempre deixei claro que cada um é guardião da sua história e das suas convicções. Eu não renego nada do que eu escrevi, do que eu falei anteriormente. Mas começamos um esforço imenso para estabelecer uma condição mínima de candidatura, de tempo de televisão, de rádio. Isso é importante numa aliança.
O PDT tem um minuto, e agora, com essa aliança que envolve o PV e o PT, deve chegar próximo de seis minutos. Do PT, o que vem de positivo? Toda aliança, todo diálogo, tem se dado com o PT sob a liderança da Gleisi. Ela representa bem uma nova postura de liderança no Paraná, e uma nova postura dentro do PT. A nossa aliança permite sinalizar ao eleitor a capacidade de diálogo. E permite esse canal e esse diálogo com o governo federal, em especial com a presidente Dilma. Isso vai ser fundamental em Curitiba. Boa parte dos investimentos na cidade são recursos do governo federal.

O senhor será cobrado pela aliança na campanha. Está preparado para esse embate?

Eu estou em paz. Acho que as pessoas conhecem como se deu essa aliança. Há um calendário, uma expectativa, há uma pressão. Eu estou seguindo em frente, fazendo uma aliança, não estou mudando a minha história. Nenhuma dessas pessoas, ao que eu saiba, participou de nenhum ato de desvio vinculado ao chamado mensalão. Eu acho que dei uma grande contribuição em ajudar a trazer a público essas informações. Uma coisa é a crítica, eu entendo, tenho que enfrentá-la, e quero que aquele eleitor que tenha uma postura de opinião e de lógica entenda as minhas razões. Agora o que eu não vou alimentar é a tentativa de desqualificação de ordem pessoal.

O apoio do PT, que tem o governo federal nas mãos, não o coloca em posição de igualdade em termos de estrutura com o prefeito Luciano Ducci?

Não, e aqui eu estou dando um depoimento de quem vive a política. São estruturas distantes, diferentes, não têm esta agilidade que tem a máquina municipal. O fornecedor está aqui, o doador está aqui, as placas estão aqui. Curitiba deve ter de 20 a 30 doadores. A relação deles não é com o governo federal, é com a prefeitura.

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