Em editorial, Estadão diz que torce pela ‘ema’ que bicou Bolsonaro

O Estadão “destoou” do acordão feito entre a velha mídia, o centrão –leia-se Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre– para salvar o mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas preservou a maledetta “Pauta Guedes” para bem da casta.

Em editorial desta sexta-feira (24), o jornalão vê tragédia sanitária, mas finge-se de cego para a tragédia econômica cujo resultado potencializa os efeitos da pandemia do novo coronavírus para a população mais vulnerável do país.

O Estadão, a exemplo de seus parceiros de corporação –vide Folha, Globo, Veja, et caterva– blinda o ministro da Economia, Paulo Guedes, um sujeito tão genocida quanto Bolsonaro.

Só faltou o editorial do Estadão dizer que torce pela ema que bicou Bolsonaro ou, ao se referir ao povo, cravar: ‘ema, ema, ema, cada um com seus problemas’.

Sofrível a opinião de um jornal de 145 anos, fundado em 1875, que abrigou dentre seus repórteres Euclides da Cunha e tantas outras sumidades da literatura brasileira.

Pensamento estreito e limitado que, infelizmente, retrata a pobreza intelectual nesses tempos de Bolsonaro e neoliberalismo.

Economia

Leia a íntegra do editorial do Estadão:

A tragédia dentro da tragédia

Se a Nação padece dos severos efeitos da pandemia além do que seria naturalmente esperado, é porque o governo do presidente Jair Bolsonaro foi incompetente para lidar com a crise ou pautou suas decisões por critérios antirrepublicanos. Não há outra conclusão a que se possa chegar após a leitura de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a gestão da emergência sanitária pelo governo federal.

O foco inicial da fiscalização do TCU eram as compras feitas pelo Poder Executivo durante o estado de calamidade pública. No entanto, “dificuldades e preocupações” concernentes à gestão da crise como um todo levaram o ministro Benjamin Zymler, relator do processo na Corte de Contas, a expandir o escopo de análise com o objetivo de “sugerir” ao Ministério da Saúde (MS) alguns “apontamentos para correção de rumos”, a começar pela atuação do Comitê de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE). Para o ministro Zymler, uma das principais unidades da estrutura de governança do MS para o enfrentamento da pandemia, se não a principal, “parece não estar exercendo o papel de articulação e coordenação (que lhe cabe) na prática”. O ministro foi elegante na crítica.

O TCU também destacou o “enfraquecimento da função de comunicação” do governo com a sociedade pelo fim das coletivas de imprensa diárias, o que configura uma violação do Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus. Sem o norte dado pelo poder central, tanto a sociedade como os governos locais ficam mais suscetíveis à inconsistência de informações sobre políticas públicas, o que, em se tratando de uma crise de saúde, é muito grave.

Mais grave, porém, é a falta de critérios técnicos claros para o repasse dos bilionários recursos da União aos entes federativos, o que sugere que motivações políticas do presidente Bolsonaro podem ter preponderado na hora de definir para onde iria o dinheiro. Os casos do Pará e do Rio de Janeiro são os mais alarmantes.

Os dois Estados estão entre os três com a maior taxa de mortalidade por covid-19 do País (31,4 e 28,1 mortos por 10 mil habitantes, respectivamente), mas estão entre os três que menos receberam recursos da União para enfrentar a pandemia. O que explica uma aberração dessas? As desavenças de Jair Bolsonaro com os governadores Helder Barbalho (MDB) e Wilson Witzel (PSC)? Será este o espírito que anima o presidente da República? É conhecido seu desdém pela gravidade da pandemia e sua diferença de visão, por assim dizer, em relação às ações de muitos governadores. Daí a ignorar a mortandade nos dois Estados e deixá-los com magros recursos vai uma enorme distância.

Até o dia 25 de junho, menos de um terço dos R$ 39 bilhões que foram alocados ao MS para enfrentamento da pandemia – ou seja, R$ 11,4 bilhões – tinha sido utilizado pelo governo. Números que traduzem um inaceitável descaso.

A má gestão pode ser mais perniciosa do que a escassez de recursos públicos. A boa administração de parcos recursos é capaz de produzir melhores resultados do que a incúria em cenário de abundância. Em situações de crise, como agora, o quadro é particularmente mais grave. No curso de uma emergência sanitária, malversação ou demora na alocação desses recursos em ações de socorro à população podem significar vida ou morte para milhões de pessoas. Diante disso, não surpreende que cada vez menos gente se mostre escandalizada pelo uso da palavra “genocídio” pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

Desafortunadamente, o País é presidido por alguém inepto como Jair Bolsonaro no momento em que enfrenta a mais mortal crise sanitária em mais de um século. Uma tragédia dentro da tragédia. Nunca se saberá ao certo qual seria a história da pandemia de covid-19 no Brasil caso o presidente fosse outro, alguém minimamente cioso de suas responsabilidades, empático e capaz de inspirar e liderar seus concidadãos nesta hora grave. À Nação só resta refletir, amadurecer e evoluir no processo de escolha de seus líderes. É este o curso natural da democracia.

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Entregadores de aplicativo fazem nova greve de 24h neste sábado

Entregadores de aplicativos de todo o Brasil estão organizando uma nova paralisação de 24 horas neste sábado, dia 25 de julho, e prometem que greve será maior do que a do dia 1° julho último. Eles reivindicam melhores condições de trabalho, segurança e um valor maior e mais justo pelas entregas.

A mobilização do próximo sábado é uma resposta ao silêncio das operadoras, como Rappi, Ifood, Loggi, Uber Eats e demais, que não negociaram até agora nenhuma das reivindicações, explica um dos organizadores do “breque dos App”, Diógenes Silva de Souza. Segundo ele, as empresas se limitaram a comunicar, por meio à imprensa, que estão garantindo equipamentos de segurança.

“Soltaram nota na imprensa dizendo que fornecem álcool em gel e máscaras e que ajudam o motoboy, mas não é o que vemos na rua”, afirma Diógenes.

Ele reforça que o aumento do valor por quilômetro rodado, o fim dos bloqueios indevidos e sem direito a defesa do trabalhador, o fim do sistema por pontuação e ranking, que obriga o motoboy a trabalhar nos horários que os aplicativos querem, nem foi citado, negociado ou, ao menos, colocado em pauta para ser negociado com a categoria.

O breque dos apps
A mobilização do próximo sábado está sendo organizada em diversos estados no país como forma de sensibilizar as plataformas para as condições precarizadas de trabalho dos motoboys em todo o Brasil.

Diógenes diz que a paralisação do próximo sábado terá uma “imagem” diferente da anterior. “No dia 1°, juntamos muitos motoboys, fizemos carreatas, conseguimos chamar a atenção na mídia e da população. Essa segunda manifestação, talvez, para a mídia e para o público, pareça diferente, pareça menor”.

Isso porque, segundo Diógenes, o método da próxima paralisação será com parada dos trabalhadores nos pontos de coleta, como os restaurantes, shoppings e outros estabelecimentos conveniados aos aplicativos e, assim, bloquear efetivamente a retirada de pedidos dos lugares.

“A gente parava, mas fazia passeata e o pessoal voltava a fazer pedidos e isso fez com que os aplicativos não sentissem tanto. Agora, vamos evitar a coleta o dia inteiro. O visual não vai ser tanto, mas a paralisação será mais efetiva”, ele diz.

Acelera, Rubinho
Questionado sobre o dia-a-dia cansativo e estressante de um motoboy, Diógenes Silva contou sua própria experiência no trabalho mal pago e cansativo.

“Uma coisa que as pessoas não sabem é que a partir do momento em que eu aceito o pedido, tenho um tempo para entregar. Sou obrigado a chegar ao destino em um horário pré-determinado, e se não chegar, perco o pedido, não ganho e ainda fico uma hora parado. O App obriga o motoboy a correr”, ele relata se referindo aos riscos que a categoria corre no trabalho diário.

Frequentemente, ele diz, se o motoboy demora a entregar o pedido ele é punido, mesmo não tendo responsabilidade sobre o problema que causou a demora. “Se a restaurante demora para aprontar o pedido, o App culpa o motoboy. Tudo sobra para gente e não temos como nos defender”, critica o trabalhador.

Diógenes conta que um entregador foi bloqueado porque simplesmente pediu mais de uma vez informações para o próprio aplicativo sobre o caminho que deveria fazer para buscar a entrega.

Esse também é um dos motivos da mobilização, ou seja, mais respeito ao trabalhador, afirma Diógenes. “Eles querem que você faça o mais rápido possível, sem se preocupar com segurança e ainda pagando muito pouco pra gente”.

Mais exploração
As operadoras de aplicativos, em nome da modernização e da prestação de serviços, criaram novos sistemas de entrega, aumentaram o leque de opções aos clientes. Se por um lado, o cliente tem mais comodidade, por outro lado, o preço é pago pelos trabalhadores.

Ifood e Rappi já oferecem um serviço de entregas de compras, em que o cliente seleciona produtos que quer receber e quem faz a compra é o próprio motoboy, que perde ainda mais tempo tendo que fazer as compras, não recebe nada por isso e se houver um mínimo erro, como um produto diferente da lista, ele é que será punido.

“Eu tenho que fazer as compras e levar para o cliente. A gente assume responsabilidade maior. Se errar, eu sou punido”, ele diz, que complementa: “A gente gasta uma hora fazendo compras para ganhar 7 ou 8 reais pela entrega. É um absurdo”.

Reivindicações
Os trabalhadores e as trabalhadoras de aplicativos reivindicam o fim dos bloqueios injustos de entregadores, ou que tenha um canal de defesa, aumento na taxa mínima nacional de entrega com reajuste anual, seguro contra roubo e furto, de acidente e de vida, uma base de apoio para descanso e alimentação e o fim a pontuação e ranking do aplicativo, que obriga o trabalhador fazer a jornada que o aplicativo quer, o que, segundo eles, tira a autonomia da categoria.

Os trabalhadores têm tentado dialogar com representantes das empresas, mas sem sucesso.