Diálogos encontrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelam detalhes perturbadores de planos golpistas. A Polícia Federal analisou os aparelhos de pessoas ligadas diretamente ao ex-presidente e a militares de alto escalão, e suas descobertas são preocupantes.
Aqui você lê a íntegra do relatório da PF sobre a perícia do celular de Mauro Cid, cujo sigilo foi levando nesta sexta-feira (16/6) pelo ministro Alexandre de Moraes.
Segundo a Revista Veja, um dos diálogos entre Cid e o coronel Jean Laward Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, destaca-se. A conversa ocorreu nos dias que antecederam o fim do mandato de Bolsonaro e contém frases como “O presidente vai ser preso”, “Ferrou, vai ter que ser no voto”, “Pelo amor de Deus, faz alguma coisa” e “Convença o 01 a salvar esse país”.
Surpreendentemente, Lawand e Mauro Cid continuaram em contato mesmo após a derrota de Bolsonaro nas urnas, no final de 2022. Durante esse período, o coronel pressionou repetidamente por um plano para “salvar” o país e por medidas práticas para contestar o resultado das eleições.
Ao ser procurado pela revista, o militar alegou ter uma relação de amizade com Cid, com quem apenas conversava sobre “amenidades”. O Exército Brasileiro emitiu uma nota afirmando que “opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força”.
Lawand, que foi nomeado pelo governo Lula para assumir o cargo de representante militar nos Estados Unidos, afirmou não se lembrar de nenhum diálogo com teor golpista. O general Rosty também relatou não recordar de conversas semelhantes.
Vale ressaltar que Mauro Cid está atualmente preso desde o início de maio, em decorrência de uma operação da Polícia Federal que investiga fraudes em cartões de vacina. Seu telefone foi apreendido durante a ação.
Esses diálogos chocantes entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e o coronel revelam uma trama preocupante. Os detalhes dessa história, bem como as reações no Exército, podem ser encontrados no Blog do Esmael. Descubra mais sobre os planos golpistas e veja os diálogos.
Diálogo entre o coronel Lawand Junior e Mauro Cid no dia 1º de dezembro:
– Cidão [Mauro Cid], pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele, cara. Se os caras não cumprirem, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprirem a ordem do… do comandante supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um general, que não recebeu, que não aceitou a ordem do comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara. Na Papuda, porque até isso aquele filho da puta quer tirar dos caras. O direito de ser preso é.. prisão especial com curso superior. Vai tirar, Cid. Temos que pensar, cara. Não podemos ser agora racional, não. E… emotivo. Tem que ser racional, cara, pelo amor de Deus – falou o subchefe do Estado Maior do Exército.
– Mas o PR [Bolsonaro] não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE”, disse o tenente-coronel Cid, se referindo ao Alto-Comando do Exército.
– Então, ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo – rebateu Lawand.
Mensagem enviada por Lawand a Cid no dia 2 de dezembro:
– Meu amigo, na saída do QG encontrei com o Rosty. Foi uma conversa longa, mas para resumir, se o EB receber a ordem, cumpre prontamente. De modo próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então está nas mãos do PR – falou o coronel, se referindo ao Exército Brasileiro como EB e ao presidente por PR.
Troca de mensagens no dia 12 dezembro:
– Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB não está com ele, de divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”, escreveu o militar.
– Muita coisa acontecendo. Passo a passo – respondeu Mauro Cid, ao que Lawand respondeu: – Excelente!
Mensagens trocadas no dia 21 de dezembro:
– Soube agora que não vai sair nada. Decepção, irmão. Entregamos o país aos bandidos – fala o subchefe do Estado Maior do Exército.
O tenente-coronel Mauro Cid responde: – Infelizmente.
Outras mensagens trocadas entre eles:
– Convença o 01 a salvar esse país! – enviou Lawand.
Cid responde:
– Estamos na luta!
Aqui você lê a íntegra da nota do Exército:
“Atendendo à sua solicitação de informações sobre trocas de mensagens entre o Coronel Jean Lawand Junior e o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, Tenente-Coronel Mauro Cid, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que:
Opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força. Como Instituição de Estado, apartidária, o Exército prima sempre pela legalidade e pelo respeito aos preceitos constitucionais. Os fatos recentes somente ratificam e comprovam a atitude legalista do Exército de Caxias.
Eventuais condutas individuais julgadas irregulares serão tratadas no âmbito judicial, observando o devido processo legal. Na esfera administrativa, as medidas cabíveis já estão sendo adotadas no âmbito da Força.
Em relação à função do Cel Lawand, citado na matéria da Revista Veja como Subchefe do Estado-Maior do Exército, este Centro esclarece que o referido militar serve no Escritório de Projetos Estratégicos do Estado-Maior do Exército.
Por fim, consciente de sua missão constitucional e do compromisso histórico com a sociedade brasileira, o Exército reafirma sua responsabilidade pela fiel observância dos preceitos legais e preservação dos princípios éticos e valores morais.”
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