Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil por palestra em empresa citada na Lava Jato

Uma nova reportagem da Folha e do Intercept, nesta sexta-feira (26), amplia a temperatura em Brasília e nos meios políticos. Segundo a matéria publicada na Folha, o procurador Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil por uma palestra da empresa de tecnologia Neoway citada nas delações da Lava Jato. Esta é o primeiro novo vazamento de diálogos da força-tarefa após a prisão de 4 supostos hackers, acusados de invadir celulares de autoridades.

No domingo (14), a Folha e o Intercept já haviam publicado reportagem sobre o lucrativo mercado de palestras de Deltan, de membros da força-tarefa, como o também procurador Roberson Pozzobon, e do ex-juiz Sérgio Moro. Agora, o que é mais grave, é o coordenador da Lava Jato receber dinheiro de uma empresa citada na dita cuja em março de 2016.

Deltan, além de ser contratado pelas palestras, segundo a Folha e o Intercept, ainda atuava como “relações públicas” da empresa de tecnologia a ponto de aproximar outros procuradores. A Neoway foi citada na delação de Jorge da Luz que afirmou ter atuado em favor dela junto à BR Distribuidora, braço da Petrobras, privatizada esta semana pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

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O enredo com as lucrativas palestras de Deltan, nesse caso da Neoway, envolve também outras personagens o então deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o atual deputado Vander Loubet (PT-MS). Os dois petistas fizeram a ponte entre a Neoway e a BR e Deltan fez a ponte entre os procuradores e a Neoway, segundo a reportagem assinada pelos repórteres Flavio Ferreira, da Folha, Amanda Audi e Leandro Demori, do The Intercept Brasil.

Quatro meses depois da palestra de R$ 33 mil, de acordo com os diálogos divulgados hoje, Deltan Dallagnol teria percebido que recebeu dinheiro de uma empresa citada na Lava Jato. “Isso é um pepino para mim”, escreveu num chat para outros procuradores. “É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a Lava Jato) porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia de compliance e due diligence“, previu o coordenador da força-tarefa.

Deltan jura aos demais procuradores, no chat do Telegram, que jamais imaginaria que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada.

Apesar a mea culpa de Deltan Dallagnol, pela palestra à empresa citada na delação em 2016, o procurador comemorou a realização da palestra para outro grupo de procuradores em 2018.

“Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele: [link para texto sobre Jaime de Paula]. A neoway é empresa de soluções de big data que atende 500 grandes empresas, incluindo grandes bancos etc”, digitou Deltan.

Deltan Dallagnol, o garoto-propaganda da Neoway

O coordenador da Lava Jato não só recebeu pelas palestras e aproximou procuradores da empresa de tecnologia. Ele fez mais. Gravou este vídeo (texto) em favor da companhia:

“A tecnologia é essencial para nós podermos avançar contra a corrupção em investigações como a Lava Jato, por exemplo. Hoje nós lidamos com uma imensa massa de dados, uma imensa massa de dados em investigações, uma imensa massa de dados que podem ser usados para avaliar potenciais fornecedores ou clientes, e fazer due diligence. Isso nos faz precisar, se nós queremos investigar melhor, tanto no âmbito público como no privado, a usar sistemas de big data“, testemunhou.

Ou seja, a Lava Jato utilizava produtos e tecnologia de uma empresa citada em delação premiada da Lava Jato.

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