No dia 29 de março de 2023, a cidade de Curitiba completará 330 anos de história. A data será celebrada com diversas atividades culturais e eventos oficiais, mas por trás da propaganda milionária que exalta a cidade como modelo de desenvolvimento e qualidade de vida, há uma realidade que a mídia muitas vezes esconde.
Curitiba, assim como muitas cidades brasileiras, sofre com a desigualdade social, o desemprego e a violência. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Curitiba é considerado alto, mas há bairros onde as condições de vida são precárias, como é o caso do Tatuquara, onde falta infraestrutura básica como água encanada e saneamento.
Além disso, a cidade tem uma das maiores taxas de feminicídio do país, com uma média de uma mulher assassinada a cada duas semanas. A população negra também é alvo de violência policial e racismo institucionalizado, como foi evidenciado recentemente pelo caso do músico negro, o Neno, espancado em uma rua central.
A cidade também enfrenta um problema crônico de mobilidade urbana, apesar da fama do sistema de transporte público, com engarrafamentos diários e falta de investimento em ciclovias e pedestres. E a qualidade de vida é inacessível para muitos, com um custo de vida elevado e um mercado de trabalho competitivo que favorece apenas uma minoria.
Além dessas questões, é importante destacar também o preço caríssimo da passagem de ônibus em Curitiba. Atualmente, a tarifa custa R$ 6, valor muito acima do que é cobrado em outras cidades brasileiras, o que torna o transporte público inacessível para muitas pessoas.
A falta de políticas habitacionais também é um problema grave em Curitiba, e isso tem levado à ocupação de áreas urbanas, como a Comunidade Tiradentes II, onde centenas de famílias vivem em condições precárias, sem acesso a serviços básicos como água e saneamento, com a área ainda sendo disputada com uma empresa de lixo.
Curitiba é bela, sim, com seus parques, prédios históricos e uma arquitetura moderna e ousada. Mas não se pode esquecer das mazelas que a cidade enfrenta e que afetam a maioria da população. É preciso olhar para além da propaganda e enfrentar os problemas reais que a cidade enfrenta, buscando soluções para tornar Curitiba uma cidade verdadeiramente justa para todos os seus 2 milhões de habitantes.
Jardim Botânico materializa o “belo” e o “injusto” de Curitiba
Uma figura que poderia simbolizar o “belo” e o “injusto” em uma cidade como Curitiba seria o Jardim Botânico. O Jardim Botânico é um dos cartões-postais mais conhecidos da cidade, com sua estufa de vidro que abriga diversas espécies de plantas e flores exóticas, além de um jardim francês bem cuidado.
Porém, ao mesmo tempo em que o Jardim Botânico representa a beleza da cidade, ele também pode simbolizar a injustiça social. Isso porque, apesar de ser um espaço público e acessível, muitas pessoas não têm condições financeiras para desfrutar dele, seja por falta de dinheiro para o transporte ou mesmo para comprar alimentos e bebidas que são vendidos no local.
Além disso, o Jardim Botânico está localizado em uma região nobre da cidade, rodeado por condomínios de luxo e prédios comerciais, o que contrasta com a realidade de muitos bairros periféricos que enfrentam problemas como falta de saneamento básico, violência e falta de serviços públicos essenciais.
Assim, o Jardim Botânico pode ser visto como um símbolo de como a beleza e a injustiça podem coexistir em uma cidade como Curitiba, que ainda precisa enfrentar desafios sociais e econômicos para garantir uma vida digna para todos os seus habitantes.
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Sou de Curitiba e vivo há mais de 10 anos em outra capital do nordeste.
Sou do boqueirão, bairro nada elitista.
Curitiba tem muitas mazelas, como qualquer grande cidade, mas afirmo que mesmo assim está infinitamente na frente de qualquer capital no quesito de programas sociais. Aqui onde moro não há NADA parecido com o que a FAS desenvolve. Nada de restaurantes populares. A ajuda aos necessitados vem de ONGs e igrejas apenas. Parques? Inexistentes. Se está difícil frequentar o jardim botânico, lindo e com entrada franca, imagine viver num lugar onde as praças são cuidadas por construtoras ou pelos moradores que pagam para empresa terceirizada para limpar o espaço público, mesmo pagando IPTU de 3.800 para morar em apartamento de 130 metros . Se quiser confirmar tudo o que eu disse, visite Maceió e começará olhar Curitiba e sua gestão com outros olhos. Sobre coleta de lixo reciclável, a prefeitura aqui não se responsabiliza e restos de obras residenciais são transportados por carroças com cavalos desnutridos pq nem isso foi proibido ainda. Eu falava mal das mazelas de Curitiba, hoje procuro ver o quanto é diferenciada nos programas sociais e na parte da sustentabilidade e torço para que outras capitais copiem seus programas.