Cupins são os únicos a frequentar biblioteca na capital

por Osny Tavares, na Gazeta do Povo

Segundo vizinhos, muitos estudantes ainda procuram a biblioteca, mas se deparam com as portas fechadas. Foto: Antônio More/Gazeta do Povo.
O único material de leitura disponível na biblioteca Franco Giglio, no Campina do Siqueira, em Curitiba, é uma revista deixada no vão da porta pelo carteiro. Na conhecida casa amarela, que nos últimos 30 anos havia se consolidado como um prolífico espaço cultural comunitário, as janelas estão lacradas e o mato começa a cobrir as calçadas. Há seis meses, o espaço cultural foi fechado pela prefeitura de Curitiba com a promessa de passar por uma reforma. As obras, no entanto, ainda não iniciaram. E tampouco há previsão de começarem.

Segundo o que apurou a Gazeta do Povo, a biblioteca !“ que integra o projeto Casas da Leitura, da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) !“ foi fechada por ter problemas com cupins. Além disso, existiria um imbróglio sobre a forma como a casa está legalmente constituída, o que impediria o espaço de receber recursos para a reforma. Uma nota publicada em janeiro no site da Fundação informava que a biblioteca tinha sido temporariamente fechada para reformas!, e que o acervo foi transferido para outras unidades da FCC. O texto não informava que tipo de trabalho estava programado (atualização de acervo, implantação de tecnologia, reparos na estrutura) nem os prazos de execução. Procurada pela reportagem, a Fundação Cultural não respondeu até o fechamento desta edição.

Procura

De acordo com vizinhos da Casa Franco Giglio, localizada na Rua Jerônimo Durski, o público !“ predominantemente de crianças e adolescentes !“ continuava a procurar o local, mas a frequência diminuiu ao longo dos anos. Fundada em 12 de outubro de 1982, a biblioteca recebe o nome de um artista plástico italiano radicado em Curitiba, ex-morador do imóvel. Sua esposa, Rose Giglio, foi a doadora do casa e ministrou aulas de história da arte durante os anos 1980.

Uma das primeiras frequentadoras foi a professora e pedagoga Andréa Caldas, que hoje é diretora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná. Ela lembra que as tardes passadas na biblioteca do bairro foram fundamentais para a sua formação cultural e profissional. Ofereciam muitas atividades à s quais não tínhamos acesso na época. A biblioteca acabou virando um espaço de encontro e desenvolvimento para todas aquelas crianças!, avalia.

Economia

O fechamento, ainda que temporário, ocorre no momento em que os programas de formação de leitores enfrentam forte concorrência da internet. A estudante e ex-frequentadora da biblioteca Raphaela Santos, 15 anos, exemplifica o dilema: Eu ia toda semana e pegava livro, agora leio mais pela internet. Rede social, sabe? Ainda continuo com os livros. Este ano li dois!, contabiliza.

Entretanto, a adolescente também atribui o desânimo em frequentar o espaço à  falta de entrosamento com os profissionais. A bibliotecária, que ficou aí bastante tempo, era legal. Depois começou a mudar muito [de funcionário]. Gostaria que reabrisse e que ficasse alguém interessado em cuidar!, desabafa.

Prejuízo

Para a pedagoga Andréa Caldas, a interrupção no atendimento causa um prejuízo no longo prazo, por desfidelizar os jovens leitores. As bibliotecas locais são fundamentais. à‰ uma forma de complementar a escola, pois estou convencida de que apenas a grade normal não dá conta de repassar todos os conhecimentos. A leitura já não é um hábito, e quando se interrompe um trabalho no meio, fica mais difícil dar prosseguimento!, alerta.

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