Coluna do Reinaldo de Almeida César: A dura realidade das polícias do Paraná

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Em sua coluna desta quarta-feira, Reinaldo de Almeida César relembra o período da redemocratização, em que o Paraná viveu uma época “de ouro” na política, e tinha um dos times de jornalistas mais competentes do cenário nacional trabalahndo no Jornal Folha de Londrina. Ele puxa por essa memória para comentar uma matéria recente do mesmo jornal que honra os “bons tempos” e o bom jornalismo, mostrando a crise de desestruturação enfrentada pelas polícias do Paraná. Leia, ouça, comente e compartilhe.

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Reinaldo de Almeida César*

Num tempo de ouro da política do Brasil e do Paraná, em plena redemocratização, o jornal Folha de Londrina tinha um timaço de jornalistas de primeira linha, que poderiam ter assinado editoriais em qualquer jornalão do mundo.

Sob o olhar atento do divertidíssimo João Milanez e sempre com a atenta percepção dos irmãos Maccarini, a partir da sede de Londrina até o imóvel que abrigava a sucursal de Curitiba na rua Augusto Severo, um grupo de jornalistas geniais cravou um marco no que houve de melhor na mídia impressa do Paraná, transformando um jornal de âmbito municipal em referência no jornalismo nacional.

Lembro-me de como li e reli tantos textos tamborilados pelo talento de Nilson Monteiro, Luis Geraldo Mazza, Pedro Arlant, Malu Maranhão, Sandro Guidalli, Vanderlei Rebello, Tereza Martins, Thomas Trauman, Deonilson Roldo e do doce poeta Zeca Correa Leite.

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Economia

Esse espírito do bom jornalismo, livre de amarras, liberto das verbas oficiais e, por isso mesmo, crítico e fiel à verdade factual, às vezes ainda dá as caras por aqui.

Na semana que passou, na edição de quinta-feira, a Folha de Londrina estampou matéria de capa que honrou os melhores momentos do passado recente do jornal.

Em ótima matéria assinada por Rafael Fantin, a Folha de Londrina mostrou a dura realidade das polícias do Paraná, repercutindo estudos feitos pelo IBGE.

O Paraná tem uma temerária – para não dizer ridícula – proporção entre o efetivo policial e sua população.

Segundo a matéria da Folha, estamos à frente apenas do Maranhão.

Contra números não se briga.

Basta ler, na matéria, o que disseram dois legítimos líderes em suas corporações, o competente Coronel Cesar Alberto Souza e o aguerrido Delegado Claudio Marques Rolim e Silva, sobre as agruras vividas pelas forças policiais que representam.

Com base em dados oficiais, esta coluna já havia apresentado para reflexão, aqui no Blog do Esmael, em 22 de abril de 2015, a dura realidade que desmente a propaganda oficial. O governo conta só um pedaço da história ao dizer que contratou 10.000 policiais. Nunca informa quantos policiais saíram, ao longo dos últimos 5 anos.

Até abril deste ano, na PM, foram admitidos 655 (2011), 2581 (2012), 2577 (2013), 215 (2014) e 11 (2015) novos policiais e bombeiros militares.

Na via oposta, deixaram a corporação 787 (2011), 1198 (2012), 856 (2013), 800 (2014) e 216 (2015).

Isso resulta dizer que, na atual gestão, 6093 policiais militares ingressaram e o expressivo número de 3857 policiais deixaram a corporação.

O saldo, até abril de 2015, é de apenas 2236 novos policiais militares, número muito longe do apresentado pela propaganda oficial, que fala em 10.000 novos policiais.

Na polícia civil, o quadro não é diferente. Corra os municípios do Paraná, e veja onde consegue achar um único policial civil e, se conseguir a proeza, pelo menos um delegado.

Um bom exercício, em 2018, será fazer o cotejo de entrada e saída nos efetivos da PM e da Polícia Civil, quando o governo baixar a cortina e encerrar o espetáculo, como diria Fiori Gigliotti, nas ondas da Radio Tupi, esta uma outra reminiscência de belos e velhos tempos.

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Já defendi a PM, por aqui, quando adiou a conclusão do inquérito que apura os fatos ocorridos no massacre de 29 de abril.

Mas, começa a ficar estranho esse adiamento indefinido da entrega das conclusões.

Acaba dando margem às mais diversas ilações e empina em voos altos e livres as versões, que talvez comecem a se sobrepor aos fatos.

Já ouvi até notícia de que teria havido constrangimento de autoridade, reduzindo-lhe o pleno poder, pela desleal apresentação de registro de troca de mensagens em celulares, na véspera dos fatos. Teria havido “capitis diminutio” pelo Centro Cívico ? Não acredito.

Continuo apostando minhas fichas na isenção da investigação da PM.

Espero estar certo.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.

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