Coluna do Rafael Greca: Curitiba; educar, civilizar, é preciso

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Em sua coluna semanal, Rafael Greca (PMN) fala da educação pública em Curitiba, e do descaso da atual administração municipal com a área. Perto do fim de seu mandato, Gustavo Fruet (PDT) ainda não cumpriu a promessa de destinar 30% do orçamento municipal para a educação. Greca também relembra seus feitos no setor quando foi prefeito da cidade nos anos 90. Leia, ouça, comente e compartilhe.

Rafael Greca*

Educação, com o irrestrito apoio a creches, escolas e professores, é a única porta do Futuro. Comigo, isto não é retórica. É história de vida. Os professores do Paraná sabem disso.

Falo, não pelo que já fiz, mas pelo muito que ainda posso contribuir. Não podemos condenar nossos piás e meninas a serem iletrados e incapacitados. Educar, civilizar, é preciso.

A Prefeitura atual ainda não cumpriu a promessa de sua campanha (PT-PDT 2012) de destinar 30% à Educação Pública. Promessa feita quando seus titulares ostentavam a estrela vermelha da Lava Jato no peito, enquanto se gabavam de serem os únicos com o apoio do PT. Apoio almejado e até disputado na Justiça com o então candidato Ducci.

Agora, no último ano do mandato, tentam requentar a promessa. Esquecem que os brasileiros – da enganosa Pátria Educadora – já sabem: o orçamento anunciado não é orçamento efetivado.

Tudo continua promessa. Como disse o celestial Leminsky, num de seus poemas musicais: “precisava não, promessa demais.”

Economia

Triste prefeito infrutífero. Imóvel, esperando que a solução caia dos céus. Como se a chuva copiosa desta primavera pudesse disfarçar lágrimas derramadas pelo tempo perdido.

Neste tema, todo prefeito precisa ter Entusiasmo. Prefeito tem que ser educador nato. Pedagogo cívico. Mestre de civilização e urbanidade. Autoridade com Entusiasmo e Educação grafados com “E” maiúsculos.

Curitiba tornou-se a admirável cidade modelo que a ONU destacou com o Prêmio Mundial do Habitat (1996) num momento econômico tão difícil quanto o atual.

Creio que podemos voltar a sê-lo, apesar dos atuais contratempos passageiros e da atual gastança contraproducente.

Nossos antepassados tiveram a prudência de transmitir, de geração em geração, as Lições Curitibanas que aprenderam. Assim repassavam a cidade “maior e mais bela do que recebiam”, conforme o juramento socrático e pitagórico dos Jovens Atenienses.

Lamentável que esta tradição, ensinada ao mundo pelos gregos, de “transmitir a cidade maior e mais bela do que a recebemos”, esteja atualmente ameaçada.

Os curitibanos – mais do que qualquer outro povo – sabemos que todo cuidado com a Educação é pouco.

Somos no Brasil a terra da didática, berço de professores memoráveis que ensinavam para além da sala de aula e do dever de casa, ensinaram nosso povo a gostar de aprender e, mais do que isso, ensinaram a tolerância e o respeito como princípios que asseguram a todos o melhor convívio social.

Caberia a atual Prefeitura consolidar esta nossa indiscutível tradição educadora, mas não o fez.

Creio ainda há tempo para retomar políticas e esforços sociais que promovam a inovação permanente que nos transformou em pioneiros reluzentes para o Brasil.

Já falei e repito, quando Curitiba vai mal, o Brasil vai de mal a pior. É preciso repensar, retomar, refazer para reconstruir, e…. Construir, para fazer de novo.

Já deputado engajado na luta dos professores, no ato de abrir os portões da Assembleia, quando salvei a vida da professora Nelci Fritzen e seus colegas, naquele triste 30 de agosto de 1988, fui depois um prefeito comprometido com a Educação. Empenhei, entre 1993-1996, muito mais do que 30% do orçamento municipal na Educação, num processo de arte-educação por geo-identidade.

Faz 20 anos, adotamos em Curitiba o ensino por “Geo-Identidade”, hoje em voga nas escolas da Europa e EUA, Austrália e Nova Zelândia.

Editamos, em 1994, a coleção “Lições Curitibanas”, pedagogia de construção coletiva dos professores da Prefeitura, desenhada pelos geniais Miran e Márcia Széliga. Eram dez volumes impressos em papel Bíblia, um exemplar para cada aluno e professor da rede pública municipal: 3 para o 1º ano, 3 para o 2º ano, 2 para o 3º ano, 2 para o 4º ano. Ensinavam a Ler, Escrever, Contar, e Amar a Cidade natal. Isto é Geo-Identidade.

Fizemos mais: intenso programa de arte-educação da Linha Pinhão, das Linhas do Conhecimento e Casas do Piá; e ainda 45 Faróis do Saber — primeiras lan houses públicas acopladas a bibliotecas de 5 mil livros, luzes acesas na porta das escolas públicas. E nestes tempos de violência urbana, cabe destacar comentários que cada Farol ajudou a reduzir em 1/3 a criminalidade no entorno. A mão que abre um livro, não assalta. Os Guardas Municipais de vigia, na porta da Escola, protegem as crianças, as famílias, os bairros.

Conseguimos manter com um orçamento muito inferior ao atual, e ainda em tempos de crise econômica, 122 escolas, 38 delas com ensino integral. E mais: 6 escolas de educação especial; 1 centro de Reeducação Visual; 5 centros de atendimento educacional especializado; além de um Laboratório de Ensino e Aprendizado. No ano de 1996 tínhamos 91 mil alunos, em 2.999 turmas, de 30 alunos cada. Criei, via FAS, 55 Liceus de Ofícios voltados à economia criativa. Chegamos a formar 20 mil profissionais por ano.

Usamos as datas cívicas e religiosas para sensibilizar a população para a Música, a Dança e as Artes Cênicas. Em espetáculos como o Natal de Luz /Cenas da Pátria Brasileira/Memória Curitibana: 300 anos de Luz/ Festas de São Francisco da Igreja da Ordem.

Educamos para a civilização e para a Urbanidade, empregando até 9 mil pessoas nas frentes de Limpeza Pública, chamadas de “Tudo Limpo”.

Na educação ambiental promovemos a troca de ingressos de Paul McCartney, Roberto Carlos e José Carreras por lixo reciclável. Também no Câmbio Verde: troca de lixo por alimentos, doces de Páscoa, brinquedos de Natal, livros didáticos e material escolar. Ação educativa civilizadora que envolveu 235 mil crianças.

Todo o processo cultural dos 300 anos de Curitiba foi um intenso esforço pela Educação: da Saúde à Ecologia, da Identidade das meninas e piás curitibanos à plena Cidadania.

Ressalto a edição do jornal didático “Curitibinha”, 200 mil exemplares mensais, distribuídos na cidade, para ensinar a ler, a escrever, a contar e a amar a Cidade de Curitiba. Os conteúdos pedagógicos traduzidos pelo traço do cartunista paranaense Marcos Vaz.

O exemplo da campanha da “Família Folhas”, leva-me a sonhar com a ideia de colocarmos de novo todos os recursos da publicidade e da cultura a serviço da Educação.

Também é Educação para a Saúde e o Respeito à Vida, o programa “Nascer em Curitiba vale a Vida”, depois chamado “Mãe Curitibana”.

Tudo fizemos, na Prefeitura (1993-1996) com a finalidade de educar e civilizar e construir o homem do amanhã, única forma de garantir uma cidade melhor. Tudo tinha uma função. Foram obras e ações de impacto transversal. A geração “Farol do Saber” tem testemunhado isso nas redes sociais e na vida profissional exitosa.

Nunca desisti da Educação. Na comemoração dos 150 anos do Paraná, em 2003, publiquei “Páginas Escolhidas”, coleção didática de História e Literatura, informei os conteúdos de cultura local na TV Paulo Freire. Encenamos a História do Paraná às portas do Palácio Iguaçu.

Neste ano de 2015 estive engajado – nas redes sociais – no apoio ao movimento dos professores contra o governador Beto Richa, a bancada do camburão, e o inominável e inaceitável bombardeio de Curitiba. Na ocasião, compartilhei minha indignação pelo sangue derramado, e mais, pela estupidez de um governo que bombardeou o Centro Cívico da sua capital. Inspirei e provoquei o então governador Requião para criar as “Bibliotecas Cidadãs” em todo o interior do Paraná.

Faz pouco, ajudei na mobilização contra o “fechamento” por alegada “economia”, de admiradas escolas públicas de Curitiba e do Paraná. A lista contemplava o Colégio Estadual Tiradentes (123 anos), o Xavier da Silva (103), e outros endereços tradicionais de ensino: Professor Cleto, Professor Brandão, Pio Lanteri de Uberaba, N.S. de Fátima do Tarumã, Dom Orione de Santa Quitéria. Parece que a sociedade venceu…. No Palácio dizem que o governador teria desistido da ideia, mas a APP denuncia que não.

Permaneço convencido que a Educação, pública e gratuita, ampla e generosa, é a única porta para o futuro. A primeira tarefa de uma comunidade prudente e atenta com o futuro é o compromisso com a educação cultural e moral, isso tem nos dito o papa Francisco, o grande pedagogo deste mundo conflitado.

A Comunicação moderna — nos últimos trintas anos — principalmente por meio do vídeo, antes escravo da televisão e agora libertado na web, apresenta um mundo de possibilidades muito maiores do que antes, onde coabitam sonhos felizes com pesadelos terríveis.

É preciso promover conteúdos que deem ênfase a vida civilizada, a uma recivilização, a um pacto de civilização, para o lindo princípio da Liberdade seja enfim somado ao princípio de Respeito e a Tolerância que nos foram ensinados.

O momento é de novas escolhas que sempre são escolhas corajosas: vamos fazer aplicativos educativos. Usaremos a tecnologia para multiplicar acessos, curtir e compartilhar Educação.

Brilhe sobre nós, a abençoada Luz dos Pinhais. A Luz que aqui ergueu o Templo das Musas. Aquela que aqui criou, no já longínquo ano de 1912, a primeira Universidade do Brasil. A Luz que nos permite sermos mais fortes do que as dificuldades.

À Educação, brava gente educadora. Longe vá temor servil. O que o Brasil não conseguir, Curitiba consegue.

*Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba, é engenheiro. Escreve às quartas-feiras no Blog do Esmael sobre “Inteligência Urbana”.

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